No roteiro da Monix sobre cinco coisas para fazer no Rio ela indicou o Artplex, não sem antes fazer uma rápida ‘biografia’ de algumas salas da região. E, causa perdida, mas ainda uma causa, defendeu os cinemas de rua, espécie praticamente extinta aqui no Rio. Todos esses comentários destrancaram um baú esquecido num canto da minha memória. De lá saíram lembranças cinematográficas, mas não propriamente ‘fílmicas’, e sim dos cinemas da minha infância e adolescência, dos cinemas nos quais eu aprendi a gostar de cinema.
A lembrança mais antiga é do Madureira 1 e 2, onde enfrentávamos filas homéricas, eu, minha mãe e meu irmão, sempre que estreava um novo dos Trapalhões – para, muitas vezes, assistir o filme sentados no chão, de tão cheio. Lembro de ter saído de lá aos prantos depois de assistir ao dramalhão ‘O Campeão’, e anos depois, ‘O império do sol’.
Havia o Cine Baronesa (ó que nome lindo!) ali na Praça Seca, onde vi Marcelino Pão e Vinho (Nossa Senhora, deve ter sido logo depois do cinema mudo!) e E.T., entre outros muitos. Provavelmente foi o primeiro cinema ao qual fui sozinha, por ser mais perto de casa.
Só quando o filme exigia nos deslocávamos para longínqua Tijuca. Mas sempre valia a pena: a Praça Saenz Pena durante um tempo rivalizava com a Cinelândia em número de salas. (Valei-me meu São Google, que acaba de me acudir: era conhecida como a Cinelândia tijucana e tinha mais cinemas que a original, Monix!) E eram todos cinemas lindos, gente, escadarias de mármore, espelhos, candelabros e veludo, um luxo! Lanterninha, uniformizado e de lanterna em punho, de quem a gente se escondia para os primeiros beijos e primeiras várias outras coisas…
Quase me esqueci: havia também o Imperator, no Méier, que depois virou casa de espetáculos e era tão imponente quanto o nome, enooorme. Essa geração plex (multi, art) não tem noção do que é um cinema realmente grande, não é? Do Imperator eu guardo duas lembranças adolescentes/anos 80: ‘O exterminador do futuro’, que eu fui ver só porque o namorado quis e adorei; e ‘Bete Balanço’, que a gente queria sair dançando de dentro do cinema, achando que era da turma do Cazuza.
Olha, vocês perdoem aí a sessão nostalgia, esse roteiro sentimental suburbano de cinemas mas, de fato, cinema de rua tem um charme especial. É o cinema sem distração, consumo ou desculpa, cinema-cinema. Talvez mudem os nomes e certamente a geografia difere, mas a nostalgia de quem já fez fila na calçada pra ver um filme é a mesma, imagino. E se me sobrasse dinheiro, muito, eu juro que expulsava os vendilhões do templo, isto é, todas as igrejas evangélicas que compraram estes espaços, e devolvia os mármores, telas e assentos a quem de direito: à sétima arte – que por sinal, nos leva ao paraíso com muito mais eficiência.
Helê
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