A maior prova de que a polícia brasileira é pura e simplesmente um reflexo do que esperamos dela é que nenhum grito de guerra coletivo, cartaz viralizado ou vídeo com cinco causas defendeu o fim da polícia militar, treinamento para os policiais, menos truculência etc. As negociações são pontuais e se limitam a pedir que a PM bata menos nos estudantes – e só.
De resto, continuamos mandando a polícia para quem precisa de polícia.
(26 de junho)
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A manobra (já parcialmente frustrada) da presidenta Dilma ao propor uma Constituinte para fazer a reforma política, na minha nada abalizada opinião, foi uma tentativa hábil de entregar ao Congresso o filho que não foi parido nem embalado. Dilma tem se esforçado por assumir o (possivelmente) único papel que lhe cabe no momento, que é o de organizadora dessa bagaça. Algo na linha “vamos tentar ouvir a ‘voz das ruas’, traduzir os anseios disformes em iniciativas concretas, e endereçar os assuntos por uma perspectiva nacional”.
Mas para mim o ponto mais questionável dos pactos anunciados ontem nem é esse. A sugestão de transformar corrupção dolosa em crime hediondo me soou demagógica e, por consequência, cheirou a pizza. Porque é uma ideia que continua partindo do pressuposto errado: o de que corrupção é algo ligado aos políticos, mais especificamente aos deputados.
Criminalizar a corrupção não vai ter efeito nenhum enquanto o Brasil não entender que os mecanismos que levam nossas estruturas a serem tão facilmente corrompíveis são os mesmos que nos tornam péssimos motoristas-furadores-de-sinal. O pensamento de que a lei é boa e serve para todos os ~outros~, mas que ~eu~ tenho bom senso e sei quando posso flexibilizar a regra a meu favor, “só um pouquinho”, “só desta vez”, “só porque eu sei que não tem nada de mais” é a origem comum que degenera nossa relação com as regras. Que, boas ou ruins, têm que ser cumpridas enquanto estiverem vigentes. Se não concordamos com a regra, vamos trabalhar para mudá-la. Enquanto isso, cumpra-se – ou locupletemo-nos todos.
(25 de junho)
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Como diz o Alex Castro, ninguém é a favor da corrupção. É por isso que eu acho meio ingênuo fazer protestos contra corrupção. Será mesmo que o deputado antes de roubar vai pensar “ah, melhor não. .. o pessoal tá protestando, vou parar com isso.”? Não, né?
(20 de junho)
Monix, d’après vários posts no Facebook. Já conhece nossa página? Curte lá!
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