Correr é poder (ou: a 1ª 10 km a gente também não esquece)

Dom Maia já cantou há muito tempo que do Leme ao Pontal não há nada igual (no mundo).  Mas basta um trechinho: ali do final da Barra ao começo de Ipanema já dá pra deixar qualquer um boquiaberto – mesmo que esse um seja uma carioca nata, para quem o caminho está longe de ser uma novidade.

Acontece que no domingo passado eu participei da minha primeira corrida oficial de 10km, a Human Race. Depois de treinar na estonteante Lagoa Rodrigo de Freitas, aventurei-me nesta prova com algum receio – que treino é treino, jogo é jogo, como se sabe no futebol. Além do mais, no meio do caminho havia não uma pedra, mas montanhas, e a av. Niemeyer era um das subidas. Mas pagamos pra ver –  digo, pra correr -,  eu e Manu, e lá fomos nós, na nossa domingueira matinal.

Foi uma experiência sensorial, gente. Imaginem o que é correr da Barra até Ipanema. Não, eu não estou falando do calor ou do cansaço, eu estou falando da vista, do percurso, da montanha, pedra e mar, nessa cidade arrebatadora em que eu vivo. E correr, estando preparada, é uma das melhores maneiras de desfrutar disso: de carro é rapido demais; andando acho que cansaria – me interna, eu sei, mas é verdade. Ao correr senti que estava aproveitando tudo ao máximo no ritmo certo, sem pressa e sem perder tempo.

Escrevo isso e acho que ainda estou sob efeito das drogas da corrida, porque no final eu senti a serotonia , ou  outra ‘ina’ qualquer atuando intensamente no meu corpo, no meu sistema nem um pouco nervoso. Fiquei emocionada como naquela primeira, deu até o mesmo bolo na garganta, depois que cruzei a linha de chegada. Estava extremamente feliz, me sentindo empoderada de fato (eu também acho feia a palavra, não gosto desses estrangerismos, mas nesse caso  tem um sentido mais próximo do meu sentimento que ‘poderosa’. O poder estava em mim – ou sempre esteve, mas se revelou então de maneira inequívoca).

Av. NiemeyerAinda na Niemeyer,  quando olhei pra trás e vi aquele mar de gente, e vi o tanto que eu já tinha corrido e soube  que iria até o fim, deu um orgulho enorme de mim mesma, cara. Porque é chão, viu? E eu nunca fui o tipo atlético. Sempre era a última a ser escolhida no time de queimado, não era boa em pular elástico, todas as minhas medalhas de natação ganhei em revezamentos porque minha equipe era ótima e eu já caia na piscina com uma volta de vantagem. Então mesmo mantendo a regularidade nos treinos, sempre me surpeendo comigo mesma e com minha capacidade de superação: corri meu melhor tempo, menor até do que o que consegui correndo na esteira.

Creio que  a sensação de poder vem também do fato que correr é, na verdade, algo muito simples, cujo equipamento principal é o seu corpo, então foi realmente você quem conseguiu, sem intermediação. Claro que numa bicicleta ou remando seu corpo age como propulsor principal, mas tem algo entre você e o meio –   que na corrida é o só o tênis, que não tem alavanca ou roda, só te protege. Vem daí essa sensação de inteireza, de estar completa, presente e inteira naquele momento: é você, seu corpo, sua respiração, cada um de seus poros que estão te levando nessa jornada.

Além disso, correr é de uma simplicidade atroz, e querendo,  basta parar. Mesmo numa prova: ninguém te controla e há muitas pessoas que caminham. Porque desistir é tão fácil, persistir torna-se ainda mais difícil.

Tudo isso explica a classificação dessa experiência como sensorial. Tudo isso e essa cidade, porque nesses cenários tudo fica infinitamente mais interessante, belo, recompensador. No fim da corrida, naquele estado alterado de euforia e felicidade, ainda em êxtase, eu disse à Manu, com uma marra que eu nem tenho, mas é bem carioca: “Eu corro porque é no Rio!!!”

Fotos, na ordem em que aparecem: aquecimento na Barra, Av. Niemeyer, elevado do Joá; praia de São Conrado e  praia do Leblon

Helê

14 Respostas

  1. […] e tomar um banho de mar depois; nunca me senti tão viva e eufórica como depois de correr da Barra ao Leblon. Também há singularidade e valor em pequenos ganhos, como a primeira volta na Lagoa, ou ir cada […]

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  2. eu não podia deixar de vir dar os parabéns oficiais pra minha running-coacher, cargo inventado por mim mesma… Helê, vc sabe: a cada passada mais dolorosa, a cada vez em que penso em parar nessas manhãs suadas na Lagoa, é vc que está lá na minha orelha, tomando o lugar do ipod: só mais 100 metrinhos, só mais 100 metrinhos… parabéns pela conquista, quilida! E ano que vem eu vou tbm, pelo menos na de 5 km, eu prometo!

    Ai, querida, que lindo isso. Orgulho meu! Me senti um brinco na sua orelha, ou então um daqueles gadgets bem chiques – ou chatos, depende do ponto de vista, hahahahah!
    Só falta estreiar numa corrida – comigo, de preferência.
    Beijos,
    Helê

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  3. \o/ \o/ \o/ \o/ \o/ \o/ \o/ \o/ \o/ \o/
    LINDA!!!!!
    PARABÉNS QUILIDA!
    BJINS,
    JU

    Gracias, quelida; saudadona de vcs.
    Bj,
    Helê

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  4. \o/ \o/ \o/ \o/ \o/


    :-) Beijo, querido.
    Helê

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  5. Parabéns! Que maravilha, Helê!

    Na próxima quero te encontrar, ::Fer:: !
    bj,
    Helê

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  6. Parabéns pela corrida! Só senti falta de um dado: quanto tempo você levou para percorrer os 10km? Agora são só curiosidades de uma principiante na corrida. Como tem sido seu preparo? Corre todos os dias? Há quanto tempo?
    Acho que é a primeira vez que eu comento por aqui. Parabéns pelo blog venho acompanhando há algum tempo pelo feed.
    Abraços.

    Oi, Nicole, tudo bem? Obrigada, comente sempre que sentir vontade, viu?
    Meu tempo oficial foi 01:04:22. Comecei a correr com algum acompanhamento há pouco mais de um ano. Procurei um professor da academia que faz planilhas mensais pra mim; gradualmente ele foi aumentando ora a velocidade, ora a distância. Na minha planilha atual corro 3 vezes na semana, 7,5km; 10km e 30 minutos.
    Aquele Abraço!
    Helê

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  7. Minha corredora favorita!!!! Parabéns por essa maravilhosa conquista com esse cenário deslumbrante de pano de fundo! Ainda vou voltar à ativa e participar de uma dessas com você! Beijos, querida.

    O aniversário é dela e eu que ganho parabéns! Viva a Grazi!
    Ah, faz favor de calçar o tênis djá, que uma foto sua pós-corrida foi uma das minhas inspirações, lembra?
    E eu vou adorar correr com vc, vamos acertar esse calendário.
    Beijoca,
    Helê

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  8. Eu malho todo dia e pedalo quase todos os dias, mas não consigo correr, o que eu preciso , será que é coragem?
    Agora lendo esse seu post, me deu vontade de correr pela Niemeyer, eu acho que o meu problema é onde eu moro, pois tenho uma idéia fixa de que a vista é primordial pra uma corridinha. Vou me encorajar!
    Parabéns !!!

    Yes we can, André! :-)
    Cada um tem seu estilo, se a vista é importante, não faltam lugares bacanas. A gente tem que se apossar deles, porque eles são da cidade e não apenas de quem mora perto. Mas isso é papo pra outro post. Se quiser companhia é só avisar.
    Beijo,
    Helê

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  9. A Ju Sampaio até passou aqui no aniversário dela, né?
    Parabéns pela corrida Helê, e o cenário realmente é lindo.

    Obrigada, Ju. Beijo!
    H.

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  10. Também deu pra sentir a emoção daqui!
    Beijos

    Ui, chegou até BH? Que bão. Beijo!
    Helê

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  11. Eu amei esse relato, fiquei feliz da vida por você, quase deu pra sentir vontade de correr também, hahahah!

    Vou ter que me esforçar mais no próximo, ‘quase’ ainda não é suficiente ;-)
    Bj,
    H.

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  12. Puxa, parabéns, Helê! Bela conquista!

    Verdade, Ju, é uma conquista. Gracias e besos.
    Helê

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  13. Correr é mesmo muito bom, vc tem o domínio do seu corpo e leva ele até onde dá. Com um paraíso desses de fundo, então, é perfeito! Parabéns Helê!!

    Obrigada, Ana. Beijo grande,
    Helê

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