A vó Maria, uma das bisas da minha filha, era uma criatura adorável de quem todos guardam lembranças doces e divertidas. Sofreu bastante nos últimos meses de vida, quando os remédios pouco combatiam o câncer que ela enfrentou enquanto pode. Pois essa mulher que viveu por 84 anos, e naqueles dias sentia dores terríveis, confidenciou a um irmão, semanas antes de morrer: “Nunca pensei que eu fosse embora tão cedo!”. Quer dizer. A pessoa era agarrada na vida, e onde víamos apenas sofrimento ela ainda divisava algo bom o suficiente para lamentar perder. A frase carrega um tanto do humor característico da vó Maria, mas também aponta para os mistérios de estar nesse mundo.
Lembrei dessa história no dia em que La Outra apareceu aqui indignada com uma revista semanal que prometia 150 anos de vida e ela declinava, evocando qualidade antes de tudo. Também não me gusta a idéia de envelhecer ad infinitum, ir encolhendo feito o Niemeyer/Frei Damião, com um olhar que já parece estar além dessa dimensão. Mas também não consigo ser taxativa. Eu tenho é muita dificuldade de pensar assim pra frentemente, nem imagino o que eu vou querer aos 80 anos (na boa, nem aos 45, que é logo ali!). Sei é que hoje se a @RealMorte me mandasse um tweet convocação eu ficaria muito frustrada, como alguém que é chamada para ir embora quando a festa parece mais animada. Mas desconfio que, assim como a Vó, eu sempre acharei isso, seja daqui a 20 ou 50 anos. Continuo rezando na cartilha de Veríssimo, Meu Rei: morrer é a última coisa que eu quero que me aconteça!
Helê
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