Quero saber, nem que seja por um dia, como é viver sem sentir culpa por todos os problemas da criança, e talvez por alguns da humanidade também. Quero não me descabelar nem ter que dar ordens em tom de voz crescente, apenas para ser ignorada – quero resolver tudo com uma simples frase, tipo “come direito”, “vai estudar”, “já pro banho”. E mesmo que não seja obedecida, quero voltar a ler meu livro ou assistir TV sem me abalar ou me remoer eternamente com perguntas inúteis como “onde foi que eu errei?”.
Quero esquecer que hoje tinha reunião da escola. E se me lembrar, quero conseguir deixar pra lá e ir tomar um chope. Quero programar uma viagem sem nem cogitar sobre quem vai ficar com a criança. Quero tirar o menino da cama para ir à escola com uma sacudida e um “tá na hora”.
Quero apenas perguntar “quanto custa?” para qualquer coisa, sem ficar me questionando durante horas, dias, semanas, se esta é a melhor opção ou se não seria melhor fazer de outra forma.
Pelo menos por um dia, eu quero. Mas, se possível, para sempre.
Eu me esforço, mas é difícil, viu? Não cair na armadilha dos papéis de gênero.
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Me identifiquei totalmente!!!!!!! Parabéns por dar voz às nossas neuroses! rsrs. Bj. Sabrina.
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Até a forma como os filhos reagem à ordem ou pedido da mãe e do pai é diferente, né?
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O que interfere, maltrata, deteriora, desbota e empobrece muitas vezes a vida da gente está sintetizado nessas duas palavrinhas que, juntas, são “o cão chupando manga”: TER QUE.
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OK, entendo o ponto. Em algumas coisas sou pai, e é bom que alguém seja, e se alguém tem que ser, que seja eu. Mas o pai que levanta filho com sacudida e “tá na hora” não sou nem quero ser – e ao escrever isso lembro que era assim que meu pai me acordava, e fico com saudade. Vai entender.
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É uma objetividade saudável. E as mães em geral não a têm, o que também é importante, mas muito custoso.
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Túlio, muito rico essa observação sobre esse sentimento ambíguo. Ocorre-me agora que a ambiguidade esteja mesmo na essência de relações tão intensas como as de pais e filhos.
beijo,
Helê
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Eu quero muito, especialmente esquecer a reunião da escola e ir tomar chope. Hoje teve reunião e eu não fui pro bar, blé!
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Outra coisa que acho importante ponderar é que por mais que individualmente a gente consiga ir mudando essas “caixinhas” de comportamento, ainda não conseguimos – pelo menos não no Brasil – mudar a forma como esses papéis são vistos socialmente. Um pai que se comporta como eu descrevi é simplesmente um pai “normal”. Uma mãe desse jeito é muitas vezes considerada “relapsa”, ou, no mínimo, a responsável pelos anos de análise do pobre filho, que não teve atenção da mãe. Até a escola e a psicóloga nos colocam nessa posição – tem que cuidar, tem que acompanhar, tem que ajudar, tem que, tem que… Rapadura é doce, mas não é mole, viu?
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Ana e Marcos, que estão apontando os dois lados da moeda: acho que no fundo o que eu quis foi fazer uma reflexão mesmo sobre essa questão dos papéis destinados a cada gênero. Existem pais e mães de todos os tipos, mas a gente se identifica com os estereótipos e é difícil escapar deles! Espera-se que pais sejam de um jeito e mães de outro, e acabamos quase sempre nos comportando segundo essas expectativas.
Eu vejo minhas amigas-mães enlouquecidas, e meus amigos-pais (todos ótimos pais, diga-se de passagem) nem um pouco enlouquecidos, o que não os torna menos atentos ou preocupados. Daí a reflexão: será que precisa tanta neura? Vai ver que sim, talvez seja necessário ter uma dose do yin e uma dose do yang. Eu juro que não sei. Mas seria legal conseguir tirar uma folga da pressão que me auto-imponho, pelo menos de vez em quando.
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Como queríamos demostrar em https://duasfridas.wordpress.com/2012/10/10/e-se-fosse-a-mae/, hahaha!
Helê
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Exatamente, lembrei disso Helê
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Também entendi como uma reflexão sobre o jeito neurótico de ser de mães-mulheres-trabalhadoras-cheiasdeculpa. Fiquei achando que foi quase um elogio aos pais e uma forma de dizer: olha, precisamos ser mais equilibrados, a gente tem que aprender a relaxar mais, ser mais yang, ver o que tem de bom no jeito masculino de estar no mundo e talvez muitos homens também precisem ainda aprender a colocar uma pitada de yin, de doçura, na sua masculinidade.
Super me identifiquei (e identifiquei meu marido, que eu considero um excelente e cuidadoso pai) com esse trecho de mandar o filho fazer uma coisa, não ser obedecida e mesmo assim “voltar a ler meu livro ou assistir TV sem me abalar ou me remoer eternamente com perguntas inúteis como “onde foi que eu errei?””. Quem é que volta a ler o livro e quem é que fica se remoendo e repetindo a ordem num tom cada vez mais histérico? Um doce pra quem adivinhar. :)
Excelente, Monix!
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Leitura, leituras! Parabens, Monix! Bj
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Colocar na agenda de 2013: ser mais pai e menos mãe! :) Adorei, Moniquita, direto ao ponto, como sempre – talvez não com o filhote, mas thats the point, né?
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Marcos, não senti no texto esse tom que vc sentiu. A minha leitura foi que homens, longe de serem idiotas, são mais tranquilos, relaxados e sabem levar a paternidade com mais leveza e humor que a maioria das mulheres.
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Sério este texto? Podia escrever um “quero ser mãe” usando as mesmas palavras. Desculpem-me queridas, mas esse tom de “homens são idiotas” é muito triste. Até quando?
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Cherry, é tudo questão de ponto de vista. Eu escrevi pensando que mulheres são neuróticas, e não que homens são idiotas. :-)
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Tá bem. É que tantas dessas coisas eu faço, com mais ou menos neurose que tem dia que ler certas coisas me abatem. Como se o sentir de um pai fosse sempre uma coisa menor. Mas eu entendi seu ponto, desculpe. Beijão.
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Eu também quero!
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confesso: sou meio pai. Bastante.
Mais: acho que sou é meio menino.
Sempre achei isso.
:)
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