Desejo-necessidade-vontade

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(Do tumbrl Baddlands)

Helê

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Guarda compartilhada

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Tá,  não é padrão,  embora já não seja raridade. Eu, na verdade, tenho alguma dificuldade de entender como fazer de outro jeito; a essa altura do campeonato, nas C.N.T.P., deveria ser comum entre pessoas que têm filhos e deixam de viver juntas a busca por equilibrar a convivência, os cuidados e a criação das crianças. Gente, século 21, mães e pais igualmente presentes, blábláblá…Mas opinião é como bunda, cada um tem a sua – e não é porque você tem que precisa oferecer.

Acontece que o cerumano, em especial o da espécie brasilis, pergunta, no matter what. Com maior ou menor cuidado, tendo ou não liberdade para isso. E opina, sendo ou não solicitado. No começo eu até achava bacana falar sobre, porque ajuda a naturalizar o assunto. Só que percebi que as pessoas perguntam para julgar, e em geral condenam, antes até de refletir sobre a resposta.  A primeira pergunta que fazem é: “Dá certo?” O Saraiva que em mim habita (aquele personagem que tem tolerância zero pra pergunta idiota)  se contorce para não dizer “Não, dá errado, insisto porque eu gosto de sofrer”. O vivente muitas vezes segue avaliando a minha vida: “É, não sei se é o melhor…” Como se eu tivesse perguntado. Há quem avalie que “é uma boa opção quando possível”, como se tivesse sido fácil ou simples. Não foi, ninguém disse que seria. Nunca é facil compartilhar o que quer seja após uma separação, é preciso criar condições onde não há. Arar em terra arrasada, mas com determinação e paciência, querendo que dê certo. Com algum esforço acaba dando. Não há condição favorável a priori: é a decisão que torna possível guardar junto o que não se pode apartar.

Mas a pergunta realmente cretina que, por incrível que pareça, eu ouvi várias vezes é: “Mas e a cabecinha da criança, como fica?” O Saraiva começa a babar porque não pode responder: “ Olha, fica mal, porque você sabe, bom mesmo é ver o pai ou a mãe uma vez por semana. Nossa, como eles ficam felizes!!!”. Em todas as vezes que me perguntaram isso o tom não era de curiosidade franca, mas de mal-disfarçada condenação – sobre algo que nem deveria ser de escrutínio público, e sobre o que não pedi opinião nem ajuda.

Se há desconhecimento sincero e legítima estranheza, há também  quem ataque para se defender, conscientemente ou não.  O fato é que eu me vi  algumas vezes na desagradável posição de ser julgada quando achei que poderia contribuir para que a guarda compartilhada deixe de ser vista como uma extravagância e possa ser considerada uma possibilidade de família, num mundo em que tudo que é sólido já sabemos onde vai parar.

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Esse post começou a ser escrito meses atrás, num dia em que estava particularmente brava porque novamente tinha esbarrado com um desses sem-noção supracitados. Percebo agora que não tem acontecido ultimamente. Não sei se hoje perguntam menos ou se o Saraiva tomou posse e encerra logo o assunto quando aparece, para manter a sanidade e pressão arterial. Fica aqui a minha contribição para quem, sinceramente, quiser refletir sobre o assunto.

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Helê

Copa(cabana) do Mundo

No dia da abertura da Copa do Mundo, indo para a casa de um amigo assistir o jogo do Brasil, torci o pé, rompi o ligamento do tornozelo (o diagnóstico é de lesão “grau 2”), e o resultado foi uma imobilização cuja consequência é uma licença médica que já entra na segunda semana. Repouso forçado é isso aí.
Sendo assim, em plena Copa das Copas estou eu trabalhando em home office e instalada na casa do namorado há quase dez dias. O filhote está de férias e botou pé na estrada (primeiro a colônia de férias, depois BH com o pai pra ver Copa do Mundo), e para não ficar sozinha em casa me aboletei por aqui.
Está sendo uma experiência interessante (para além das questões pessoais de morar junto, ainda que por tempo determinado e em circunstâncias especiais, com o moço que namoro há quase oito anos), essa de ficar confinada num momento em que todo mundo – e, digamos, todo O mundo – está nas ruas.
Mas o apartamento do namorado é em Copacabana – e Copacabana não engana.
Copacabana é a sede da Copa do Mundo. Eu que tenho visto o mundo pela janela (do apartamento ou do táxi, a caminho da fisioterapia), estou completamente absorvida pelos jovens moços que invadiram o bairro, a cidade, o país.
Aqui é uma rua pequena, ladeira de paralelepípedos, estreita, mas tem dois hostels. Já tivemos a onda dos argentinos, dos chilenos, teve um bando que falava uma língua estranha (teve jogo da Holanda aqui no Rio?), ontem foi uma turma de belgas e desde ontem à noite, incluindo esta manhã barulhenta, os chilenos voltaram. Ô povo animado!
A Fifa Fan Fest é aqui perto e eles chegam de noite alegríssimos, cantando e comemorando. E durante o dia são os grupos saindo para assistir o jogo. Às vezes ficam na calçada conversando e tomando cerveja. Uma festa bacana de ver.
Sempre compro briga com meus conterrâneos quando digo que os cariocas não são hospitaleiros – e as pessoas, de fato, não são; mas a cidade, com certeza, é.
E uma coisa que digo há anos é isso, que não sei explicar como, onde, nem por quê, mas o Rio realmente funciona bem em grandes eventos. No dia a dia é bem difícil morar aqui, mas se a proposta for produzir um show pra um milhão de pessoas na praia ou um carnaval na Rio Branco tudo sai às mil maravilhas. :)
Agora começou um corinho de “salve a seleção” aqui na rua. Acho que os brazucas moradores resolveram revidar.
Estar em Copa(cabana), mesmo que confinada no terceiro andar, numa rua sem movimento, nunca poderia ser sinônimo de perder o babado. Aqui, se a pessoa não vai até o babado, o babado vem até a pessoa.
Quer dizer, teve Copa, mesmo não tendo. Ou vice-versa.
-Monix-

Internet: antes e depois

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Quando era adolescente personalizava minhas agendas e fichários com recortes e papel contact. Tinha pastas com imagens, frases e palavras que retirava de revistas e jornais. Pastas que viraram hoje meus quadros no pinterest. Também adole eu tinha um caderninho de frases, acho que chamávamos de Caderno de Pensamentos. Conselhos, reflexões e até piadas – que seguem agrupados em álbuns do facebook ou contas no tumbrl. Ainda naquele distante período geológico da minha vida, a adolescência, eu entrei para um pen club em que escrevi e recebi cartas de desconhecidos do mundo todo que, como eu, não se contentavam com os amigos próximos: queriam saber de quem sambe diferente noutras terras, outras gentes. Bem, hoje eu ainda tenho um blogue, dez anos depois de ser cool, entre outras razões para falar com gente que de outro modo não encontraria.

Isso tudo pra dizer que eu acho que a internet serviu para digitalizar (e agilizar) as besteiras e hábitos que a gente já cultivava há mil anos. Inventamos uma nova maneira de fazer o que já fazíamos: eu já era uma pinner antes do termo existir, já queria ter amigos do outro lado do oceano antes de cruzá-lo, sempre quis inventar layouts e avatares antes de saber que poderia. Claro que a internet itself influencia e modifica ações e intenções, e isso deve ser considerado o tempo todo. Criar a capa de um caderno que vai ser vista na minha turma tem impacto e repercussão diferentes do que fazer um post que pode ser visto por 400 assim chamados amigos, inclusive porque entre eles 350 estão postando outras coisas no mesmo momento.  Mas talvez precisemos pensar menos no que a internet fez conosco, no que faríamos sem ela e mais no que já fazíamos antes dela existir. Pode ser surpreendente e pode ajudar a ter uma relação mais saudável com o mundo digital, tão sedutor quanto ameaçador.

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(Ou isso ou eu sempre fui mesmo mais integrada que apocalípica – private joke pra quem fez Comunicação no final dos anos 80, acho que nem ensinam mais isso na faculdade de jornalismo (eu sou do tempo do diploma, abafa) ).

Helê

Solstício de inverno

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“O Solstício de inverno para nós do hemisfério sul acontece às 10:51 horas pelo horário de Brasilia, do próximo dia 21 de junho, sábado, quando se inicia o inverno no Brasil e temos a noite mais longa do ano. (…) O solstício de inverno, o menor dia do ano, a partir de quando a duração do dia começa a crescer, simbolizava o início da vitória da luz sobre a escuridão. “

(Thoth3126)

Põe reparo, Sócia. E se assim não for, me fala que a gente pensa em outra artimanha pra seguir insistindo em ser feliz, combinado?

Helê

De corredor

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(From Pinterest)

Da Série Corações

Helê

Time (is on my side)

Antes de viajar mas já despressurizando da maçante rotina do trabalho, eu disse a uma amiga que o bom das férias é que o tempo volta para nós, seus verdadeiros donos, e então podemos  fazer dele o que quisermos. Eu corri a semana inteira ao invés de quatro dias, tomei café com uma amiga que vejo diariamente  mas cujo apartamento não conhecia; acordei mais tarde, vi bobagens na tevê e fiz muito nada, uma necessidade sempre adiada por outras menos agradáveis e mais impositivas.

Aí eu viajei pra Nova York, voo solo, dez dias para saborear a maçã. Para cuidar de mim mesma numa cidade desconhecida numa língua estrangeira eu estudo muito: leio mapas, devoro guias, consulto blogues, mando e-mail aos amigos pedindo dicas, vejo filmes. Portanto, ao chegar tinha anotações e clareza do que queria ver –  mas não tinha um roteiro. Nunca consegui fazer um com mais de 12 horas de antecedência. E mesmo esses tinham boa folga, margem ampla para adaptações. Decidia na noite anterior ou de manhã cedo, de acordo com meu feeling, algo que vi na rua, a previsão do tempo, uma canção ouvida no ipod. Senti mesmo que havia em algum lugar do meu cérebro – ou da alma – uma resistência firme a fechar uma agenda, como se fosse preciso deixar um espaço para o acaso, as serendipidades, como me disse a Lucia  Malla nas dicas dela; para aquilo que, afinal, não pode ser mesmo controlado – “o que não tem medida nem nunca terá”, diria o Chico.

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Brooklin Bridge num sábado glorioso em que eu andei feito um camelo, mas um camelo feliz.

 

Assim, eu encontrei o Blue Note sem querer enquanto passeava pela Washington Square, cruzei com um micro desfile de homens de quilt e gaita de fole em plena ponte do Brooklin (!), peguei uma visita guiada na Biblioteca Pública que tinha acabado de começar, entrei no Jardim Botânico no horário em que a entrada é gratuita; assisti a um culto Batista no Harlem no dia do aniversário da Congregação; encontrei sem procurar um castelo no Central Park . E cruzei com Eric Dane de manhã cedo na 6ª Avenida, na minha primeira corrida em NY (Mark Sloan não morreu!). Para citar alguns acasos, apenas.

 

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Eu besta com os lilases do Botanic Garden.

 

Então revi minha observação inicial e concluí que as férias são um período encantado em que o tempo  volta a pertencer ao seu verdadeiro dono: ele mesmo. É quando solto as rédeas do que nunca esteve mesmo no meu controle,  aceito que a vida aconteça e se apresente, e me posiciono de modo a recebê-la da melhor maneira, acomodando o porvir, recebendo o presente como é, dádiva e inteireza. Atenta aos instintos, aos sinais, equilibrando alguma tensão, necessária para me salvaguardar, e a leveza adequada para fluir com e como o tempo.

Helê

Com as próprias pernas

Quando me separei, tirei férias para cuidar da mudança – além da mudança em si, e da própria separação, havia todas as providências relativas a estes dois processos difíceis com uma criança de dois anos a bordo. Foi um mês procurando apartamento, encaixotando coisas, depois desencaixotando, etc. Na véspera de voltar ao trabalho, mamãe chegou na minha casa com 300 reais na mão e me mandou ir ao salão fazer as unhas, hidratar os cabelos e fazer uma escova, porque não podia chegar no escritório “daquele jeito”.

Poucos anos depois viajei sem meu filho e ela passou um bom tempo na minha casa, dando uma ajuda nos cuidados com ele. Quando voltei, ela me comunicou que tinha ligado para orçar a troca do blindex do banheiro, que estava “caindo aos pedaços” e “muito perigoso”. E disse mais: que só não tinha mandado fazer o serviço porque refletiu e achou que se alguém trocasse o blindex da casa dela sem consultá-la ela não gostaria.

Assim era minha mãe: gente que faz. Ou, como definiu minha prima, ela era a resposta para todas as perguntas.

Há poucas semanas, meu carro foi rebocado e precisei enfrentar a via-crucis da burocracia brasileira. Estava na casa dela quando contei meu drama, e a solução e a ajuda vieram da minha cunhada e do meu irmão, o caçulinha da família. Ao presenciar a cena, fico imaginando que ela deve ter pensado: posso descansar – eles já sabem se virar neste mundo sem mim.

-Monix-

No balcão

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“Um homem quando está só, precisa tanto dum balcão de um bar como do ar para respirar. É que o balcão engrandece a solidão, uma mesa reprime-a. Um balcão é um tapete de boas-vindas a quem anda sozinho pelas ruas, uma mesa é um dedo acusador. “Estás sozinho e aqui só se sentam pessoas acompanhadas”, diz-nos. É triste, mas é assim.”

Do sempre interessante “Não compreendo as mulheres“.

Foto tirada em um balcão do Eataly.

Lembrei demais desse texto em Nova York, onde os balcões dos bares deixaram minha solidão tão à vontade que algumas vezes ela saiu para dar voltas enquanto eu conhecia gente nova. ;-) . Apenas  um comentário breve para começar a falar da viagem e botar azeitona nessa empada que eu adoro – leiam o texto completo, perambulem pelo blog do moço;  vale a pena.

Helê

#vaiterjogo?

Entre o estridente ôba-ôba  da rede globo, fifa e anunciantes e o engajado grito do #nãovaitercopa de Mídia Ninja, Rafuko e indígenas de boa mira, há algo que pelo que anseio: futebol. Ando saudosa de assistir bons jogos (além de envergonhada com a bolinha que meu time vem jogando). Espero que o juiz apite logo o início do jogo para que a gente se concentre no que realmente interessa – ou deveria interessar mais  – em uma Copa do Mundo: o bom e velho futebol,  bem jogado, emocionante, surpreendente, despido de todo tipo de mercadoria e discurso.

Impossível, né? A menos que os jogadores entrassem em campo literalmente despidos. E as laterais não tivessem placas de publicidade, e a tevê não enchesse de efeitos a tela em que as seleções deveriam figurar como elemento principal. Mas que, pelo menos entre um comercial e outro, haja bola rolando.

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Helê

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