Modernos como nós

Estou assistindo a uma série de TV chamada Mad Men, que mostra a vida de um publicitário (e do universo de pessoas com quem ele convive) no início dos anos 1960. É uma produção muito bem cuidada, que teve suas quatro temporadas premiadas com um Emmy (é uma façanha, principalmente se considerarmos que este ano eles bateram nada menos que Game of Thrones, da HBO).

Don Draper

O roteiro é primoroso e equilibra o ambiente de trabalho e os ambientes domésticos da maioria dos personagens, e não apenas dos principais, de uma maneira que nunca vi ser feita antes, nem na TV, nem no cinema, nem na literatura. Nós conhecemos aqueles personagens em todas as suas dimensões, e por isso conseguimos formar um retrato completo de cada um deles. Na maioria das vezes, as histórias são contadas a partir das relações no trabalho (House, 30 Rock) ou das relações privadas (Seinfeld, Friends), e podemos até ter pinceladas sobre o “outro lado”, mas são só isso – pinceladas. Em Mad Men, é diferente.

Outro ponto forte é a reconstituição de época, tão bem feita que muitas vezes me senti transportada por uma máquina do tempo, para 50 anos atrás. (E não é essa a função da ficção, no fim das contas?) Não falo apenas da caracterização, dos figurinos, dos cenários, mas sim do espírito do tempo, que está todo lá. As pessoas fumam, o tempo todo. Grávidas fumam (e bebem). Fuma-se dentro dos escritórios e até no avião. A enfermeira pergunta à parturiente se ela “pretende amamentar” – e a resposta é não. Cada profissional tem uma sala, com porta fechada e, na maioria dos casos, uma secretária. O pai é o provedor da família, e quando ele manda as crianças para o quarto, elas obedecem sem pestanejar. As donas de casa cozinham, e quando os maridos chegam em casa encontram o jantar servido.

À primeira vista a série parece extremamente machista, mas ao fim e ao cabo, os tempos eram assim. Há diversas personagens femininas fortes e interessantes. Todas elas têm nomes e sobrenomes. Elas conversam entre si o tempo todo. Sobre inúmeros assuntos, inclusive homens. E se você está ligada(o) no meu raciocínio, isso significa que Mad Men faz parte do seleto grupo de obras de ficção que conseguiu passar no teste de Bechdel.

Betty e Francine falam sobre política

Por fim, outro mérito da produção é escapar do olhar romântico que costumamos lançar sobre aquele período pós-segunda Guerra e pré-movimento hippie, mais ou menos entre 1946 e 1968. Não há ingenuidade ali. As pessoas viviam um tempo de mudanças e sabiam disso. Eles se achavam – e eram – tão modernos com suas máquinas de escrever elétricas, seus projetores de slides e seus telefones de baquelite quanto nós somos com nossos iPads, TVs de LED e smartphones.

-Monix-

O engraçado é que o mesmo tema era visto por essa geração, em um tom cômico e portanto obviamente mais superficial, de forma bem mais inocente, em Bewitched (A Feiticeira).

 

 

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Dia das crianças

Que todas elas se sintam reis

(via tuamaegosta)

… e rainhas

I see a queen, Frank Morrison

(Especialmente as meninas negras).

Helê

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