Hipoteticamente, você, querida leitora, está acima do peso. Não importa quanto nem porquê; imaginemos apenas que este indesejado excesso acumule-se em seu abdômen de tal modo que, dependendo da roupa, da cor usada, do ângulo de visão ou da imperícia de quem olha, você possa parecer grávida (ainda que de pouco tempo, claro). Se isto desafortunadamente acontecer e alguma alma gentil lhe oferecer lugar no metrô ou no ônibus, não vacile! Sente-se. Isso, sente-se. Não se sinta derrotada, não fulmine o vivente com o olhar e nunca, jamais, recuse. Eu sei, eu sei que sua mãe ensinou você a não mentir. E também a não se aproveitar da bondade alheia. Sim, eu sei que é feio. Mas vai por mim: aceitar é melhor pra todos, ou é o mal menor. Porque se você recusa, segue-se uma cascata de eventos desagradáveis:
1) a alma caridosa insiste (porque almas dessa espécie sempre insistem);
2) você recusa;
3) a criatura percebe que você não está grávida, mas gorda, e fica passada;
4) você constata que está gorda, e fica passada;
5) pelo menos mais uma pessoa vê tudo e percebe que você está gorda e que o outro, querendo ser gentil, deu o maior fora;
6) vocês três ( se forem só 3 os envolvidos, a melhor das hipóteses) passam o restante do trajeto evitando se olhar, com aquela cara de culpado de quem solta pum silencioso;
7) você continua em pé.
É só uma hipótese, mas vai por mim: senta. Sorri, senta e enfia a cara no jornal, ou faz que tá cochilando – pra não ter que desenvolver a mentira (vai que é daquelas donas ”simpáticas” que resolve saber detalhes da gravidez?) Eu sei o que a sua mãe falou, a minha também disse o mesmo. Mas nesse caso, a sinceridade só faz deixar todo mundo vexado, com a melhor das intenções e a pior das conclusões. Senta. Dos males, o mais discreto.
Helena Costa
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