Da arte de receber um elogio

Além das lições e descobertas que conquisto na terapia, volta e meia pinta um bônus, aprendizados obtidos com meu terapeuta observando suas ações e reações (quem disse que só ele pode analisar? ) Além do que elaboramos juntos, das fichas que ele deposita na minha  dura cabecinha  – e que às vezes levam um tempo excessivo para cair. Há movimentos, emoções,  situações em que pouco é falado, mas nem por isso a mensagem é menos eloquente.

Refiro-me a um encontro recente em que eu “abri os trabalhos” agradecendo. A sessão anterior tinha sido sofrida e ele esteve particularmente inspirando, dosando com delicadeza palavras de apoio e conforto com falas profissionais; dando os toques que só mesmo um terapeuta pode dar, sem abrir mão do carinho que inevitalmente se estabalece numa relação intensa e duradoura como a nossa.

Ao agradecê-lo e elogiar sua “atuação” notei que ele ficou comovido,  e agradeceu, olhando fundo nos meus olhos, sorrindo. Não fez nenhum gesto grandioso, mas tão pouco comentou o elogio ou o que o provocou: apenas aceitou-o verdadeiramente,  sentindo e recebendo minhas palavras sem nenhum subterfúgio.

E eu me dei conta de como é raro isso: ouvir, de fato, aceitar e receber um elogio. Observe como você reage. Em geral,  a gente responde com um agradecimento rápido e automático ou solta uma piadinha qualquer, uma gracinha que diminui o feito (“não foi nada!”) ou desqulifica quem elogia (“Você diz isso pra todas!”). Há algo de desconcertante em ser elogiado, e quanto maior a franqueza, maior nosso desconforto e a necessidade de acabar logo com isso.  Como se fosse coisa de somenos importância, ou como se não merecêssemos.

Claro que há elogios feitos por educação, autômatos, sem um significado profundo. Contudo, se tratamos todos da mesma forma jamais poderemos diferenciá-los daqueles realmente significativos.

Talvez não chegue a ser exatamente uma arte, mas nós não somos ensinados a receber elogios – receber assim, de peito aberto, sorvendo e sentindo o prazer que ele encerra.  Eu, que já exaltei aqui a importância de elogiar  e os benefícios que um elogio pode trazer, não escapo à regra: também preciso exercitar a capacidade de recebê-lo, de abrir espaço para aceitar o bem. Porque, como aprendi num filme,  “o amor não é um sentimento, é uma habilidade“. Aceitar verdadeiramente um elogio significa exercitar essa habilidade no que talvez seja uma das mais difíceis modalidades: o amor próprio.

(Daqui)

Helê

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Precoce

(Do Sing until it hurts)

Tem coisa melhor que beijo dado assim, segurando o rosto? Bom, tem, mas esse é ótimo, não? ;-)

Helê

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