Dia de votação em geral é um dia meio festivo, pelo menos aqui no Rio de Janeiro. Parte disso creio que se justifica porque ainda permanece a memória de quando isso não era permitido, e o ato de votar tem um sabor de conquista, mais do que direito e dever. Mas há outro fator, não-político, que contribui para esse clima alegre: a maioria das pessoas que conheço vota no bairro em que foi criado, ou no mesmo bairro que morava quando tirou o título de eleitor. E fazem questão de manter assim, pois abrigam-se, a cada dois anos pelo menos, a rever amigos, lugares, histórias. Mesmo que isso signifique atravessar a cidade e que eles se prometam “Vou mudar meu título!”, na próxima eleição lá estão eles, atualizando a conversa na fila da urna.
Há cinco anos eu mudei de zona eleitoral, e sou uma exceção por votar no bairro em que moro. Acontece que eu tirei o meu título com o endereço da minha vó, em Marechal Hermes, para ter um pretexto para vê-la, nos dias de eleição. Porque quando você tem 18 anos não pensa que a sua vó vai morrer um dia – muito menos o tio querido que mora com ela. Depois que eles se foram, o efeito foi contrário, e votar passou a ser doloroso, um desnecessário lembrete da ausência. Então transferi meu título para Tijuca, mas de dois em dois anos eu tenho que contar essa história pra alguém, porque todo mundo se espanta por eu votar tão perto. Mas hoje dói menos, ou dor se acomodou num cantinho; ficou a lembrança deles e da minha ingenuidade.
E você, vota aonde?
Helê, pautada pela Dedéia, que ouviu minha história e achou que dava um post.
PS: Votarei no Gabeira e no Eliomar, mas sem nenhuma paixão. Chato votar assim, viu?
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