Trapos coloridos

O ocorrido é fato 100% verídico, posso atestar porque aconteceu comigo.

A pessoa foi ao médico. Queixou-se de ter lapsos de memória, de estar mais esquecida que o normal. A médica prescreveu um remedinho do bem para ajudar. A pessoa foi à farmácia e comprou o remédio, de manhã.

À noite, chegando em casa, a pessoa percebe que não se lembra onde deixou o remédio. Não sabe se esqueceu na farmácia. Não tem muito bem certeza se foi à farmácia hoje mesmo ou se foi ontem. Quer dizer. Né?

-Monix-

Logo em seguida lembrei de tudo, após uma exaustiva reconstituição mental. Mas enfim, bora tomar esse remédio e torcer para fazer efeito. Antes que eu me esqueça para o que mesmo ele servia.
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Falta pouco

Falta pouco, gente. Já, já agosto acaba. E então, como na canção, “o sol há de brilhar mais uma vez, o amor há de chegar aos corações”*.

Não, eu não tenho o que reclamar do mês que ora termina. Esse ano, para mim, agosto caiu em julho, e o mês tido como o do desgosto tornou-se memorável, sobretudo pelos reencontros que Minas me proporcionou.

Mas não foi assim para todo mundo, e acho que pensar, torcer e acreditar que as coisas vão melhorar, tudo isso ajuda sempre, há poder nessas ações. Sim, trata-se apenas de virar a folhinha, mas o que seria de nós sem esses rituais que, afinal, servem para isso: organizar a vida, aquietar o coração e renovar a nossa fé. Porque a gente tem que colocar a esperança onde quer que ela nos ilumine.

Em setembro ela há de luzir.

Ou seguiremos tentando.

(Call of the Raven by Rob A. Johnston)


Helê

*Juízo final, de Nelson Cavaquinho. Aqui, na bela gravação de Zizi Possi.

Vergonha

Quem mora no Rio já está acostumado a ter um lado meio guia turístico amador. Ao longo do ano, muitas vezes recebemos aquele e-mail ou telefonema tão familiar: “oi, meu amigo gringo / filho / cunhado está indo passar uns dias no Rio, você teria uma sugestão de passeio / hospedagem / balada / restaurante?”

No meu caso, é um prazer atender esses pedidos. Além do fato de ser apaixonada (ainda que nem sempre tenha razões objetivas para isso) pela cidade, desconfio que tenho mesmo uma vocação reprimida para guia turística – não é para “me gabar” não, mas meus e-mails com dicas de viagens não costumam deixar o cliente insatisfeito. :-)

Quando recebo hóspedes de fora, o único passeio a que faço questão de leva-los é um giro pelo Centro do Rio. Pode ser a Cinelândia com seus prédios históricos e o suntuoso Cinema Odeon BR; uma caminhada pela rua do Lavradio, ou a Praça XV, ou a Gonçalves Dias com a imperdível Confeitaria Colombo; a travessia da avenida Presidente Vargas com a igreja da Candelária “de costas”; ou a renascente Zona Portuária, com o charmoso Largo de São Francisco da Prainha, a Gamboa, a confusão da Praça Mauá.

Uma recomendação que nunca falta é que o visitante tire um tempinho para ir à Lapa e a Santa Teresa, dois lugares onde o Rio é mais carioca. Quem vem de fora costuma ficar muito restrito ao circuito Zona Sul – praias, e essa é só uma face da cidade – uma parte importante do que somos, mas não a única.

Por tudo isso, o acidente com o bondinho de Santa Teresa, um cartão postal valioso da cidade, é imperdoável. Não dá para aceitar o descaso das autoridades responsáveis pela manutenção dos bondes e pela segurança dos passageiros. Já seria um acidente gravíssimo em circunstâncias normais (um meio de transporte, que leva pessoas de um lugar a outro, administrado pelo Estado, tem que estar acima de qualquer dúvida no que diz respeito à segurança). Mas em se tratando de um ponto turístico importantíssimo de um município que vive de sua reputação de Cidade Maravilhosa, sinceramente, não dá para relevar nem atenuar. Espero que o luto dos próximos dias tenha pelo menos o efeito de catalisar as mudanças importantes que precisam ser feitas no sistema de bondes de Santa Teresa.*

-Monix-

* Espero porque sou de esperança. Os fatos não nos deixam muito espaço para otimismo.

Multidão

Recebemos na semana passada um simpático e-mail:

Olá!

Sou estudante de audiovisual na Escola de Comunicação da UFRJ e estou produzindo, com outros alunos do curso, o curta-metragem, “Bovarius Flavus” (em tradução livre do latim “Vaca Amarela”).


A história trata das diferenças e rivalidades de Joaquim e Teobaldo, dois meninos que competem pelo título de melhor jogador de bolinha de gude da pracinha. Pouco a pouco, os dois acabam isolados, e em meio à sua guerra, passam a entender que é justamente em seu rival que encontram identificação. Um elo que perdurará pelo resto de suas vidas, à sua própria maneira.
Como toda produção independente, toda a ajuda (e isso inclui muita divulgação) é sempre necessária. E é por isso que estamos entrando em contato pra pedir que o blog Duas Fridas nos ajude nessa fase do curta-metragem.

Nosso projeto acaba de entrar no ar do site de crowdfunding Catarse , uma plataforma incrível para realizadores e cineastas independentes, assim como nós, divulgarem seus projetos e captarem contribuições de investidores diversos. Quem contribui para o projeto ganha recompensas exclusivas e, de quebra, colabora para a renovação da cultura nacional.

Seria uma ajuda enorme para nós ter nosso projeto divulgado no blog Duas Fridas. Ou ao menos contar com a contribuição de vocês no Catarse ; )
.
Entramos no site do projeto, muito bonito e bem estruturado. A sinopse do curta é tocante, e tudo indica que o grupo irá realizar um belo trabalho.

Além disso, simpatizamos muito com a ideia do crowdfunding, que em bom português significa “financiamento pela multidão”. É a internet no seu melhor, ou seja, reunindo pessoas em torno de um objetivo em comum.

E a cereja no sundae, para nos fazer simpatizar ainda mais com o projeto: o grupo é da ECO, nossa Escola de Comunicação, onde uma cursou a graduação e a outra fez o mestrado. Ou seja, tudo a ver com a gente.

Ajudem e divulguem, queridos leitores. Só com uma ideia na cabeça e uma câmera na mão já não se vai mais tão longe quanto antigamente…

Duas Fridas

Almoço de domingo

Uma vez, mais de dez anos atrás, fui a São Paulo participar de um seminário e acabei passando o fim de semana na casa de amigos. No domingo fomos almoçar num restaurante que, segundo meu anfitrião, servia o melhor galeto da Vila Madalena, mas era importante que chegássemos cedo, para evitar a fila e uma possível longa espera por uma mesa. Achei aquilo muito estranho, coisa de paulista mesmo. Na época, não me passava pela cabeça que tantas pessoas optassem por ficar horas numa fila para… comer. Domingo, para mim, era dia de almoçar com a família, ou, simplesmente, preparar um prato especial, curtir minha casa, descansar.

Hoje em dia me pego fazendo o mesmo cálculo do meu amigo: se acordo depois das 10 horas, será que devo tomar café da manhã? Não seria melhor esperar até meio-dia e partir logo para o almoço? Ou tomo um café reforçado, vou ao cinema cedo e almoço lá pelas cinco ou seis da tarde? Tudo para evitar as malditas filas dos restaurantes no domingo.

Na minha infância, almoço de domingo era na casa da avó – acho que alternávamos, às vezes almoçávamos com uma e lanchávamos com a outra, e depois vice-versa. Não lembro bem qual era o esquema do rodízio, na verdade, mas tenho certeza que domingo era dia de vó. E de ver os primos, ouvir as conversas dos adultos, levar broncas, rir um bocado, implicar com os menores, comer uma comidinha gostosa e encerrar a semana me sentindo parte de um grupo.

É difícil manter essa rotina hoje em dia. Ninguém quer cozinhar no domingo – eu também não quero. (Às vezes até quero, viu? Mas enfim.) As famílias são confusas, as agendas são complicadas, cada um tem seus interesses e o espírito do tempo não nos permite mais sacrificar os desejos individuais em favor de manter uma tradição.

Não pretendo concluir se estamos em situação melhor ou pior – acho que, como o Salgueiro, é apenas diferente.

-Monix-

 

Boa sexta!

No muerdo a menos que quieras

…ou mereça ;-)

(via ultimo-romantico)

E bom finde!

Helê

Coisas que as mães fazem quando os filhos não estão olhando

Depois que a gente põe filhos no mundo, não dá mais para fazer certas coisas que fazíamos quando éramos apenas filhas. Agora temos que dar exemplo, educar, ensinar boas maneiras e todas essas coisas ao mesmo tempo importantíssimas e meio chatas.

Mas às vezes até as mães têm uma folguinha, quando os filhos não estão por perto. E aí é a hora de inverter os papéis, e cometer pequenas transgressões já que “ninguém está vendo”. Tipo, por exemplo, passar o fim de semana inteirinho sem fazer a cama. Deixar os lençóis bagunçados, dormir com a roupa do corpo, abrir mão da ordem em nome da preguiça. Ou então pegar o prato de comida e sentar no sofá, em frente à TV, ignorando as regras tão bem estabelecidas de que “lugar de fazer a refeição é na mesa!”. Comer a sobremesa antes do almoço – ou, quem sabe, em vez do almoço. Comer leite em pó na colher (essa dá até pra fazer escondido, quando eles não estão na cozinha).

O problema é que está cada vez mais difícil não ser observada – agora mesmo, vai que eles leem isso? Melhor assinar em dupla, que a gente sempre pode alegar que foi a outra.

Duas Fridas

Voltei

Com a alma leve e o coração pleno, embalada pelo carinho que recebi em doses abundantes. Tanto que ainda não dá para falar sobre – deixa eu aqui relembrando e sorrindo sozinha meio boba, sovando essa alegria aqui no peito pra fermentar e crescer. Mais adiante eu reparto c’ocês, tá bom?

Por ora, segue um beijo estalado e um obrigada comovido pras mineiras e mineiros que me receberam em Belzonte. Coimailinda esse povo, gente, cês num têm idéia!

Helê

Fui

Ironia do destino

Muito já se falou sobre o absurdo dos preços de ingressos para shows, teatros e cinema no Brasil. Os responsáveis pelos espetáculos se justificam creditando os altos valores cobrados à lei que os obriga a cobrar meia-entrada de estudantes. O objetivo é nobre – estimular os estudantes, que em geral não têm muito dinheiro  sobrando – a ampliar seus horizontes culturais através da música, das artes cênicas, da sétima arte.

O problema é que ocorreu um efeito imprevisível desta norma, e os estudantes (pelo que alegam os produtores de eventos culturais) passaram a compor a maior parte do público pagante. (E nem vou me aprofundar na questão da falsificação, porque não tenho tempo para pesquisar, mas uma observação empírica entre amigos e conhecidos me faz suspeitar que o índice deve ser bem alto.) Com isso, os preços foram subindo, subindo, até chegarem ao patamar atual, que obviamente não é realista para quem paga a entrada inteira. O valor real seria, portanto, o da meia-entrada. Quem não é estudante ou idoso, ou seja, a “segunda idade”, acaba pagando, na verdade, o dobro do preço justo.

Daí que agora eu sou estudante. E tenho uma carteira de estudante. Posso legitimamente me beneficiar da prerrogativa de pagar o preço verdadeiro dos ingressos de shows, por exemplo. E aí entra a ironia do destino, esse senhor caprichoso e brincalhão, que se diverte às custas da gente: o fato de estar trabalhando e estudando (aos 41 anos*, é bom que se diga) por si só acaba com qualquer possibilidade de eu ter disposição para ir aos tão interessantes eventos culturais que acontecem na cidade. Sem falar que, por exemplo, caso eu conseguisse achar ânimo para encarar o show do Steve Wonder no Rock in Rio… teria que perder uma aula para ir até lá. #paradoxofeelings.

Ou seja. Né? Quando a pessoa quer, não pode. Quando pode, não consegue. Valeu aí, seu Destino.

Eu, eu ,eu a Monix se deu mal!

-Monix-

* E não, por mais que a gente queira, os 40 não são os novos 30. O peso da idade, às vezes, é mais que uma expressão em sentido figurado, e a gente sente, literalmente, que está levando uma carga extra – no bom e no mau sentido.

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