Quem não se comunica

Como vocês já sabem, nós duas somos jornalistas. Em nosso dia-a-dia de trabalho, são comuns (muito mais do que vocês imaginam) situações em que precisamos explicar para um cliente (interno ou externo) que nosso trabalho é especializado, que existem técnicas específicas, que a gente estudou para isso, que não basta “levar jeito para redação” para fazer o que nós fazemos. Tem muita gente que acha que só porque sabe escrever (tipo: foi alfabetizado) sabe, automaticamente, se comunicar. Isso é tão fora de propósito quanto alguém achar que só porque aprendeu a fazer contas pode construir uma ponte, por exemplo.

A questão é que não basta dominar a ferramenta – no caso, o idioma. Tem que saber o que escrever, para quem, que estratégia adotar. Etc, etc, etc. Se tem uma coisa que irrita qualquer profissional da área é a arrogância de boa parte do pessoal das ciências exatas ao considerar a técnica “deles” mais difícil que a “nossa”. Se eles conseguem ser engenheiros, que é tãaaao difícil, é claaaro que também conseguiriam fazer a assessoria de comunicação, se tivessem tempo (eles são muito ocupados). Afinal, comunicação é muito simples, é coisa daquele povo que não gostava de estudar e escolheu o vestibular mais fácil de passar.

Pronto, falamos.

As Duas Fridas

22 Respostas

  1. Vou ser uma advogada do diabo. A questão é que se comunicar, todo mundo sabe, em algum nível, nem que seja de forma rudimentar -seja oralmente ou pela escrita, ou mesmo por sinais. Daí a pensarem que é possível escrever, ou ainda, corrigir, os txts de profissionais da área, não é muito difícil. Mas sabe de quem é a culpa? Dos próprios profissionais. Sabe por que os bibliotecários não são valorizados mesmo na era da informação? Por culpa deles mesmos, que estão vendo a história acontecer sem tomar para si o que é deles. Idem aos profissionais de comunicação e de marketing. Como tem muita gente MUITO ruim no mercado, os bons acabam não sendo levados a sério.

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  2. oi, meninas, vcs chamaram, eu vim. Minha vingança acontece quando faço o chamado “media training” com os executivos da firrrma… é um dia inteiro em que eles começam assistindo a palestras da gente e, normalmente, de um jornalista de tv tarimbado (meu predileto é o Heródoto Barbero, ele é ótimo). de tarde é a vez de eles darem entrevistas simuladas. aí eles percebem que fazer (e dar) entrevistas não é tão simples assim…

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  3. Ondéqueuassino?

    Aqui mesmo, sumido!
    Bj,
    Helê

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  4. Não vou discordar de nada. Acho que as opiniões refletem o que vai pelas cabeças pensantes que circulam pelo blog das Fridas. Ótimo de ler nos dois níveis!
    Só lembrando ao Christian que nem sempre as universidades são palco de formação puramente técnica. Pouquíssimo vi de técnico nos nossos bancos de UERJ. E aulas sobre “Enamoramento & Amor” com o “grande” André Lázaro não me disseram nada sobre Comunicação também.
    Todos nós que pensamos um pouco além da maioria conseguimos alcançar esse “status” porque corremos (MUITO) atrás por conta própria. Mas acredito que deva existir um diploma que torne esse “status” legítimo, sim! Caso contrário, seria o caos.
    Enquanto isso, tenho que dar verdadeiras aulas de design para conseguir “provar” para um bando de engravatados endinheirados (executivos, engenheiros, economistas e afins) porque a marca que criei funciona. E muitas vezes em vão!!!!!!!

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  5. A tá,então pq será que Jornalismo na USP,foi o curso
    mais concorrido em 2008?
    Deve ser pela facilidade que muitos acreditam existir.tsc tsc.
    Eu admiro quem escreve bem,adoro ler textos bem escritos,desde do jornalíticos ao de futebol,culinária etc.

    Beijos .

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  6. Bom, depois do Christian escrever tão bem sobre a questão, só me resta dar meu testemunho de que, infelizmente, cada vez menos as pessoas sabem escrever. Aliás, em sua grande maioria, cometem atrocidades à língua. Eu, como convivo com vários engenheiros posso dizer que, na maior parte das vezes, eles não sabem escrever e já ouvi de muitos que o Direito é muito fácil, é só decorar o Código de Processo Civil. O que eles fazem é muito mais difícil. Não discordo que seja difícil, até porque eu não tenho a menor capacidade para fazer, porque não estudei pra isso. Mas, o que eu faço também é difícil. Se fosse fácil, qualquer um faria.
    E eu dou um baita valor a quem sabe escrever, porque não é pra qualquer um mesmo.
    Beijão, queridas!

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  7. De médico e de louco, todo mundo tem um pouco.
    E parece que de jornalista, designer, publicitário, tradutor e arquiteto também, hahahaha

    bjos

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  8. Concordo com vocês, com os comentários e com o Christian aí em cima, falando sobre a importância da formação universitária. Só complementando…Infelizmente existem bons e maus profissionais e alguns “coleguinhas” às vezes envergonham nossa profissão. Não nascemos jornalistas, mas nos tornamos. Com habilidade ou “talento”, mas também muita técnica para escrever. E com “ferramentas” que nos ensinem a pensar, desenvolver senso crítico e responsabilidade social.

    bjos
    Luisa

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  9. Correçãozinha no último parágrafo: todo dom é natural. Desculpem a redundância. Quis dizer, na verdade, “capacidade inata”.

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  10. Esse post é muito oportuno, porque ainda neste mês o STF deverá julgar a legalidade da exigência do diploma de Jornalismo para o exercício da profissão. Por trás de toda esta discussão levantada pelas Fridas está uma cultura do improviso e do empirismo que, infelizmente, ainda é predominante no país. Paradoxalmente, o “bacharelismo” continua muito forte entre nós. No entanto, a formação universitária não é vista como algo a enriquecer e a ampliar o conhecimento do indivíduo, paralelamente à sua preparação para exercer uma profissão, mas como símbolo de status. Cada vez mais as universidades oferecem uma formação técnica – viraram uma espécie de Senac ou Senai – em detrimento de uma formação mais humanística, que incentive e desenvolva a capacidade crítica e reflexiva. Pensar, refletir, criticar, defendem os “empiristas” e “pragmáticos”, são coisas “chatas”, “menores”, de intelectual desocupado e preguiçoso. O importante é “produzir”.
    Todo este blá-blá-blá, este big nariz-de-cera é pra dizer que, embora a Comunicação Social não seja um campo do conhecimento tão complexo quanto a Física Nuclear – ou mesmo a Medicina –, o exercício de profissões ligadas a ela, como o Jornalismo, é extremamente relevante para a construção/interpretação do que chamamos de “realidade”. Em razão disso, a formação universitária específica e a regulamentação do acesso ao mercado de trabalho (por meio do diploma ou de qualquer outro instrumento) são indispensáveis para o exercício de um Jornalismo crítico e socialmente responsável, queiram ou não os patrões e os donos da mídia.
    Ouvi hoje uma comparação engraçada sobre o fim do diploma em Jornalismo e o “dom natural” dos bons escritores para a profissão. Ela é atribuída ao veterano jornalista Carlos Chagas, e diz mais ou menos assim: Se todo mundo que escreve bem pode ser jornalista, um açougueiro também pode ser cirurgião, porque sabe cortar carne muito bem…

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  11. Ah, e os profissionais de marketing então? Tem profissão mais massacrada e mal entendida q a minha? rs

    O pessoal de marketing e de design sofre com a história do “você que leva jeito, quando puder ‘bola’ uma coisinha pra mim”… Parece que sua profissão é algo a se fazer nas horas vagas, né? Hm. Bjs, Monix

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  12. Sou outra que já passou, e ainda passa, por alguns momentos assim . Sou professora. Sem os professores, todas as pessoas teriam que ser auto-didatas. Sou professora de inglês. E como bem disse a tradutora “todo mundo acha que sabe inglês, acha que é fácil, pq passou seis meses em miami, ou terminou o cursinho relampago (…)”. Larguei a carreira em arquitetura para ser mais feliz sendo professora de inglês. E não há quem convença-me a voltar atrás.
    Beijos a vocês e a todos que pensam de seu próprio modo e seguem seus próprios caminhos.

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  13. Tenho que comentar e rir hoje, Fridas.
    Já passei tanto por isso, mas por preconceito de outros, sabem?
    Sim, sou engenheira. E sim, sou irmã de uma jornalista maravilhooosa, linda e competente.
    Entre nós nunca rolou preconceito nenhum, só admiração de uma pela “arte” da outra.
    Acho tão estranho que ainda exista esse tipo de conversa, como se uma área fosse mais difícil e mais importante que outra. Papo estranho mesmo, né não?
    Beijos prá vocês.

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  14. Concordo com tudo. Sou vestibulanda de Medicina, e estou confiante para quase todas as provas – exceto a redação. Ô, coisinha para me assustar! Se alguém no mundo sabe o quão difícil é o que vocês fazem, sou eu. Domino a ferramenta, o português, mas na hora de usá-la, sai tudo errado… Não querendo rebaixar o trabalho de vocês, claro. Mas comparo. E já cogitei ser jornalista, mas não tenho a vocação meeesmo, não fosse o sonho de ser médica, estaria frita!
    Beijos.

    *achei o blog nos favoritos de outro blog…

    Giu, mas é isso mesmo, cada um com seu cada qual, né? Você pode vir por aqui nos ler, e quando a gente tiver sinusite a gente promete que vai ao médico em vez de comprar o remedinho que a vizinha receitou, tá? :-) Volte sempre, e comente, que a gente adora. Bjs, Monix

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  15. Putz, já vi q é um problema q acomete mta gente… E tradução? Todo mundo acha que sabe inglês, acha que é fácil, pq passou seis meses em miami, ou terminou o cursinho relampago e aí “comete” traduções que só Deus sabe…
    E aí a gente tem bagagem, muitas horas de vôo, cobra o preço justo pelo trabalho – ah, mas tudo isso só pra escrever em português? afff
    Fora os críticos, né? Todo mundo entende inglês melhor do que o tradutor… rsrsr
    bjs, amadas

    Pois é. Nunca vou esquecer daquele letreiro na China que dizia apenas “Translate Server Error”… Prova de que a função não pode ser exercida por robôs. ;-) Bjs, Monix

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  16. espetáculo, fridas!

    beijos

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  17. Meu irmão que é designer (comunicação visual) tb sente um pouco esse tipo de mentalidade…é aquela história de desvalorizar certos ofícios. Será que ainda rola aquela velha história de que tem que ser médico, advogado ou engenheiro pra ser alguem na vida?
    Ah, com os trabalhos manuais tb é assim, mais do ponto de vista finnceiro.
    Beijo
    Renata

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  18. sei bem o que é isso, não sou das letras, mas dos riscos. e um deseinho, uma marquinha, um projetinho, qualquer um faz, não é?… parece ser mais difícil entender a importância do trabalho não exato, do trabalho criativo, analítico por vezes. Tão mais difícil quanto mais inexperiente é o cliente, porque geralmente quem já usou de serviços de profissionais especializados sabe reconhecer (e valorizar) a diferença.

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  19. Sempre venho aqui, mas hoje, ah, hoje, eu tinha que falar, não podia deixar passar em branco: sou uma vestibulanda pra comunicação social. sei exatamente o que o pessoal de exatas acha da gente(de mim, no caso, futura ‘comunicóloga’ e de vocês, devidamente formadas e tudo o mais) e, como a pessoa do primeiro comentário disse, assino embaixo. Me revolta o tom que esse pessoal usa pra falar da gente, ainda mais quando eles fazem pouco caso de uma profissão que sempre foi o meu sonho, a minha paixão, desde os 10 anos de idade(não, não é exagero adolescente, não. é sonho mesmo, com todas as letras e eu uma vontade maior que o mundo de alcançá-lo).
    Só tenho uma última observação a fazer: atualmente, o vestibular pra comunicação é um dos mais difíceis. só perde, na UFRJ, pra medicina e direito. ou seja, hoje em dia, muita gente tá escolhendo passar pra, sei lá, engenharia mecânica só porque é muito mais tranquilo do que o resto. como as coisas mudam, né? ;)

    beijos, fridas (e um beijo especial pra minha frida-prima-distante Helena!).

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  20. e eu não sei disso? formada em biblioteconomia o povo sempre pergunta pra q estudar pra pôr livro em estante, ai cansa minha beleza exótica viu.

    Menina, e Biblioteconomia é uma das profissões mais importantes da era da informação, não é? BJs, Monix

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  21. Ana, vc não vale, pois tem formação (excelente) nas duas áreas (Fez comunicação, não? e arquitetura tem uma área da exata).
    Fridas, saibam que depois de obra pronta o que tem gente que acha que foi fácil… inclusive que ele faria aquilo e nem demoraria tanto. Sei. Engenheiros de obra pronta ….
    Depois as pessoas não sabem por que não resulta…

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  22. Eu já tinha aplaudido antes, mas faço clap clap clap de novo. Assino embaixo.

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