Eu já fui magra. Muito magra. Passei a infância ouvindo aqueles comentários típicos das famílias grandes e matriarcais, tipo “está muito magrinha”, “precisa comer mais arroz-com-feijão” ou o indefectível “que gracinha, engordou um pouquinho, está mais saudável”. Na adolescência, ganhei rapidamente um quadril digno de uma descendente da família “Miranda Merenda”, apelido carinhoso usado para se referir à nossa ascendência baiana (e gulosa), mas continuei magra. Muito magra. Tinha dificuldade para comprar calças jeans: ou ficavam largas demais na cintura, ou não passavam nos quadris. Como (quase) toda adolescente, me achava feiosa, inadequada, esquisita.
Depois engordei um pouco. E mais um pouco. Hoje estou pelo menos 15 quilos acima do meu peso ideal. Pelo cálculo do IMC, estou a uns 2 quilos da obesidade. O que muito me assusta, pois não me considero nem perto de ser uma pessoa obesa. Sou feliz com meu corpo como talvez nunca tenha sido quando pesava cinquenta e poucos quilos. Gostaria de ter braços mais finos e uma barriga um pouco menos proeminente, mas fora isso estou muito satisfeita com minha aparência. Mas o curioso é que embora os dados objetivos e minha auto-imagem subjetiva não combinem, os fatos estão me puxando para a dura realidade da vida. Pela primeira vez, entendo o que significa me sentir literalmente pesada. É mais difícil subir escadas e andar em ladeiras: estou carregando mais peso, logo, o esforço é maior. Também pelo mesmo motivo, tenho mais dificuldade para carregar bolsas e sacolas. Sinto mais calor. Tudo isso é muito chato. Não caber em todas as roupas que gosto também. Mas é basicamente o que me incomoda. Poderia continuar para sempre com este peso, sem me preocupar em emagrecer um grama.
Enfim, acho que o que estou querendo dizer é que o peso da idade (metafórico) talvez não seja uma coisa tão ruim. Aparentemente, é ele que tem me ajudado a lidar com o peso (não metafórico) do meu corpo. Auto-aceitação é o melhor espelho que há.
-Monix-
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