Let The Sunshine In

Quando respondi ao questionário sobre os filmes que poderia rever infinitamente, sem querer deixei de fora talvez o mais importante, pelo simples fato de que talvez seja o único que realmente eu poderia ver uma vez por mês, sem enjoar: Hair, de Milos Forman.
Hair entrou na minha vida provavelmente em 1983, de um jeito meio torto, porque pra falar a verdade não me lembro nem se na minha casa já havia videocassete. Minha melhor amiga da escola tinha uma vizinha dona de um vídeo e de muitas fitas importadas. (Nossa, como a gente entrega a idade quando começa a relembrar certas coisas.) Um dia, fui convidada a assistir a um filme muito doido, sobre uns hippies que fumavam maconha e transavam uns com os outros no Central Park. Muito divertido. Eu não entedia xongas de inglês, minha amiga teve que me contar a história do filme antes de assistirmos, e ainda me ajudou durante e depois. Pensando bem, nem precisava: mesmo não entendendo nada, entendi tudo.
Nossos leitores que viveram os anos 80 (suponho que todos) devem se lembrar do clima da época. Tudo era mezzo glitter/mezzo dark. A cultura new wave imperava, Morrisey ansiava por morrer atropelado por um ônibus, imaginem só. Vivíamos sob o signo pop da material girl, da febre das academias, da neura yuppie, do “câncer gay“. Tenho a impressão que foi nessa época que inventaram as abomináveis listas In Out. A gente realmente acreditava em certo e errado, então.
Imaginem, nesse contexto, uma menina-zona-sul típica, de 13 anos, entrando em contato, através da magia do cinema, com a liberdade, as cores, a alegria, a inconseqüência do movimento hippie. Descobrindo que a Era de Aquário estava pra chegar, e que esta seria uma época de harmonia e compreensão, empatia e confiança abundantes. Aprendendo que nem todo mundo precisa viver o mesmo modelo, que é possível ser feliz sem fazer concessões e que o certo às vezes é o errado e vice-versa. Tudo isso embalado por uma trilha sonora avassaladora e pela coreorgrafia desbundante de Twila Tharp. O filme é de 1979, estávamos a quatro anos de seu lançamento, o que nem era tanta defasagem para os padrões da época. Os hippies já não ameaçavam mais. A Guerra do Vietnã era, finalmente, um erro histórico. A Broadway e Hollywood já podiam empacotar a contracultura e transformá-la em entretenimento de massas.
Mas e daí?
Hoje sei que assistir a Hair na casa da vizinha da minha amiga foi uma das experiências que me ajudou a me transformar em mim mesma. Aos 13 anos, só curti de montão um filme muito doido.

Estou feliz demais porque hoje, finalmente, consegui comprar este DVD.

-Monix-

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Uma resposta

  1. vivi intensamente esses momentos, é a minha geração. a musica, as drogas, a vida em comunidade, o amor incondicional a todos, a guerra, a ditadura aqui, a descoberta da alimentação natural, a criação coletivizada dos filhos, as roupas e joias, a vida simples e solidária… tudo isso sou eu, completa e definitivamente.
    o filme saiu depois, falo do inicio dos anos 70, a epoca mais feliz da minha vida…
    obrigada pelo texto, viu?
    beijo

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