O mundo é fabuloso
o ser humano é que não é legal
‘Manuel’, Ed Motta
Idelber me chamou pro debate sobre as declarações da ministra Matilde Ribeiro, e eu, que não rasgo dinheiro nem recuso convite de amigo, fui lá dar meu pitaco. Como sempre, o Idelber fez um post brilhante e completo, com os devidos links, argumentos, contra-argumentos e tudo o mais – quando eu crescer quero escrever assim. O que falta, ou melhor, o que pode complementar está nos comentários, que blogueiro realmente bom tem audiência à altura.
Essa rasgação de seda sincera é pra mandar vocês pra lá pra saber do babado completo. Eu aqui vou apenas colocar um bordado na barra, contando uma aula marcante sobre racismo e preconceito que eu tive, uns anos atrás:
No programa Sem Censura, da TV Educativa, estava o prof. Joel Rufino dos Santos (com quem trabalhei, de quem fui aluna e que eu admiro profundamente). Devia ser 13 de maio, 21 de março ou outras dessas efemérides que a imprensa usa pra lembrar do tema. A moderadora – na época, a Lúcia Leme – passou ao Joel uma pergunta de um telespectador:
– Prof. Joel, o Fulano de Tal pergunta: ”Eu vejo muito negro racista por aí, então eles não podem reclamar. Por que os negros também têm preconceito contra os brancos?”
E Joel respondeu, serena e rapidamente:
– Porque são humanos.
Houve dois segundos de silêncio completo na mesa, e então Joel explicou o óbvio, que o preconceito é uma tendência humana, manifesta em diferentes culturas e de diferentes formas. A face branca e ocidental dele é apenas uma delas. Justificar um preconceito por outro é estupidez; esperar que negros não sejam preconceituosos é exigir que sejam super-humanos – o que significa, no final das contas, tratá-los como não-humanos, anyway.
Helê
PS: Nem acho que a ministra tenha justificado o racismo, como acusam alguns. Mas a inabilidade dela ao responder me fez lembrar dessa resposta do Joel, pra mim, um primor de síntese e inteligência.
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