Louvre Love, repinado em Paris, França
Nos primeiros dias em Paris eu me enrolei um bocado com conexões wi-fi e um ipad emprestado que eu subestimei. Apanhei mas revidei, e depois tudo foi se ajeitando — porque a tecnologia, assim como a gramática, precisa apanhar pra saber quem é que manda (como diz o Veríssimo).
Uma das coisas que tentei fazer sem sucesso foi postar a imagem que abre este post. Ela fazia parte da minha coleção há tempos, e nem era das favoritas; considerava apenas uma boa foto bem produzida. Até ir ao Louvre, e só então ela fez sentido: uma vez lá dentro, eu me senti como essa criança, e precisei me controlar para não bater os pezinhos no ar de alegria como ela.
Pode ser que tenha sido um efeito da reversão de expectativa, já que ninguém me falou do Louvre com empolgação. Havia respeito e reverência, às vezes um tom quase de obrigação: “Você vai porque, né? tem que ir. Mas é muito grande, cheio, você não vai dar conta de ver tudo, legal mesmo é o D’Orsay etc. ” E aí eu fui assim: indo porque, afinal, tinha que ir.
Fui entrando e me sentindo tomada por aquele lugar, deslumbrada mesmo com o tamanho e a beleza daquilo – e eu ainda estou falando da parte de fora; quando digo ‘entrando’ falo do pátio da pirâmide, antes de entrar propriamente. Engraçado que não me intimidou como Versailles, embora seja muito maior; eu fiquei foi mesmo despudoradamente deslumbrada. Porque, veja bem, se tirassem tudo de dentro e ficasse só a edificação, já valia atravessar o Atlântico pra visitar, gente.
No Louvre tive pela primeira vez na viagem a sensação agradável de estar não apenas em Paris, mas no mundo. Ouvindo todo o tipo de sotaque e línguas que eu nem desconfiava quais eram, eu compreendi que são duas as viagens, para o lugar mesmo e para este universo paralelo que é Turistland, que eu adorei, viu? Mas sobre isso falo em outro texto, qualquer hora dessas.
Foi no Louvre que chorei pela primeira vez na viagem (nas primeiras horas eu só sorria retardadamente, a bem da verdade). Chorei ao entrar num corredor e ver lá no fundo a Vitória de Samotrácia. Ela era um dos meus objetivos, juntamente com a Dona Lisa, a Vênus, o quadro do peitinho e um Delacroix que o Renato mandou. Esse era meu parco “roteiro”, o que pintasse no caminho era lucro – e como lucrei, mon dieu!
Eu e Vitória e Mona, muito bem conservada pra idade – Dyyvah!
Gabrielle d’Estrées and One of Her Sisters, aka o quadro do peitinho, e a deslumbrante penteadeira de Josephine
Quando voltei minha sócia amada, a verdadeira viajandona deste blogue, afirmou, categórica, que há o Louvre e os demais museus – e ela tem milhas suficientes para fazer essa afirmação. Eu achei mesmo a lifetime experience; sem me dar conta passei 5 horas andando naqueles corredores. Amei muito tudo, da penteadeira em madeira, mármore e ouro da imperatriz Josephine às controversas pirâmides, das esculturas gregas sensuais, eróticas mesmo, às intervenções do Pistoletto – aliás me agradou particularmente este confronto entre tradicional e moderno, um museu sem medo de testar limites e questionar fronteiras. Caí de amores pelo Louvre, em resumo. E acho que é um daqueles lugares que todo mundo não apenas deve mas tem o direito de ir uma vez na vida: trata-se de um bem comum, pertence à humanidade. Daquelas paredes e salões muitos séculos de história e arte ocidentais nos contemplam, então o mínimo que podemos fazer para retribuir é contemplá-las de volta, com reverência, sim, mas também com a paixão e a leveza de uma criança que descobre como o mundo pode ser vasto e belo.
Vênus e eu, amigues
Helê
Filed under: Viajandona | Tagged: louvre, Paris |
[…] Mais ou menos como no Louvre, qualquer virada de pescoço é lucro, tudo é lindo (menos, claro; o Louvre é imbatível). Museus podem ser intimidadores (Versailles), instigantes (Brooklin Museum), eficientes (MoMA). O […]
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O Louvre é lindo, sem duvida mas também são lindos os seus cabelos brancos, Helê.
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Très chic!!!
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Eu sabia que seria você, Helê, quem daria ao Louvre o texto e o louvor (ui) que ele merece. E pra complementar o comentário da Su, olha as fotos da transferência das obras durante a ocupação, aqui (são de arrepiar os cabelinhos da nuca) –> http://www.conexaoparis.com.br/2012/12/21/museu-do-louvre-durante-segunda-guerra-mundial/
Ô, querida, obrigada pelas palavras e pelo link! Beijo grande,
H.
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Ah, eu não vivi esse êxtase, fiquei um pouco atordoada com a grandiosidade e não soube aproveitar como poderia. Mas, espero voltar e ver com outros olhos. Beijos
Fefê, querida, compreendo perfeitamente, o Louvre, de fato, atordoa. E um dos dramas do turista é lidar com essa opressiva sensação, o #numvôdáconta. Não tem jeito, vai ter que volta à Paris! :-).
Beijo,
Helê
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Planejado que sou, passei as três (quatro?) horas iniciais no Louvre vendo o mesmo Jesus Cristo, pintado por 237 italianos diferentes, nascidos desde o primeiro terço do século I (Jesus bebê dando mos primeiros passos) até um retrato do Filho do Pai sentado no colo do Berlusconi (“the holy bunga bunga”). Ou seja… Talvez (ou com certeza) por conta disso, assumo, sou do Team D’Orsay. Pena que a minha única dica séria não pôde ser apreciada – o Delacroix tava visitando quem mesmo? Mas o que importa é: os peitinho seguem firmes.
(Podia, até, ter parado de ler no primeiro parágrafo. Já tava ganho ali. Mas, que bom que prossegui. Muito me honrou a menção à minha pessoa).
Parece que oi pra Lens, o puto. Quer dizer: terei que voltar.
A menção foi breve aqui, mas sua agradável presença esteve comigo por toda a viagem, querido.
Beijoca,
Helê
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Moça, eu levei uma semana pra conhecer o Louvre, e assim mesmo voltei com a sensação que deixei de ver muita coisa. Um dos deslumbres pra mim (que sou medievalista de meia-tigela) foi ver o “porão” e conhecer as fundações do que foi uma fortaleza da Idade Média.
Quando fui a Paris tinha acabado de ler um livro maravilhoso chamado “Europa saqueada” sobre a rapina nazista a museus, galerias e coleções particulares. A capa do livro me chocou: a foto de uma galeria do Louvre vazia, as parede nuas e as molduras dos quadros no chão.
Aí, lendo o livro, descobri que o povo de Paris tinha sido responsável pela “pilhagem”. Ao saber que as tropas alemãs tinham cruzado a fronteira, o diretor do Louvre convocou todos os funcionários – e vieram suas famílias e mais conhecidos, amigos e vizinhos – para que, numa operação de dias (que avançou madrugadas adentro), tudo que estivesse no museu fosse cuidadosa e devidamente embalado, etiquetado, transportado e enviado a milhares de esconderijos pelo país.
Duas passagens são memoráveis. Uma delas descreve a descida da Vitória da Samotrácia do topo da escadaria. Segundo o autor ouviu das poucas testemunhas vivas, o silêncio era absoluto, enquanto a estátua alada era baixada por meio de cordas e um trilho até o pé da escadaria.
A outra é o depoimento de uma mulher idosa, menina de oito anos à época. Os pais foram mandados com a família viver num castelo perdido no interior da França. Com eles viajaram diversos caixotes, e a mulher se lembra quando, na primeira noite na nova casa, seus pais começaram a conferir as caixas. Ela diz que sua mãe, então, tirou de dentro de um caixote uma caixa menor. Abriu-a, e de dentro puxou algo cuidadosamente envolto em veludo azul. Ao depositar o embrulho sobre a mesa e abri-lo, a mulher – a menina – viu surgir, à distância de um suspiro, a Mona Lisa.
Suzana, querida, li seu relato com os olhos marejados, e ao fim corri no site da Travessa para incluir o livro na minha lista de desejos. Muito obrigada por enriquecer ainda mais a minha experiência. Beijo grande,
Helê
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puxa, que incrível esse livro, suzana!
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Helê e Juliana;
Há um documentário baseado nesse livro (bem dublado):
Obrigada novamente, Suzana!
Beijão,
H.
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Ainda sobre o documentário: a evacuação das obras do Louvre pode-se ver a partir dos 24:00.
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Puxa, também vou querer ler esse livro. Estou aqui com um sobre a historia de Paris que comprei para dar a Meg em seu aniversario de 40 anos mas até hoje não a reencontrei..
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Eu também sou dessas que acho o Louvre um deslumbre, um desbunde, uma coisa de dar nó na garganta e nas tripas! Andei por lá de boca aberta e olhos arregalados o tempo todo, eufórica de beleza, histérica de felicidade. Quando eu e o Rubão estivemos em Paris, fomos ao Louvre duas vezes. E se voltarmos a Paris, sem dúvida, vou de novo.
Ôba, mais uma pra tribo!!! Tina Lopes tb é dessas, só ando mesmo em boa companhia. E “eufórica de beleza, histérica de felicidade” define, Meg.
Beijoca estalada,
Helê
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Helena linda e querida, amei seu post, once again!
Obrigada, Paulinha, adoro encontrar você por aqui!
Beijoca; beijo no Príncipe.
Helê
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