No fim do meu primeiro ano da faculdade, consegui um estágio num jornal em Brasília. Passei um mês hospedada na casa de uma amiga da minha mãe e aprendi, naquele curto período, o pouco que sei da prática de reportagem para a grande imprensa (conhecimento que agora ficou altamente desatualizado, visto que na época ainda usávamos máquinas de escrever). Mas devo dizer que o principal aprendizado daquele mês em Brasília foi uma lição para a vida toda, que não tem nada de profissional mas tem sido extremamente útil no meu dia-a-dia há pelo menos 15 anos.
Um dia, minha anfitriã precisou ir à oficina mecânica. De repente ela, uma mulher inteligente e segura, transformou-se numa semi-debilóide, se dirigindo aos homens num tom meio infantilizado e fazendo perguntas óbvias. Quando saímos da oficina, eu a questionei e ela me explicou a lógica por trás daquele estranho comportamento.
Quando a gente está num ambiente predominantemente machista (sempre há as exceções), como uma oficina mecânica ou uma loja de ferragens, se a mulher aparece muito senhora da situação os homens não gostam e reagem tentando colocá-lo “no seu devido lugar”, ou seja, o atendimento é pior e muitas vezes eles tentam nos enganar. Já se a mulher chegar humildemente pedindo ajuda a seu herói-salvador-do-cavalo-branco, eles se compadecem e atendem muito bem, dando todas as dicas – e quase nunca tentam empurrar peças que não são necessárias ou enganar a cliente de alguma forma.
É triste, mas funciona.
Por isso, se um de vocês me encontrar na loja de ferragens da esquina com o olhar meio idiota e travando diálogos absurdos, tipo: “moço, a minha torneira está pingando, será que teria como me arrumar aquela borrachinha, que a gente enrosca naquele negócio da torneira…” “a carrapeta? Pois não, senhora, qual a medida?” “Ah, moço, é uma tamanho meio médio, não sei, a torneira é igual àquela ali atrás, ó”… bem, não precisam me internar. É puro personagem.
-Monix-
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