Aconteceu há alguns meses, mas acho que ainda vale ser contado: foi em janeiro, no dia da posse do Obama. Eu queria assitir, claro; a cria, do alto de seus seis anos, claro que não. Ficamos negociando a tevê, eu correndo para o canal jornalístico entre um desenho animado e outro, e ela achando muito chato aquilo. Aí eu fui tentar explicar porque eu estava tão interessada. O que, vocês têm que convir, não era propriamente fácil de fazer sem ficar tudo ainda mais chato. Eu comecei dizendo que eu gostava dele, torci por ele na eleição, e que o presidente antigo era muito ruim. Acrescentei também que era o primeiro presidente negro daquele país – nada que justificasse a interrupção dos desenhos, era o que ela parecia pensar. Pra ilustrar, peguei a charge que estava no meu painel e mostrei pra ela.
Foi quando a fichinha caiu e ela fez uma cara muito espantada, perguntando:
– Mas só esse preto, mãe?!
Pra logo em seguida questionar:
– E mulher, não teve nenhuma até agora?!
Helê
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