Saco

Impressionante como somos condicionados, e quando você pede uma coisa simples, mas fora do padrão, causa um choque. Um exemplo: dispensar sacola plástica. O cidadão, operando no automático, coloca seu pão francês filho único – que já está num saco de papel – num saquinho e você diz “não, não precisa”. Oito em cada dez vezes eu preciso repetir ou acrescentar, articulando todas as silabas “Não, não precisa de saco”. E muitas vezes a pessoa fica te olhando como se você tivesse falado em outra língua e ela estivesse tentando traduzir, com cara de comassim?!. Juro que às vezes eu chego a ouvir um clique na cabeça da pessoa, o cérebro escangalhando, levando um tranco, uma freada. Confesso que às vezes eu aceito a p*rra do saco por pura preguiça.

Helê

Vibração

Por incrível que pareça, em quase 20 anos de carreira hoje será a primeira vez que sairei mais cedo do trabalho, no Centro, para assistir a um jogo do Brasil.

Na Copa de 1994, estava recém-formada e fui contratada na semana em que os campeões estavam de volta ao Brasil. No meu segundo (ou terceiro?) dia de trabalho, fui toda animada para a rua receber a comitiva dos tetracampeões (só quem viveu aquela Copa sabe o que significou vencer depois de 24 anos esperando uma seleção campeã). O atraso foi homérico. Eu estava com a garganta inflamadíssima. Trabalhava no dia seguinte (emprego novo, recém-formada, não se esqueçam disso). Resultado: à uma da manhã peguei um táxi e fui para casa. No dia seguinte todos comentavam que ficaram até sei lá que horas da madrugada, viram o sol nascer, beberam até cair e tal e coisa, e eu só lamentava não ter visto Romário e companhia. Segundo maior trauma no que diz respeito a eventos históricos, perdendo apenas para a proibição paterna ao Rock in Rio primeira edição.

Em 1998, trabalhava em TV e fiquei de plantão no Rio, para as indefectíveis matérias sobre esquema de trânsito, Alzirão, comemorações na rua etc. Vi quase todos os jogos comendo pipoca na redação com os coleguinhas.

Em 2002, estava grávida e de repouso absoluto por recomendação médica. Não podia sofrer nenhum tipo de emoção forte sob risco de precipitar um parto prematuro. Tá bom pra vocês? Super combina com Copa do Mundo, né? Tentei não acompanhar os jogos, na madrugada (Japão e Coreia, lembram?), mas foi pior: o silêncio torturante me deixava ansiosíssima para saber o que (não) estava acontecendo. Assisti à Copa deitada na cama, muitas vezes cochilando entre um lance e outro.

Em 2006, estava em Cuba. Ficava sabendo dos resultados por um turista italiano do meu grupo, que torcia deseperadamente contra o Brasil, mas, coitado, remava contra a maré: todos em Cuba eram canarinho desde pequenos. Voltei para o Brasil pouco antes do jogo fatídico de nossa eliminação.

Sendo assim, me preparo para daqui a pouco sair à rua e ver o que nunca vi: a cidade se preparando para a festa máxima da nacionalidade brasileira.

E viva o Brasil.

-Monix-