Março 27, 2007
Certa vez, meu ex-marido (na época em que era atual, enfim, vocês entenderam) encontrou, num restaurante, com oengenheiro Leonel Brizola. (Considerem que esse encontro se deu antes do Brizola passar desta para a melhor – não foi um encontro sobrenatural). Com a cara de pau que Deus lhe deu, foi cumprimentar o ex-governador, que, aproveitando a platéia formada pelo grupo que o acompanhava (ao meu ex-marido), disse: ando muito preocupado com a máquina eleitoral. Todos concordaram, muito graves, pensando nas tramas políticas e no esquema que todos conhecemos de troca de votos por favores ou badulaques, mal que assola o país desde que o primeiro português ofereceu o primeiro espelho ao primeiro índio. Mas não era a essa máquina eleitoral que o engenheiro se referia. Ele estava falando literalmente da “máquina eleitoral”, também conhecida como urna eletrônica, que na época começava a ser implementada em alguns distritos eleitorais em caráter experimental.
Eu, que nunca fui brizolista, ao ouvir essa história realmente tive que admitir que Brizola tinha razão. De fato, o princípio básico da confiabilidade num sistema eleitoral é a possibilidade de recontagem de votos, como o próprio Brizola aprendeu da pior forma. E a urna eletrônica elimina essa possibilidade.
Nem vou falar de outras questões que de lá para cá me ocorreram, tão graves quanto essa. Por exemplo, o alto índice de “analfabetismo tecnológico” da população brasileira, e não me refiro apenas aos grotões, sertões e valões.
O fato é que desde então nunca me conformei com esse discurso que pressupõe a confiabilidade das urnas eletrônicas, como um dado inquestionável. E o pior: toda vez que tocava no assunto, era massacrada, como se fosse um retrógrada que não aceita o progresso (logo eu, com todo meu ascendente Aquário em franca ebulição).
Agora, finalmente, parece que o assunto está sendo discutidocom o grau de questionamento que merece. Não digo que o método é ruim – sim, eu me lembro da complicação que era a apuração dos votos em papel, já fui mesária e sei dos problemas, das filas, etc e tal. Só acho que não dá para resolver um problema criando outro. E, cá entre nós, esse argumento de que a única eleição do mundo totalmente informatizada é a nossa, como se isso fosse motivo de orgulho, sei não… Se o mundo inteiro faz diferente, isso significa que o mundo inteiro está errado e só a Justiça eleitoral brasileira está certa? Com todo o respeito, sei não.
-Monix-
Em tempo: não conheço o deputado em questão, não sei se é sério, que interesses o movem. Mas acho a discussão válida, de toda forma.
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