Interesse na vida de pessoas famosas sempre houve e sempre haverá, em maior ou menor grau. E há bom e mau jornalismo em qualquer área do trabalho de informar. O que parece estar sendo perdido, a cada dia mais, são as fronteiras e limites entre a media celebrity e outras áreas da informação.
É claro que o Ronaldinho ‘Fenômeno’ é mais que uma celebridade com curto prazo de validade e seu casamento tem valor jornalístico que ultrapassa o caderno de esportes ou a coluna social. Mas vale tanto espaço para falar de um aspecto isolado dentro de um evento maior? O que justifica um jornalão como ‘O Globo’ se dando a esse desfrute? Como entender um jornal como o Extra (cujo caráter popular não deveria justificar a falta de seriedade) publicar uma manchete falsa apenas para chamar a atenção e desmenti-la linhas abaixo? (Algo como “Cicarelli barra a própria avó”, quando a véia em questão nem fora convidada, não podendo, portanto, ser barrada, ora pois.) Cúmulo dos cúmulos, como pode o Jornal Nacional dar destaque ao fato de uma noiva convidar a se retirar de sua festa um desafeto? Só dá para entender tudo isso como mais um sintoma da Caretização da impresa, isto é: todo mundo na linha editorial da revista Caras.
Nada contra a Caras em especial – que sempre lemos e nunca compramos – mas é que nós queremos saber o que esperar ao comprar essa ou aquela publicação. Além do mais, de todo modo parece muito espaço editorial para um incidente sobre o qual faltam depoimentos de alguns dos principais envolvidos – como de resto, faltaram fotos, vídeos e registros do casório completo.
O que leva a outra suspeita: teria sido esse o motivo por trás da excessiva exploração do suposto barraco? Justificando a (e vingando-se da) falta de imagens, a imprensa direciona o zoom para a única falha do conto de fadas. Preserva a verdadeira celebridade, de quem precisa, e muito, e coloca-o à margem dos fatos, quase vítima da verdadeira megera: a modelo e jovem apresentadora em início de carreira que, alçada ao Olimpo da Fama, precisa aprender certas lições, tais como jamais dar as costas para as câmeras.
Como anunciar um noivado no Fantástico e depois casar longe de flashes e lentes? Como casar num castelo e não permitir fotos, nem de toscos celulares, nem de poderosas digitais profissionais? Ah, é assim, é? Então olha só como a gente te trata!… Satanizam e execram a cidadã, reviram seu lixo particular, divulgam querelas familiares sobre as quais ninguém pode avaliar a verdadeira extensão, responsabilidades e conseqüências; e a Bela transforma-se em Dona Encrenca. Uma das mil formas de ridicularizar e desmerecer uma mulher. Assim, a princesa vira sapa; numa versão vida real do Shrek, ao invés de a beldade embelezar o ogro, o casamento enfeia a sílfide.
Duas Fridas
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