Evoé!

Não se deixem enganar por calendários, convenções, autoridades (argh): o carnaval já começou. Apesar da insensibilidade dos clientes que marcam reuniões, da inocência de professores que esperam atenção, da frieza de chefes que mantêm expedientes, da rigidez de cônjuges que pleiteiam exclusividade, o entrudo (uia!) já se instalou no coração dos homens e mulheres de muito boa vontade e alegria ainda maior. Desfraldado o Estandarte do Sanatório Geral. Então, por favor, não me venham com realidade, seriedades, gravidades. Como diz Juan Luiz Guerra na canção que eu adoro, “ya no me importa si hay luz en el barrio o aumentará la inflación”. Não esperem minha adesão a nada que não envolva samba, fantasia, gargalhadas y confetes. Enquanto os homens exercem seus podres poderes, vou buscar leveza e graça porque meu coração já se agita e palpita mais ligeiro. Vou ali brincar o carnaval com a minha turma – e modéstia parte, “nossa gente é quem bem diz é quem mais dança”. Bom carnaval pra geral!

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Helê – quem mais? ;-)

*Essa é uma gif animada, ou deveria ser

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Sonho

Sonhei uma frase: ‘O carnaval é um só, carnaval é pra ser feliz’. Eu, a quem os sonhos não brindam com ternuras e bons palpites, mas com angústias e reincidências. Logo eu, que julguei mágico o único r*votr*l que tomei na vida pelo sono sem lembranças que me proporcionou, acordei um tanto embevecida com a frase sonhada. Se havia enredo, cenário ou personagens não recordo, apenas da frase de significado evidente desde que despertei. Uma vez vividos e passados, todos os carnavais formam um só evento, conjunto unificado de recordações em que fomos felizes; é assim que funciona e para o que se destina. (O que, aliás, faz todo sentido: a velha louca que gerencia minha memória guarda no  mesmo armário fantasias, desfiles e acordes de diferentes anos. Você aí, sabe exatamente em que ano aquele pierrô te abraçou e te beijou, meu amor?)

Não desvendei outros significados para meu sonho textual — se é que existem –; apenas encantei-me com a singularidade de “sonhar uma frase”, sem contexto mas clara e exata como os sonhos não costumam ser. Naquela semana eu lia um livro encantado e encantador chamado “A Casa dos Amores Impossíveis“*, tradução e presente da Fal. Entre muitas coisas fantásticas que acontecem nessa história, há personagens que sonham com o que lhes reserva o futuro . Talvez seja isso: o carnaval enviando seus primeiros chamados. Parafraseando mestre Alceu, vens chegando e eu já recebo os teus sinais.

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Helê

*Sobre o livro: vale muuuito a pena, gente. É daqueles sobre os quais não se deve falar muito para não interferir na viagem, que é feita utilizando todos os sentidos. Livrão, como disse a Fal, que entende do riscado.

Banditismo por uma questão de classe

Nos últimos dias, foram veiculadas notícias que aparentemente não têm nenhuma relação entre si, embora todas tragam um componente de absurdo:

– Passageiros de um voo da Gol, revoltados com o fato de o avião ficar retido em solo sem abrir as portas, forçaram a saída de emergência e foram dar um rolezinho na asa do avião.

– Um rapaz foi acorrentado a um poste, nu, por um grupo de ‘justiceiros’ que desejam ‘limpar a área’ de assaltantes.

– A torcida organizada do Corínthians invadiu o clube, destruiu tudo, e em seguida descobriu-se que a intenção era quebrar as pernas de dois jogadores do time.

– Após um apagão no metrô de São Paulo, os passageiros revoltados pularam nos trilhos e andaram de estação em estação.

Você pode achar que o protagonista de uma dessas histórias tem motivos mais justificáveis que os outros, ou que todos estão certos, ou que todos estão errados. É possível que nós concordemos, é provável que não.

Mas, analisando com cuidado, o que todos esses fatos têm em comum é a noção de que, em um país onde o Estado falha, cabe aos cidadãos resolver os problemas com suas próprias mãos. O avião está com defeito, a Infraero errou, ninguém comunicou? Arrombe-se a porta. A onda de assaltos está um horror? Vamos pegar o bandido e prender no poste para servir de exemplo – na nossa área vagabundo não se cria. O time está uma porcaria, os jogadores são uns vendidos, a cartolagem pisou na bola? Quebrem as pernas! O metrô não funciona, está calor, ninguém aguenta mais? Dane-se o mundo, vou a pé pelo trilho.

Olha, por mim pode parar tudo. Apenas parem.

Não me interessa saber de atenuantes, se havia motivos justificáveis, nada. Nos quatro casos, o que houve foi pura e simplesmente o desprezo pelas regras, pelo bom senso, pelo conhecimento do que é a vida em uma sociedade organizada (e em dois deles, uma total falta de humanidade com pitadas de sociopatia).

O Brasil não é um gigante. O Brasil é frágil, muito frágil, e continuamos, sempre, perdendo as oportunidades de construir um país, porque só conseguimos olhar para nossos próprios umbigos.

-Monix-

Similaridades

Nada não, é que essa imagem…

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…me lembrou essa foto:

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(by Tina Lopes, Museu Rodin, Paris)

Helê

Odô Ya!

Odô Ya

“Me molhei no mar (e nada pedi) só agradeci”

Helê, last but not you know what

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