Adulta há vinte anos

Quando fiz 40 anos, achei que essa tal “Crise dos 40” era superestimada, que na prática não mudava nada, que eu me olhava no espelho e via a mesma coisa que sempre vi.

Mas agora me lembrei que quando completei 30 anos, uma amiga um ano mais velha disse que o problema não era chegar aos trinta e sim aos trinta… e um. Esse “…e um” é que nos deixaria conscientes de que o caminho é sem volta.

Pois aos quarenta… e dois, algumas fichas começaram a cair e de repente percebi que não é nada disso – que muita coisa mudou sim. (A mais evidente delas é o espelho, aquele amigo traiçoeiro.)

E embora já venha pensando nisso há um tempo, o que me motivou a escrever foi o post da sócia aí embaixo. De repente, um casamento de 20 anos, embora admirável, me parece uma coisa normal. Normal assim no sentido de que 20 anos é um período de tempo que eu entendo. Eu já era adulta há 20 anos e isso é muito claro para mim, hoje.

Este semestre estou dando aula para um curso de graduação, uma experiência totalmente nova para mim. Ano passado fiz a pós, e na minha turma a média de idade devia ser, no máximo, 25 anos. Trabalho com uma equipe bastante jovem. E essa convivência tem me mostrado uma realidade que não chega a ser dura nem triste, apenas é o que é: eu já era adulta há 20 anos!

Isso significa que algumas referências que para mim são super recentes, para eles são memórias de infância. Outro dia estava comentando alguma coisa sobre boy bands (não perguntem) e os exemplos que eu dei foram: Menudo e New Kids on the Block. Oi? Detalhe que eu só citei NKOTB porque achei que seria um exemplo mais próximo deles, mas hahaha. Só se fosse a trilha sonora da creche.

Outra: percebi que o filme ET, que vi no cinema, para os moços que trabalham comigo é uma reprise de Sessão da Tarde! Eles não eram sequer nascidos em 1982, quando o filme foi lançado.

E vejam, não é do estagiário que estou falando. São homens adultos, casados, profissionais. Socorro.

Com os alunos, por incrível que pareça, o espanto é menor (mas não a estranheza). É que ali estou na posição de ensinar, então é esperado que eu saiba coisas que eles não sabem. Mas não consigo deixar de lado uma sensação esquisita quando explico como se diagramava um jornal antes dos softwares gráficos, ou como era na época da censura nas redações, e eles me olham surpresos, como se eu estivesse falando de coisas do século passado.

Aí eu me lembro que eu estou falando de coisas do século passado.

-Monix-

17 Respostas

  1. […] uma amiga que dizia: o problema não é chegar aos trinta, a data redonda a gente comemora e tal. O problema é quando a gente faz trinta… e um. Como não pude nem comemorar a data redonda, os 51 dificilmente me parecem ser uma boa ideia […]

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  2. […] que terminei a pós, fui convidada a dar aulas. Ensinei, e […]

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  3. New Kids on the Block, eu conheci como os caras que cantavam “dez pastéis, um kibe…” quando eu era bem pequenininha! rs

    Nossa, Melissa, como assim não conhecer o Woodstock?!?

    Gostei do texto. Acho que todo adulto se sente assim de vez em quando.
    Eu tenho 28 anos. Há uns dois anos fiz um estágio no Ensino Médio, acompanhando aulas de biologia, junto com uma colega. O professor estava ensinando genética e começou a falar sobre hemofilia, e mencionou o Betinho. NENHUM dos mais de quarenta alunos na sala sabia quem era o Betinho!!! Minha colega e eu nos sentimos muito velhas! hahaha
    Não tenho saudade nenhuma da adolescência; ser adulta é muito bom. Mas é triste ver a falta de memória, as referências se perdendo…

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  4. A Helê disse para eu deixar umas pegadas, hahaha! O seu texto é ótimo, já tinha lido.

    Ó que beleza, gente! Mirem-se no exemplo da Tereza, hahaha!
    Beijo,
    Helê

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  5. Outro dia comentei com meu filho de 4 anos que não fazia alguma coisa há uns 20 anos.
    – Mãe, vinte anos é sempre!
    Mas quando esse tipo de comentário ou expressão de espanto vem de gennte que “já é grande”, confesso que ainda me surpreendo.

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  6. Tenho 34 e resolvi fazer uma segunda faculdade, daí que estudando com meus coleguinhas de 18 e 21 anos usei o Festival de Woodstock como referência e recebi de volta 4 carinhas de interrogação. Tudo bem que eu também não era nascida, mas ainda assim é uma referência conhecida. Não para eles. :-)

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  7. já até cansei de tanto ser adulta… lá se vão mais de 20 anos “nessa vida”. Adorei e me identifiquei!!!!

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  8. O final foi genial mesmo, Mô, ri muito, e obviamente me identifiquei. Afinal, com uma filha fazendo vestibular, tá na cara que eu já sou adulta há muuuito tempo, rsrsrs!

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  9. “…eles me olham surpresos, como se eu estivesse falando de coisas do século passado.
    Aí eu me lembro que eu _estou_ falando de coisas do século passado.” –> Melhor. Final. De post. Clap clap clap, Monix :*

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  10. eu sou adulta há 40!! e aí? voltando no tempo, vivi tantas coisas, boas e estranhas e doloridas e engraçadas… não pode ter sido em vão. carrego meus sessentinha com bastante segurança – o que me interessa é que estou viva hoje, participando, criando, contribuindo com ideias de minha cabeça que deve ter, digamos, uns 38? e tenho os quarentinha nas costas como uma enorme vantagem, minha querida.

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  11. Socorro 3.

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  12. Pois é. Socorro. (hahahahaha)

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  13. tb me dei conta disso outro dia. q sou adulto há vinte anos. e é lindo. isso é ter história. ter vinte anos é só se lembrar do ontem

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  14. Hmmm século passado, 42 com fichas caindo…? o/

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  15. Hahaha vc viu meu último texto no Biscate Social Club? “Vocês não tinham nem nascido e eu…” pois é. Bjs!

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