Do blog Educação à Brasileira, do Globo Online.
Sobre o assunto, tenho a dizer o que já disse antes:
Eu gosto de me considerar uma pessoa que se adapta facilmente a mudanças. Ou, melhor ainda: uma pessoa que gosta de mudanças. Não sei se tem a ver com meu ascendente Aquário, com uma certa mania de estar sempre perto do que é novo. O fato é que gosto de pensar que fujo, sempre que consigo, do comodismo, da zona de conforto, rumando em direção ao que vai ser diferente. Claro que na prática a teoria é outra, mas estou falando de como venho construindo minha auto-imagem ao longo dos anos.
Só que agora, com a proximidade da adoção do acordo ortográfico dos países lusófonos, estou me sentindo, talvez pela primeira vez na vida, uma pessoa antiga. Nem é antiquada: é antiga, mesmo. Minha avó, uma mulher esclarecida, diria até antenada, até hoje escreve “êle”, com esse acento circunflexo esquisito. Nunca entendi esse apego a um sinal que já era obsoleto quando eu nasci. Agora percebo que provavelmente essa mudança foi feita quando minha avó tinha, sei lá, entre 40 e 50 anos, ou seja, já escrevia desse jeito há tempo demais.
Eu posso até me acostumar com a eliminação dos acentos nos ditongos crescentes (ou descrescentes?), e é óbvio que nunca vou decorar as regras para uso do hífen (mas isso eu nunca soube mesmo). Mas sinto que jamais me conformarei com a eliminação total do trema. Pô, gente, o trema tem uma função fonética super importante! Eu não como linguiça, e sim lingüiça! Não pago cinquenta, e sim cinqüenta! (Que, aliás, às vezes minha avó se distrai e escreve como “cincoenta”.) Já me vejo uma velhinha gagá, reclamando da “juventude de hoje em dia”, lembrando como era bom no meu tempo de outrora, e escrevendo muitas palavras estranhas com uns pinguinhos em cima do U, que meus netos nunca saberão para que servem.
Lamentável ter que me confrontar com a inexorável marcha do tempo, assim, tão cedo.
Publicado originalmente em 10 se setembro de 2007
-Monix-
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