Sobre toda estrada, sobre toda sala
Paira, monstruosa, a sombra do ciúme
Caetano Veloso
Muitas vezes ouvi de amigas: “mas como você consegue não sentir ciúmes?” E explico: mas quem disse que não sinto ciúmes? Sou humana, ora pois. Só que aprendi (aliás, estou aprendendo, certas tarefas nunca são encerradas) a compreender o ciúme como um problema meu, e não do casal. Perceber desta forma muda tudo. Eu preciso lidar com o sentimento, e não nós.
Qual é a diferença, direis? Acontece que quando a pessoa A sente ciúmes da pessoa B por causa da pessoa C, o relacionamento entre A e B traz para dentro de si C. E isso não é algo muito inteligente a se fazer. Mesmo que B não sinta nada por C, o estrago já está feito. A e B irão jantar fora, num lugar bacana, e a sombra de C estará sentada à mesa junto com eles. Viajarão e levarão C na bagagem. E por aí vai.
Claro que esta é uma racionalização e ninguém controla os próprios sentimentos – aliás, ninguém em sã consciência defenderia isso: faz mal, dá azia, dor de cabeça e até câncer. Mas podemos, sim, tentar lidar com nossos sentimentos em vez de nos tornarmos escravos deles. Esse negócio de “minha vida é um livro aberto”, “amor, no que você está pensando agora?” só atrapalha a vida afetiva das pessoas. Um pouco de sombra não faz mal a ninguém.
Tive a felicidade de me relacionar com quem também não acredita no ciúme como demonstração de amor. Sei que em muitos relacionamentos esse jogo é essencial para provar a importância que se dá ao outro. Comigo não funcionaria, detesto me sentir cobrada ou injustiçada. Quero confiar e ser digna de confiança, respeitar e ter meus sentimentos respeitados, como todo mundo. Mas tenho um caráter meio independente, não quero abrir mão de ir a lugares que minha cara-metade não curte, ou, pior, ter que ir a lugares que não quero só pela obrigação de acompanhá-lo. Como diria Edgard Scandurra, eu sou eu e você é você. E isso é o que mais me agrada.
-Monix-
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