40 anos

Hoje estou mudando pra Casa dos Quarenta, definitivamente. Já rondo as cercanias há mais ou menos uns três anos. Mesmo péssima em matemática consegui deduzir, por volta dos 37,  que estava na meiuca da vida –  com sorte. E otimismo.

Essa talvez seja a principal e primeira mudança nesta nova moradia: a vista para o fim. Sei, dito assim soa sombrio, é apenas uma parte da vida para qual a gente não presta muita atenção antes. Na Casa dos 20 se alguém fala sobre isso ninguém escuta porque o som está  muito alto. Na Casa dos 30 esses horizontes começam a ser divisados ao longe, mas você está muito ocupado pra reparar. Mas chegando à Casa dos 40 você já descobriu que é mortal. O desafio é viver de modo confortável com essa descoberta.

portraitNunca esperei chegar aos 40 como chego hoje, e esta frase concentra um exagerado número de significados, bons e nem tanto também. Pensando bem, nunca pensei muito sobre como chegaria aos 40; acho que deixei pra pensar depois, e eis outra atitude a evitar doravante: procrastinar. Sinto certa urgência em realizar, e começo a encarar não apenas o que não fiz, mas dolorosamente o que jamais farei. Por outro lado, já aprendi que até correr exige moderação, dosagem, e equilíbrio. Eu, que falava outro dia em equinócio, em dias e noites iguais, acho que me sinto agora na tensão máxima da balança equilibrada, no meio da vida, no meio da rua, no meio do redemunho, como diria Rosa. Entre o percorrido e o que há a percorrer, eu agradeço e peço passagem, pedindo todas as bençãos para esta nova idade (e as próximas):

Benditas

Mart’nália – Zélia Duncan

Benditas coisas que eu não sei
Os lugares onde não fui
Os gostos que não provei
Meus verdes ainda não maduros
Os espaços que ainda procuro
Os amores que eu nunca encontrei
Benditas coisas que não sejam benditas

A vida é curta
Mas enquanto dura
Posso durante um minuto ou mais
Te beijar pra sempre o amor não mente, não
mente jamais
E desconhece do relógio o velho futuro
O tempo escorre num piscar de olhos
E dura muito além dos nossos sonhos mais puros
Bom é não saber o quanto a vida dura
Ou se estarei aqui na primavera futura
Posso brincar de eternidade agora
Sem culpa nenhuma

Helê

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