Meta-identificação

Alice abre a porta da geladeira, bocejando. Passou o dia quase todo lendo e está se sentindo fora da realidade, como se sua própria vida tivesse se tornado insubstancial diante da ficção que a absorveu tanto.
Depois que você foi embora, Maggie O’Farrell

Talvez nunca tenha me identificado tanto com um personagem quanto no momento em que li esta frase. Empatias, várias, já senti e continuarei sentindo, posto que são a substância que constitui o prazer de ler.

Mas a sensação de repentinamente tornar a realidade mais irreal que o livro que me absorve, essa eu entendo completamente, vivencio cotidianamente, e no momento mesmo em que lia a frase era assim que me sentia, como se eu e Alice fôssemos, apenas naquele breve instante (já que de resto nossas trajetórias não têm mais nada em comum), a mesma pessoa.

E você? Quando lê ficção, como é sua experiência? Me conta.

-Monix-

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Instantâneos do carnaval – galeria

Eu disse que era uma agremiação obscura, não imaginária.

Taí a prova.

Eles também foram: Bob Dylan, House MD e Amy Fucking Winehouse

(Tá, não dá pra ver direito, mas beber, sambar e ainda tirar foto boa é querer muito da pessoa humana, né não?)

Quem foi que disse que o carnaval é desorganizado?

E nem foi o choque de Law & Order, é a organização espontânea do polvo carioca!

Ela caprichou no modelito Marilyn Moroe,
mas minha filha quando viu identificou logo:
Mãe,  a loura do banheiro!!!”

Figuraças…

…e figurinhas

esq: foliões do Cordão Umbilical, a maior concentração de fofura por metro quadrado do carnaval

dir: Clarinha, que encarou dois blocos na segunda e ficou melhor que o pai (abafa o caso!)

Nada mais adequado que o folião-mor dos Garbosos
fazer aniversário em plena segunda de carnaval.
Salve Indiana Jones!

Sempre ele, o príncipe –  rebatizado Claudius – e suas gentilezas. Detalhe da camiseta que ele usou na terça.

Ele veio e foi tuuuuuudo!!!

As Mulheres de Chico e ele, no meio da praça

Monobloco, Cinelândia, domingo 21 de fevereiro

Meu Deus vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar

Obrigada, Momo, ali eu sei que fui feliz.

Helê

Obama bem

15 de fevereiro, Botafogo, Bloco da Segunda

Porque no carnaval do Rio dá de um tudo!

Helê

Dá um tempo

O tempo não é linear. O tempo não é circular. O tempo passa aos saltos.

A gente vai vivendo naquele ritmo previsível, um dia após o outro,  vida passando devagar e sempre, e de repente a gente olha para trás e uma década se passou.

Quando alguém diz “dez anos atrás”, eu penso automaticamente em 1990. Aí me cutuco, acordo e lembro que dez anos atrás se refere a 2000.

Eu ainda sou da geração que considerava o ano 2000 um futuro distante, e não um passado remoto. Quando queríamos dizer que algo não ia acontecer tão cedo, dizíamos que só ia ficar pronto depois do ano 2000. Pois bem, já estamos depois do ano 2000. Bem depois. Meu carro não voa e nem minha empregada é um robô, os dias simplesmente continuam passando, um sucedendo o outro, como sempre foi e como sempre será.

-Monix-

Post scriptum: fui procurar uma imagem dos Jetsons para ilustrar o texto, e encontrei esta ótima do carro voador num post que fala sobre o outro lado do que eu estava dizendo: We Are The Jetsons. De certa forma, nós somos, também. (Trilha sonora mental: eu quero dizer / agora o oposto do que eu disse antes… Coerência, não trabalhamos com.)

Post pronto

Pegando carona na máxima que diz que o Brasil é o país da piada pronta, o carnaval é um manancial de posts prontos. Basta chegar na esquina e observar. Ou nem isso: passar os olhos na interminável listagem de blocos já garante um post e vários sorrisos. Os nomes podem ser inclusive categorizados.

Comestíveis: Azeitona sem Caroço; Banana no bacalhau, Banda Cultural do Jiló

Convidativos: Aperta que eu gosto, Imprensa que eu gamo, Vem nim mim que eu sou facinha, Se me der eu como, Me beija que eu sou cineasta

Intrigantes: Geriatria e Pediatria

Explícitos:  Fogo na cueca, Pinto Sarado, Balanço do Pinto, Perereca Imperial

Derrotados: Rola preguiçosa; Cachorro cansado

Autoexplicativos: Os imóveis; Concentra mas não sai, Me enterra na quarta

Trocadilhos: Feliz da Vila, Benjamim no Escuro (de integrantes da Benjamim Constant, escola pra deficientes visuais), Eu Choro Curto mas Rio Comprido (Rio Comprido, bairro carioca próximo à Tijuca), Seu Lagarto mama

Confessional: Já comi pior pagando

Inquisitivos:  Que merda é essa?, Voltar pra quê?

Onomatopaicos: Tchetcheca, Bloco do Uhhhhhh!

Sinceros: Porre certo, Desculpa pra beber, Só o cume interessa

Educados: Qual seu preço, meu amor?

Impossíveis: Virilha de minhoca, Perna de cobra

Poéticos: Simpatia é quase amor, Sorri pra mim

Me engana: Meu bem volto já, Meu amor eu vou ali

Adversativos: Assa o pão mas não queima a rosca, Envergo mas não quebro, Chupa mas não baba, Regula mas libera, Pinta mas não borra

Promessas: É pequeno mas vai crescer, É pequeno mas balança

Condicionais: Me dá teu gancho que eu te mostro o meu pivô

Motivacionais: Empurra que entra

Aceitamos  contribuições.

Helê

É luxo só…

…essa Helena quando samba, não é?

Pegando a deixa e vestindo a carapuça de carnavalesca teórica (não consigo imaginar definição melhor), aproveito para dizer aos poucos e loucos que, como eu, estão dando plantão na internet em plena sexta-feira de pré-carnaval que estou por aqui, achando tudo muito lindo mas com uma preguiça danada de me juntar ao coro dos contentes.

Não que eu não goste dos blocos, da animação, da beleza que é esta festa espontânea. Muito pelo contrário, acho muito bacana que o Rio de Janeiro tenha conseguido recriar seu carnaval de rua, de forma não-profissional (e digo isso no bom sentido), espontânea, bonita.

Mas eu estou que nem aquele sujeito mal-humorado que dizia “vá ao teatro… mas não me chame”.

Curtam bastante o carnaval, empolguem-se, divirtam-se. Eu estarei me divertindo também – mas sempre na direção oposta. E assim ficamos combinados; nos vemos depois das cinzas.

-Monix-

494

Este é o número de blocos, bandas e cordões previamente cadastrados na prefeitura  para evoluírem (com as bençãos de Darwin) nos próximos dias nesta Mui Leal e Heróica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Estão fora da conta os desfiles das escolas de todos os grupos e também as agremiações subversivas e espontâneas, sobre as quais somos informados pelos amigos dos amigos dos amigos. Os extremos de uma festa prapular.

Nós somos muitos e não somos fracos, como diria o Lulu Santos, mas você há de convir que há muito pela frente. Além das difíceis decisões sobre quais chamados atender, onde parasitar com garbo, ainda havemos de lidar com a administração e o gerenciamento do teor alcoólico na corrente sanguínea, atender e divertir os filhotes, além de provê-los em suas necessidades básicas, dosar a energia para que ela duracel o necessário, acordar cedo para os melhores blocos e lugares.

Sendo assim, pessoas, como vou beber, passo a direção pra Sócia, uma abstêmia funcional e foliã teórica, que eu estou em mode carnaval full. Tentei, mas meu cérebro recusa-se a tratar de outro assunto que não seja fantasia/confete/serpentina. Podendo eu apareço, mas não prometo. Se alguém perguntar por mim, diz que fui por aí…

E que o Profeta Gentileza guarde a todos nós.

Evoé,  Momo!

Helê

Instantâneos do Carnaval

Cidade do Samba,  meidia, quarta-feira antes do carnaval. Parte da Beija-Flor reunida para gravar uma entrada no RJ-TV. Curiosos observam, entre eles, turistas, claro. Um deles, uma mulher de alguma parte de Latinoamérica, aproxima-se e pergunta a alguém da escola, em portuñol:

– Donde está el Neguinho?

Havia alguém na frente; logo ela pode vê-lo. Mostrou-se satisfeita e rapidamente perguntou:

– E como ele está de saúde?

Assim, como se perguntasse por um conhecido ou uma amigo. Com preocupação, carinho e ternura, esses itens que não carecem de tradução ou justificativa.

Helê

Mirem-se no exemplo

Helê

Na marra

Foi dessa forma que emergi de um irretocável fim de semana pré-carnavalesco. Na marra, a pulso. Paguei contas, fui à reunião da escola, comprei uniforme, respondi e-mails, mas sabe Momo o custo dessa vida sem fantasia. Sempre ouvindo ao fundo, na Rádio Cabeça, os refrões da folia (“o carnaval/não vai ter fim…” ou “uma história de amor/sem ponto final…”) e achando tudo muito difícil sem um tamborim por perto, sem um arranjo na cabeça, umas purpurinas pelo corpo. Porque eu mergulhei nessa magia, era tudo que eu queria, como no antigo samba da Mocidade, e acordei hoje com saudade do carnaval. Então percebi que não foi um sonho e ele ainda vai chegar. Ô sorte!

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Oh, sim, na sexta estive na exposição sobre a qual a Monix falou e realmente foi um programão. Claro que não vimos exatamente as mesmas coisas, posto que eu passei por lá já num carnaval mode, pouco antes de seguir o Cordão do Bola Preta. Mas parece que os eflúvios carnavalescos alcançaram o Píer Mauá – ao menos o veleiro mexicano, no qual a tripulação tirava as moças para bailar e fazia demonstrações do que parecia ser uma dança típica, animadíssima.  Apreciei igualmente veleiros e marinheiros – que a gente precisa ter, digamos, uma visão ampla do evento. Abafa e arquiva.

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A aliança entre os Parasitas e o Me Chama consolidou-se de maneira irreversível nesses últimos dias. Uma sintonia fina uniu a todos e os intervalos eram tão divertidos quanto os desfiles, ensaios e blocos de nossa extenuante agenda. Uma das nossas muitas diversões foi criar nomes de blocos e de alas para nossas próprias agremiações, e seus respectivos gritos de guerra. A ala Arranca minha liga fez seu debut na Tiradentes, há provas materiais. Dado o nosso apego à importância da evolução nos desfiles, adotamos também a alcunha de Filhos de Darwin’(primos distantes dos Filhos de Gandhi) e atendemos ao chamado “Chora Galápagos!!!” (favor gritar com a mesma entonação de Chora cavaco!!!”).

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Em pleno Largo da Prainha, meidia, o maçarico do sol na cabeça, lata de cerveja na mão, ao lado da bateria, amigos em volta, constatei: estava no meu habitat natural. E me senti viva, de uma maneira absoluta, intensa, genuína. E muito feliz.

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O desfile dos Escravos da Mauá foi lindo, emocionante, perfeito. Com a participação da Grande Companhia Brasileira de Mystérios e Novidades, uma maravilhosa bateria, cheio à beça mas com espaço suficiente para brincar e sentir-se parte integrante da folia, e não um espectador (a essa diferença ficou patente horas mais tarde, quando assistimos ao ensaio técnico do Salgueiro). Fazia aquele já proverbial e infernal calor – o Coisa Runho inclusive apareceu pessoalmente – mas  havia também uma brisa intermitente e o céu era de um azul espetacular

*

O samba era belo, curto, bom de cantar, e o bloco imprime sua marca nos foliões que reúne: há uma incrível gentileza entre os foliões, licenças e desculpas entre um refrão e um confete, e a maioria deles está empenhadíssima em brincar o carnaval: sambar, rir, fazer troça dos outros, sorrir, aplaudir uma fantasia original, paquerar desavergonhadamente, rebolar idem, divertir-se acima de tudo. Havia os gaiatos do carnaval (outro bom nome, heim, pessoal?), os homens vestidos de mulher, mulheres que trepam (uia!), vimos de um tudo. Mesmo as mais sérias divergências políticas ficam suspensas, até segunda ordem. Passista jornalista que sou, não pude deixar de interpelar o deputado Chico Alencar, do PSOL, ao encontrá-lo tomando cerveja com o presidente. Ele esclareceu: “Quando encontro o Lula assim sozinho, sem o Sarney por perto, dá pra gente se entender!”

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O Bloco das Carmelitas pode ter reinventado a roda ao ensaiar na Praça Tiradentes. Um espaço grande, histórico, bonito e subaproveitado, ideal para abrigar outras rodas e ensaios, coladinho ao furdunço da Lapa, sempre prenhe de opções. Foi um programa simpático, um esquenta de responsa para uma noite que prometia – e que nós fizemos cumprir.

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Então é isso. Resta-nos paciência e resignação para botar as manguinhas de fora, e o que mais for possível. Falta menos do que já faltou, e quando acabar não termina. Adelante!

Helê

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