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No que se refere ao politicamente correto eu permaneço, mais uma vez librianamente, no caminho do meio de Buda. Considero-o risível e sacaneável quando imposto como padrão, servindo de instrumento de patrulha. Mas também cumpre um papel importantíssimo, porque imagens são as armas mais poderosas a minar a auto estima de qualquer grupo socialmente fragilizado – e imagens são construídas também com palavras.

Quando escrevi sobre os pioneiros a alcançar o pico do Everest, eu ia recorrer à formula pronta: ”Sir Edmund Hillary, que com o sherpa Tenzyng Norgay…” Em princípio, nada errado. Mas dei-me conta de que não havia nenhuma necessidade de dizer a etnia de Tenzyng. Raros são os textos que dizem ”o neo-zelandês Hillary”. Então – plim! – caiu uma ficha: dizer o sherpa fulano, neste contexto, é quase um aviso ou desculpa por alguém como ele ter realizado tamanha façanha (mais ou menos como dizer ‘aquele é um negro lindo’ – dependendo do contexto, mais uma vez e sempre).

Após excluir a palavra sherpa saltou aos olhos o título de ‘sir’. Condecoração deveras importante para o Reino Unido, mas totalmente inócua para o resto dos mortais, e sobretudo, dispensável no texto. Excluí o ‘sir’ também, mas Hillary continuava aparecendo antes de Tenzyng. Entretanto aqui o politicamente correto foi ignorado em prol da clareza do texto, que só funcionava bem com os nomes nessa ordem. Além disso, invertê-los não seria uma atitude política mais relevante que a mensagem que pretendia passar com o texto em questão.

De qualquer forma, fiquei pensando sobre o PC (politicamente correto) como um a ferramenta, um detector de armadilhas e escaramuças em que se escondem preconceitos e falsas verdades. Quanta coisa escondida atrás de uma frase feita, heim? Ou então me interna, vai.


Tenzing Norgay e Edmund Hillary
logo após a escalada ao Everest, em 1953

Helê

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