Duas medidas

O jornal Valor Econômico publicou em seu suplemento de fim de semana reportagem sobre uma polêmica envolvendo o programa de animação Café Central, exibido em Portugal. No desenho, uma das personagens é uma prostituta que fala com sotaque brasileiro. A visão preconceituosa sobre a mulher brasileira rendeu uma série de protestos, e já circula um “manifesto em repúdio ao preconceito contra as mulheres brasileiras em Portugal“,  com pouco mais de 1.200 assinaturas.

É claro que essa visão estereotipada a respeito das brasileiras é ofensiva e deve ser criticada. Tentei assinar o manifesto, mas a petição está fechada pelo autor, por isso não consegui.
Mas não pude deixar de pensar o quanto é irônica a reação que nós brasileiros temos quando somos alvo de preconceito vindo “de fora”. Pois não percebo essa mesma energia sendo consumida para combater os preconceitos aqui dentro. A mulher brasileira é retratada com vulgaridade não apenas por portugueses (e demais “gringos”), mas principalmente por nós mesmos, por nossa TV, nossas propagandas, nossas músicas, nossas manifestações culturais. Nossa informalidade de comportamento, nossa menor repressão sexual (em comparação a países mais conservadores) é interpretada, tanto por estrangeiros quanto por nativos, com uma dupla medida: os homens são latin lovers, as mulheres são periguetes.
Quando movimentos sociais organizados protestam contra a representação estereotipada ou preconceituosa da mulher brasileira na mídia, todos gritam: patrulha! censura!, mas isso fica aqui entre nós. O que não pode é vir alguém de fora falar a mesma coisa. Aí sim somos valentes e sabemos defender a “honra” da mulher brasileira. Aí sim, de repente, o discurso politicamente correto deixa de ser uma chateação e passa a ter valor. Isso fala muito sobre a (falta de) empatia de que a classe média brasileira é capaz.
-Monix-
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Mona e eu…

(via Picsy)

… de férias.

(Monotemática, Heu?!)

Helê

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