Eu entristeci ao saber da morte de Saramago – como de resto todo mundo, afora os imbecis intolerantes, com o perdão da redundância. Logo depois substitui o sentimento por um pesar leve, que a relação com ele era recente e curta, das que ainda permitem que escolhamos o que sentir civilizada e racionalmente. De mais a mais, o senhor já tinha 87 anos, viveu intensamente, a saúde minguava – condições que favorecem a aceitação da morte. Lendo o comovido depoimento do Luis Schwacz, falando do amigo, achei mesmo inadequado sentir qualquer coisa: ali está alguém que pode, de fato, sentir a perda.
No entanto, não pude evitar o lamento; minha reação não-expressa foi “puxa, logo agora?”. Porque me aproximei há pouco dessa figura. Por força do ofício, li recentemente a biografia dele, e fiquei encantada com sua história, seu humor, o amor maduro com Pilar. E, sobretudo, com o extraordinário fato de o único Nobel de Literatura em língua portuguesa ser neto de analfabetos – o que eu considerei emblemático de um certo jeito (nosso?) de ser ibérico: de quem consegue ir tão longe saindo com tão pouco.
Então, ao saber da morte de Saramago, foi como se partisse alguém que acabara de chegar e com quem eu iniciava uma agradável conversa, que prometia ser muito interessante. Sorte minha que a conversa continua, e estou certa que a promessa será cumprida.
Helê
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Bacana o que li por aqui. Precisamos tanto de leveza,
de claridade, de humanidade. Aqui do litoral sul do Brasil vai um abraço. Fatima
Obrigada, Fátima.
Fique à vontade, volte sempre – a casa é nossa.
Abraço,
Helê
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Aiaiaiai, Helê, acho que vou cair no seu conceito e passar a ser considerada uma imbecil intolerante…
Eu nunca consegui gostar dele. Nem pelos livros, nem pelo postura política que sempre achei meio retrógrada.
bjos
Imagina, Meg, só corro o risco de conhecê-lo melhor ao vê-lo sob outro ponto de vista. Como eu disse, é uma aproximação recente.
Os imbecis intolerantes aos quais me referi são os que consideram o belzebu por ele ser ateu, gente se deu ao trabalho de tuitar que não se podia lamentar a morte de alguém que não reconhece deus. Aí não dá, né?
Adoro discordância de gente inteligente assim feito vc.
Beijão, obrigada pelo comentário.
Helê
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O interessante de quem deixa escritos é isso: o “diálogo” permanece possível, mesmo após a morte…
Sorte a nossa :-)
H.
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pra vcs, com meiguice e amor!
http://sabineas.tumblr.com/post/278030095
Obrigada, querida, adorei!
H
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Lastimável para quem trata e tratou nossa língua com tanto amor e respeito.
Eu queria ler esta biografia, me empresta.rsrsr…
Eu devolvo com certeza.rsrs…
Vc leu Ensaio sobre a cegueira? Tb queria ler!
Bjs.
Ô, querido, não dá, li no trabalho. E tb não li o Ensaio. Só li “O conto da ilha desconhecida”, do qual gostei muito.
Beijo,
H.
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