A mão invisível e o parlamento virtual

Já que a Helê resolveu fazer o Túlio Villaça, me dei o direito de fazer o Alex Castro e publicar aqui no blogue algumas coisas que ando produzindo para a pós-graduação em Comunicação que comecei no primeiro semestre. Este texto, por exemplo, foi um trabalho que entreguei ontem: uma resenha do texto “A Cara Antidemocrática do Capitalismo”, de Noam Chomsky. ***

A reprodução deste texto não está autorizada, no todo ou em trechos selecionados.

-Monix-

A campanha presidencial norte-americana de 2008 teve como pano de fundo a crise de crédito que se iniciou no mercado financeiro daquele país e se alastrou rapidamente pelas economias globalizadas. Este é o tema central do artigo “A Cara Antidemocrática do Capitalismo”, de autoria do filósofo e linguista Noam Chomsky. Para ele, era inaceitável que o foco central da campanha não fosse a crise, suas causas e os remédios possíveis. Uma verdadeira democracia não poderia escolher seu principal líder sem levar em conta “esses assuntos fundamentais”, e sem discutir maneiras de o povo exercer algum tipo de controle sobre os agentes econômicos causadores da grave turbulência econômica, cujos efeitos tiveram (e ainda têm, três anos depois), consequências diretas sobre o dia a dia dos cidadãos.

Além de questionar o descolamento entre o debate eleitoral e os graves acontecimentos que se desenrolavam em paralelo, Chomsky analisa o que chama de “capitalismo de estado”, ou seja, o regime econômico sob o qual vivem as democracias capitalistas contemporâneas. Atualmente as grandes corporações são tão dominantes na sociedade que é preciso investir todos os recursos possíveis em sua manutenção, mesmo quando isso significa salvá-las de si mesmas. Desta forma, o capitalismo, que – por sua origem e por todo o arcabouço ideológico que o sustenta – deveria ser regulado pela “mão invisível” do mercado, ironicamente vem sobrevivendo à custa da “intervenção maciça do estado” todas as vezes em que ameaça entrar em colapso.

Em síntese, a crítica chomskiana passa pela constatação de que a liberalização financeira tornou-se uma “arma poderosa contra a democracia”. O “parlamento virtual”, estabelecido a partir do momento em que os capitais passam a se movimentar livremente pelas economias globalizadas, tem influência inclusive sobre programas governamentais. Este poder composto por investidores e credores se alinha, sempre, com os interesses do capital privado, mesmo que estes sejam contrários ao benefício do povo. Eis aí a “cara antidemocrática do capitalismo”.

Comprovando a linha de raciocínio de Chomsky, em agosto de 2011 (com o democrata Barack Obama eleito presidente dos Estados Unidos) vimos a nação mais poderosa do mundo enfrentar o risco efetivo de default de sua dívida pública, o que levou a quedas expressivas nas bolsas do mundo todo e ao rebaixamento da avaliação de risco norte-americana – pela primeira vez na história os títulos do Tesouro (treasuries) deixaram de ser considerados “AAA”. A atitude tomada pelo presidente após uma difícil negociação com os republicanos, que acabou por permitir a elevação do teto de dívida, foi fazer um pronunciamento afirmando que o rebaixamento da nota norte-americana não se deveu a questões de credibilidade financeira e sim política. Em suma, Obama disse que o mercado continua confiando na capacidade do governo americano de honrar suas dívidas, citando, para isso, o megainvestidor Warren Buffet, que teria afirmado que se houvesse uma classificação de risco “AAAA” ele a concederia aos Estados Unidos. O que Obama precisava fazer, naquele momento, era tranquilizar os mercados mundiais e evitar um efeito cascata que, em última análise, deixaria as organizações, financeiras e não-financeiras, em situação mais delicada do que a que já se encontram. Como concluiria o próprio Chomsky em seu artigo publicado três anos atrás: “os EUA têm efetivamente um sistema de um só partido, o partido dos negócios, com duas facções, republicanos e democratas.”

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