Não fui uma criança típica: nem muito menininha, nem muito levada, gostava mesmo era de ler. Criada nos anos 70, num bairro urbanizado, na classe média carioca, já não tinha a possibilidade de brincar na rua e ainda não contava com a liberdade artificial das turmas do playground. Nunca consegui me decidir se queria ser uma mocinha elegante, que adorava bonecas de papel e panelinhas, ou se gostaria mesmo é de correr com os meninos, aprender a jogar bolinhas de gude e a andar de skate. (Aliás, até hoje não descobri a resposta para esse dilema, mas essa é outra história.)
Na TV (que lá em casa só se assistia com hora marcada para ligar e desligar), me divertia com os desenhos animados engraçados, tipo Pica-Pau, Papa-Léguas, Tom e Jerry, Ligeirinho. Mas, embora não acompanhasse as aventuras dos super-heróis, sempre fui fascinada por suas histórias. Bem mais tarde, na minha era pós-psicanálise (e depois de ler o Bettelheim, é claro), desenvolvi uma certa mania de interpretar simbolicamente os poderes de cada um deles, mas, honestamente?: é pura fruição mesmo. Adoro os heróis – não seria lindo contar com eles para salvar o mundo?
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Meus favoritos são os “justiceiros”. Quando bem pequena, adorava o Robin Hood, que roubava dos ricos para dar para os pobres (não é uma idéia genial?). O Super Homem do Christopher Reeve me empolgava, o Batman do Adam West me divertia. Alguém aí falou em Geração Coca-Cola?
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Ontem acabei de ler o “Zorro”, da Isabel Allende. Foi uma delícia viajar novamente para aquele coração de criança, que acreditava no poder dos heróis para fazer justiça. O romance mostra as origens do herói, que teve mãe a avó índias, aprendeu os segredos dos xamãs, os truques e trapaças dos marinheiros e o protocolo da decadente nobreza espanhola. Lutou esgrima, viveu com os ciganos, foi acrobata de circo, sobreviveu a um ataque de corsários, foi aceito numa sociedade secreta e forjou sua identidade de Zorro se apropriando das características da raposa (que é a tradução para o português), ou seja, a capacidade de andar nas grutas e nas sombras da noite.
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A própria autora diz que vê o Cavaleiro Mascarado como uma mistura de Peter Pan, Robin Hood e Che Guevara. Ou seja: aos 37 anos, descobri meu herói perfeito.
Não é à toa que andam me chamando de comunista ultimamente. ;-)
-Monix-
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