Meia idade

Preocupações do momento: a) minha própria saúde e a dos meus pais; b) será que vou conseguir me aposentar?; c) acho que terei que trabalhar até morrer; d) mas como conseguirei fazer isso, se daqui a uns dez anos no máximo provavelmente não conseguirei mais emprego na iniciativa privada?

Pelo inventário acima, me dei conta de que estou ficando velha. E não é aquele “ficando velha” de quando a gente tem 20 anos e escuta uma música da nossa adolescência tocando no programa de flahsbacks. É mesmo o início de um ciclo que vai culminar em, daqui a 20 anos (passa rápido – ver abaixo), eu poder furar a fila no supermercado, pagar meia entrada no cinema, etc.

Mas um ataque de velhice súbita eu senti mesmo foi quando meu irmão de vinte e poucos anos não identificou uma música que eu achava super moderna, lançada há quase três décadas. Ou seja.

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Então, 20 anos de repente passam rápido. Vinte anos não é nada, e ao mesmo tempo é metade da minha vida. É toda minha vida adulta. E ontem eu comemorei com minha turma os vinte anos de nossa formatura. Foi muito bom – a última vez que tínhamos nos encontrado assim, como grupo, foi dez anos atrás. Minha amiga M., a única com quem mantive contato regular durante todos esses anos, me disse: “que bom que a maturidade nos dá, às vezes, esse olhar generoso sobre os outros, o que nem sempre conseguimos ter na juventude. Sim, acho que quando somos jovens há uma necessidade maior em rotular os outros, e assim tentar entendê-los melhor. Eliminamos a complexidade, os tons, as nuvens e vemos quase sempre no preto e branco.” Duas décadas depois, achei todo mundo tão mais interessante do que achava na época!

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E de tanto pensar no envelhecimento, me peguei pensando na velhice que, espero, virá (como diz o meu pai, a alternativa é pior). Neste ponto, estou com minha amiga A.: tenho um filho único e não quero ter que contar com ele para tudo. Detestaria ser a mãe/sogra mala que precisa de cuidados e atenções o tempo todo, logo eu que sempre detestei depender dos outros. Vai ser um exercício difícil de humildade. A verdade é que detesto a ideia de ter uma vida prolongada, cheia de incômodos da velhice. #DESLIGUEMOSAPARELHOS

Quero mesmo é ir pro asilo grandmothern, um lugar mítico cheio de enfermeiros bofes e gentis que não se importarão de tomar conta de um bando de velhinhas meio doidas que falarão o tempo todo e pedirão a senha do wifi todo dia por motivo de amnésia, talvez alcoólica.

(E para imaginar o que seria esse lugar sensacional e louco, recomendo o filme E Se Vivêssemos Todos Juntos? – quem não viu, veja.)

A ideia que tenho tentado construir dessa velhice futura é de liberdade. Medir as consequências dos meus atos deve perder um pouco a importância quando estiver chegando perto dos meus últimos dias por aqui. Imagina que delícia poder usar saia com tênis, varizes à mostra, e não se preocupar em manter as unhas feitas ou os cabelos com chapinha! Restringir alimentação? Pra quê, meu Deus? E daí que meu colesterol está alto aos 80 anos? Manda mais uma fatia dessa pizza e traz uma musse de chocolate. Hahahaha

-Monix-

9 Respostas

  1. […] dos planos mirabolantes que tenho com minhas amigas é o do asilo grandmothern, um lugar meio utópico em que nos reuniremos quando formos velhinhas, para cuidar umas das outras, […]

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  2. Nada edificante mas aos 65 volto a fumar. E a falar o que penso. Serei insuportável.

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  3. ops, continuemos refletindo, ou melhor, vivendo!!!!!!

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  4. Adorei o depoimento da Isaura! Ficarei desejando que a minha velhice seja como a dela….
    Quanto ao seu post Monix, eu brinco muito com os estagiários de 18/20 anos, que às vezes falam “era uma pessoa mais velha, devia ter uns 35 anos” e eu faço cara feia! rsrsrs. Seguidamente dou risada e digo, “ah, na minha época” e ainda nem fiz 40!
    Isso me leva a pensar se exagero, estou preocupada ou é brincadeira mesmo…
    No fim, concordo com a Isaura; preocupação com a velhice aos 40 anos?
    Claro que devemos nos organizar em termos financeiros, mas acho que podemos estar exagerando um pouco, talvez pela velocidade das coisas, da tecnologia. Um eletrodoméstico/eletrônico de 5 anos atrás é ultrapasssado, seríamos nós também??!! haha.
    Enfim, o assunto “dá pano prá manga” e faz pensar.
    Continuemos relfetindo……
    Bjs

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  5. Monix, confesso que me deu falta de ar ler o post ..rs..
    Procuro não pensar no assunto porque me assusta :P

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  6. Preocupação com a velhice aos 40 ? Bem , pela minha experiência de vida posso dizer que a velhice não é assustadora, ao contrário pode ser muito divertida e gratificante.
    ” Semana passada fui com uma amiga ver a exposição de Escher no MON, em Curitiba. Quando fomos comprar os ingressos pedimos duas meia entradas , então o rapaz nos perguntou muito polidamente se por acaso já tínhamos mais de sessenta anos. Muito envaidecida minha amiga respondeu com um sorriso iluminando o rosto…Sim, temos mais dez além dos sessenta….
    Gentilmente o rapaz sorriu e nos entregou o ingresso dizendo, acima dos sessenta a entrada é gratuita.”
    Claro que ninguém deve descuidar de um fazer bom plano de aposentadoria, envelhecer com saúde e segurança é muito mais tranquilo mas o importante é cuidar da saúde mental porque o que incomoda não é a idade avançar mas ficar parado no tempo esperando a morte chegar…..
    Ah, eu não tenho ainda um asilo Mothern mas faço parte de um pequeno grupo de amigas , ex colegas de colégio, que se reúnem para um lanche uma vez por mês, cada vez nossos encontros são mais leves e divertidos, não sei se por excesso de sabedoria ou simples falta de juízo…..

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  7. Putz… poderia ter escrito esse parágrafo todo: tenho um filho único e não quero ter que contar com ele para tudo…e tal. DETESTO depender de quem quer que seja. E me pego fazendo planos mirabolantes até de suicídio assistido, dependendo do dia. Espero que a natureza colabore e seja gentil, se livrando de mim antes que eu me torne um estorvo para quem quer que seja.
    Tenho pensado muito na velhice também.
    Adorei o texto!

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