In between

Estive numa festa, já faz uns anos, em que senti assim, in between. Era aniversário de uma pessoa muito querida que fazia 25 anos; então na festa tinha a galera dela, nesta faixa de idade, e os amigos da mãe dela, ali entre os cinquenta ou mais. De modo que eu fiquei in between – mais enturmada com a garotada, confesso.

No meio do papo com um surfista eu disse que antes de envelhecer queria aprender a surfar. Daí o interlocutor respondeu: “E eu quero fazer vôo livre antes dos 30!” Então me dei conta que, pra ele, eu já tinha envelhecido. Mas o mesmo cidadão me acudiu quando disse que na vida é preciso plantar uma árvore, ter um filho e publicar algo na internet. “Ué, mas não era escrever um livro?”, perguntei curiosa e já remoçada. Ao que ele respondeu: “Não, o que importa hoje é comunicar, e o mais rápido possível”.  Fingindo modéstia disse que tinha um blogue, e ele ratificou: “Então você está totalmente up to date!”.

Compreendi afinal que envelhecer é caminho sinuoso, nada linear ou previsível: a gente vira uma curva de repente se sente mais moderna e jovem do que duas ladeiras atrás; sai de um túnel e alguns anos se passaram. Interessante, emocionante, surpreendente.  Sigamos, pois.

most beautiful highway

Helê,

aproveitando um rascunho de 2 ou 3 anos atrás, que precisava mesmo desse tempo pra amadurecer e virar post.
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5 Respostas

  1. Oi Helê, lindo esse post. Conheço esses personagens e o cenário também… Acho que também estou percorrendo essa estrada: muitas vezes com lindas paisagens e outras com tantos buracos…. Mas os quilômetros que percorremos juntas até agora me mostraram que você está sempre up to date rsrsr bjao :)

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  2. Interessante esse caminhar pela vida. Me vejo agora sendo possuída por um espanto avassalador, pois, ao rever a página do passado dos meus pais, não me reconheço naquele peso de sisudez, rigidez, como se a vida tivesse um prazo para não trazer mais novidades. Sou apaixonada pelas descobertas científicas… e um tanto quanto revoltada com essa visão do corpo encarcerado numa redoma de beleza plastificada. É uma crueldade com uma genética que foi criada com um propósito modelar. Perseguir juventude é não olhar para o futuro e se descobrir pleno, inteiro, livre para entender o Outro e aceitá-lo como sua metade disfarçada.
    É isso aí, Helê, a gente quando não precisa mais olhar com tanta crítica o próprio corpo, descobre a música que embala o coração, e se espanta com a luminosidade da alma dos seres. É um belo presente da vida.

    Um grande abraço.

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  3. No livro novo do Ubaldo Ribeiro (O Albatroz Azul) tem um trecho sobre envelhecer que tem um pouco a ver com o que você escreveu. Por isso, segue:

    “… talvez fosse arte da velhice, todo dia a velhice lhe trazia uma novidade, parecia coisa de menino crescendo.”

    Que belo isso, Cláudia, e de fato semelhante ao meu sentimento sobre o assunto.
    Obrigada pelo comentário e por compartilhar essa pequena pepita conosco.
    bj,
    Helê

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    • Helê,
      Que bom que você gostou da “pepita”. Mas devo confessar que nesse lance de ficar mais velha, nem sempre me sinto como uma menina vendo novidades. Muitas vezes eu me pego com aquela sensação de retinas cansadas e aí quem melhor traduz o meu mood é o poeta Carpinejar:

      “O jovem deseja surpreender o mundo; o velho deseja que o mundo o surpreenda.”
      Beijos!

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  4. Tá inspirada esses dias, heim, Helê?
    Mais um post adorável!
    :-)

    Gracias, querida.
    beso,
    Helê

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