Não é o mais brilhante mas é o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos. O mais independente, também. Não importam o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades: quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto
em que ele foi interrompido, ontem ou há 40 anos.É não haver tempo mediando a vida. É uma vitória do adivinhado sobre o real. Do subjetivo sobre o objetivo. Do permanente sobre o passageiro. Do básico sobre o superficial. É rara. Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar. Ela existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas.
O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples e claro de sua boca diante de alguém com quem tem afinidade. É ficar de longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam. É ficar conversando sem trocar uma palavra. É receber o que vem do outro com uma aceitação anterior ao entendimento. É sentir com. Nem sentir “contra”, nem sentir “para”, nem sentir “pelo”.
É sentimento singular, discreto. Não precisa nem do amor. Pode existir quando ele está presente ou quando não está. Independe dele mesmo sendo sua filha. Pode existir a quilômetros de distância. É adivinhado na maneira de falar, de escrever, de andar, até de respirar. É linguagem secreta do cérebro, ainda
não estudada.Além de prescindir do tempo e ser a ele superior, ela vence a morte porque cada um de nós traz afinidades ancestrais no inconsciente e que se prolongam nas células dos que nascem de nós e vão para encontrar sintonias futuras nas quais estaremos presentes mesmo mortos (mortos?) há tantos anos. É ter estragos
semelhantes e iguais esperanças permanecentes. É conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas quanto das impossibilidades vividas.É retomar a relação no ponto em que parou sem lamentar o tempo da separação. Porque ele (tempo) e ela (separação) nunca existiram. Foram apenas a oportunidade dada (tirada) pela vida, para que a maturação comum pudesse se dar. E para que cada pessoa possa ser, cada vez mais, a expressão do outro sob a forma ampliada e refletida do eu individual aprimorado. Sensível é a afinidade. E exigente, apenas de uma coisa: que as pessoas evoluam parecido. Que a erosão, amadurecimento ou aperfeiçoamento sejam domesmo grau. É o mais sutil e delicado dos sentimentos.
Artur da Távola
Conheci este texto décadas atrás e desde então, e até hoje, a imagem da minha amiga Andréia Araripe se forma a medida que percorro essas linhas. Nossa amizade modificou-se, recuperou-se, persistiu. E hoje, prestes entrar ali na Casa do Quarenta, procuro valorizar cada vez mais o que persiste na minha vida, quem resiste a este implacável senhor, o Tempo. Em casos raríssimo em que a relação mantém-se com graça, humor, cumplicidade, afinidade, aí é preciso mesmo muita gratidão por essa que é um benção. Faz-se necessário reconhecer isso sempre que possível, afagar o outro quando sentir necessidade – mesmo que seja um dia como outro qualquer, numa tarde comum em que a singela lembrança da exsitência da amiga nos acalma, acolhe e satisfaz.
Viver na mesma cidade seria pedir demais, né, Deca? Tudo bem, não se pode ter tudo – eu fico feliz com quase tudo ;-)
Outro que foi escrito pra você foi esse aqui:
“Everyone has a “best friend” during each stage of life- only a precious few have the same one.”
Helê
Filed under: Umbiguices |
Obrigada, amiga linda! Você me fez chorar…
bj no coração
Beijoca estalada!
Helê
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Que lindo, Hele!
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Diferentemente de você, só conheci esse poema ano passado e em uma comunidade do orkut, o que não deve ser tão confiável, mas daí fui verificar se era do Artur da Távola mesmo e descobri que sim, mas mesmo que não fosse, achei que foi a maior definição que alguém possa dar a AFINIDADE, que é um sentimento para mim inexplicável, ainda que esteja na moda falar dela nos BIGS BROTHERS da vida (ETA COISINHA CHATA ESSE PROGRAMINHA)., agora então postado nesse blog que para mim é muito familiar e virou meu vício, já que larguei o cigarro, passei a gostar ainda mais dele.
Agora a pergunta não quer se calar. Essa Andréa que você se referiu, é uma Andréa que era muito sua amiga qdo você estudou no Colégio Pentágono?
Isso é uma mera curiosidade.
Gde abçs do seu fã.rsrsr….
André.
Sim, André, é a Andréia Araripe. E obrigada pelos elogios ao blogue, até aqui tem se mostrado um vício inofensivo :-D
Abração,
Helê
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