Estreou aqui no Rio a montagem da dupla broadwayana Moeller-Botelho para o musical Hair, que está sendo anunciada como a peça “que mudou o mundo”. (Na verdade, há controvérsias: eu já acho que o mundo mudou e isso possibilitou que fosse produzido este musical totalmente mainstream sobre a contracultura. But I digress*.)
Ao contrário do filme, que mostra a jornada de um garoto caipira e conservador em direção ao movimento hippie (com consequências trágicas), a peça fala de um hippie sendo lentamente cooptado pelo sistema (com consequências igualmente trágicas).
O filme é mais bem sucedido ao apresentar o contexto da época, através de uma trama mais bem amarrada, para quem não sabe do que eles estão falando.
Em compensação, a montagem teatral vai direto na veia. Ouvir em minha língua materna o verso inicial “Quando a lua dominar o céu…”, introduzindo a canção sobre a Era de Aquário, produziu um arrepio de emoção muito forte, inesquecível.
A peça é lisérgica, tem um clima super psicodélico. A produção optou por superar uma certa ingenuidade inevitável, trazida pelo distanciamento histórico, criando um vínculo bastante estreito entre elenco e público**. Funcionou. O espetáculo termina com uma grande happening que mistura os vovôs da plateia aos jovens do elenco. E é sensacional constatar que o pessoal de cabelos brancos provavelmente é (ou foi, em algum momento de sua juventude) bem menos careta que os cabeludos do palco.
Veja como foi a estreia de Hair
A cereja do bolo é o teatro Casa Grande, conhecido por seu histórico de resistência, quando ela era necessária – hoje inteiramente reformado.
-Monix-
* Essa foi pra você, sócia. Eu sei que você a-do-ra.
** Vale a pena comprar os ingressos mais caros e sentar perto do palco. Eu não fiz isso e me arrependi.
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[…] Hair – uma produção da dupla Möeller & Botelho não tem muito como dar errado. Curiosamente, no início do ano também assisti ao Despertar da Primavera, que tem o clima oposto: uma trama soturna, angustiante, embora seja um musical impecavelmente produzido, como sempre. […]
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Adorei sua dica, pena que não estou ai para poder assistir!
Vi o filme há tanto tempo, que nem lembro quando foi. Lembro que tínhamos em casa a trilha sonora vinil duplo. Lembrei das tardes que passei cantando junto e chorando quando tocava let the sunshine in! Vi o clip da peça fiquei com uma vontade enorme, imensa de ver!
Na impossibilidade, procurei no youtube, para escutar enquanto escrevo aqui!
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Tenho em casa os prospectos da primeira montagem teatral brasileira: Armando Bogus no papel de Berger. E participei da montagem de figurino de uma montagem amadora em 1992 (músicas traduzidas).
Fiquei curiosa para assistir.
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Por acaso vi o filme este ano, intimada pelo meu chefe, que é fã de carteirinha e sabe todas as músicas. Fiquei assim ó, de queixo caído, morrendo de vontade de sair dançado pelo aterro do Flamengo (que, como sabemos, não fica atrás de Central Park nenhum). Dificilmente verei a peça, e acho até curiosa toda a badalação que está tendo esta montagem, principalmente porque toda a discussão está se passando em torno da “mensagem”, enquanto eu acho que a parte “performance” do filme/espetáculo é, para o público de hoje, mais impactante. Mas enfim, que bom que seja assim.
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anna, que interessante iso que vc apontu: realmente, a parte da mensagem talvez esteja muito mais uperada que a performance em si, mas parece que as pessoas que já tinham um apego com o espetáculo não sacaram ainda isso… :-)
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