(Do Tiny parts of large loves)
I believe I can fly.
Helê
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Helê
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Não lembro exatamente quando, mas foi há muito tempo. Eu ainda ouvia rádio – porque havia estações de rádio para serem ouvidas (suspiro) – e amava aquela voz forte, límpida e amorosa, mas não sabia quem era. Cada vez que tocava eu ficava atenta para entender o nome da música ou da artista; custou mas cheguei a Tuck & Patti e “Tears of Joy” – o que ainda não era muito naqueles tempos sem Google (eu disse que foi há muito tempo). Perguntava em toda loja de discos em que entrava (sim, já existiram lojas de discos, seus incréus), mas ninguém conhecia. Até o dia em que, numa viagem a São Paulo, entrei numa loja especializada e achei o cd da dupla, a voz excepcional de Pat Cathcart e o violão inconfundível de Tuck Andress. Comprei na hora, apesar de ter causado um rombo no orçamento.
Depois disso ainda encontrei um ou outro álbum deles, mas sempre nas seções de importados, fora do meu alcance$. Com a internet, no entanto, ficou mais fácil acompanhá-los e ouvi-los (“Contra burguês baixe mp3!”). Eles nunca estouraram, mantiveram uma carreira sólida e coerente sem chegar propriamente ao estrelato – o que, a meu ver, não tem absolutamente nada a ver com a qualidade excepcional do som que fazem.
Corta para maio de 2014: eu no quarto de hotel em Nova York, lendo a Time Out como todo mundo me mandou fazer para ver o que estava rolando na cidade. Musicais para todos os gostos, meu futuro marido em cartaz numa peça (para quem estranhamente ainda não sabe: Denzel Washington será meu marido, nesta encadernação ou na próxima), mil opções. Folheio a parte de casas de jazz, gênero que eu gosto mais do que conheço. E dou de cara com um tijolinho que tenho que ler duas vezes pra ter certeza: Tuck & Patti no Blue Note, na semana seguinte. E eu ainda estaria na cidade. Era num bom horário. E cabia no orçamento. A pessoa pessimista pensou: “Mas vai ver não tem mais ingresso, vai lotar…” Falei com a concierge do hotel, que tentou ligar para fazer reserva mas ninguém atendeu. Ok, tento mais tarde, pensei, já achando que era muito bom pra ser verdade. Dias depois, andando pelas imediações da Washington Square dei de cara com o Blue Note. Assim, sem procurar, sem olhar no mapa, sem ter a noção de que estava tão perto. E a bilheteria estava aberta, então pude fazer a reserva.
No dia do show, cheguei cedo e por isso pude perambular pelos quarteirões próximos. Imperava um clima de celebração, várias turmas comemoravam o fim do curso universitário na festa de formatura mais legal que eu já vi: na rua, com barraquinhas, música, gente fantasiada, jovens de beca, pais sorridentes, um clima festivo de expectativa e esperança. Aguardando um sinal para atravessar a rua, reparo em uma mãe e o filho, negros, ela com um bottom enorme na lapela, distribuído pela organização do evento: “I’m a proud parent of a NYCU graduate”. Não resisti a lhe dizer: “Congratulations!”; ela agradeceu, ainda mais orgulhosa.
Contei tudo isso só para explicar porque, quando Pat entrou no palco do Blue Note aquela noite e soltou a primeira nota, acompanhada pelo primeiro acorde do Tuck, eu não segurei as lágrimas, my tears of joy. Eu não apenas estava em Nova York – uma frase que pareceu improvável por muito tempo. Eu estava no célebre Blue Note assistindo ao show de Tuck & Patti. Foi um sonho que se realizou sem que eu sequer o tivesse sonhado. E foi melhor do que eu poderia antecipar. A voz de Pat ao vivo envolve, aquece e conduz você por onde ela quiser, nem tente resistir. Não bastasse isso, ela é uma intérprete carismática, divertida, presença a um só tempo doce e radiante. Tuck e seu violão fazem a moldura perfeita para ela, são coadjuvantes à altura da protagonista. A reserva estava ok, sentei em uma mesa próxima ao palco com duas israelenses simpáticas (uma delas apaixonada pelo Brasil que até arriscou umas palavras em português!); o táxi da volta foi eficiente e honesto, deu tudo rigorosamente certo. A night to remember, indeed.
Helê
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Men watch the 2014 World Cup Group B soccer match between the Netherlands and Australia on a laptop, at a camel market in Daba near Tabuk, Saudi Arabia, on June 18, 2014.
(Reuters/Mohamed Alhwaity)
Estação Espacial internacional assistindo a final da Copa do Mundo
Danke! (AP)
Polícia atuando ontem na Tijuca, na Zona Norte do Rio (Foto: Leo Correa/ AP )
Helê
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Dia desses fiz aqui uma reflexão pseudofilosófica sobre internet só pra você relevar o fato de que eu ainda tenho caderno de pensamento, uma prática que era comum na minha adolescência mas que eu acho que caducou, como tantas outras. Tá, não é um caderninho, tem outra versão: sobrevive transmutado em perfil no Pinterest, separado em diferentes categorias, mas o fato é que ainda hoje coleciono frases. As mais numerosas são as que resvalam para o humor, a ironia e a sacanagem – não necessariamente nesta ordem. Há um escaninho para o tema “corrida” que eu uso sobretudo para me motivar e premiar, uma maneira de fazer um high five comigo mesma depois de treinos e provas. E há também um board com mini textos de caráter inspirador, motivacional – não sei bem como denominar sem parecer piegas, talvez porque seja mesmo; paciência. Este quadro no Pinterest eu chamei de “Dizei uma só” porque acho isso de uma força impressionante: ‘Senhor eu não sou digno que entreis em minha morada mas dizei uma só palavra e serei salvo’ (Mt 8,5-11.). Acredito piamente que uma palavra pode salvar (eu mesma já fui resgatada muitas vezes).
Coleciono para reter, aprender de coração, para mais tarde confirmar ou não minha concordância com a mensagem – algumas têm prazo de validade, outras simplesmente mudam quando lidas sob nova perspectiva (ou idade, o que você preferir). Os critérios para gostar de uma frase são variados, e há algumas cuja mais força repousa mais sobre quem diz que sobre o que é dito. Frases que soariam banais se apócrifas, mas ganham incrível intensidade quando aquela pessoa diz aquilo. Quem melhor para falar sobre monstros que o mestre do terror Stephen King?
Amyr Klink, que passou 100 dias entre céu e mar e hibernou por um ano na Antártida, certamente tem autoridade para definir solidão e amizade:
Mas nesta categoria talvez a fala que mais me impressione seja a de Madre Teresa testemunhando sobre pobreza:
Helê
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Seguem aqui duas indicações, um de uma leitura recente e outra mais antiga, ambas muito prazeirosas.
Foi em alguma revista sobre corrida que soube de “Livre – a jornada de uma mulher em busca de um recomeço”; o título e a sinopse me instigaram o suficiente para comprá-lo. Lá se foram algumas semanas numa trilha sobre qual nunca ouvira falar , a Pacific Crest Trail, que cruza os EUA do México ao Canadá. Cheryl Strayed decidiu percorrê-la mesmo sem experiência anterior; acho quem nem ela sabia ao certo se procurava se salvar ou se enterrar de vez, tentando achar o fio da meada da própria vida depois da morte da mãe. Seria um trail book do mesmo modo que há road movies. O livro foi indicado pela Oprah no seu clube de leitura – o que me deixou com o pé atrás, que Ms. Winfrey é chegada numa auto-ajuda. E o livro vai virar filme tendo a Reese Queixinho Spoon como protagonista, o que também não me entusiasma. Mas a autora não parece ter culpa de nada isso; em nenhum momento o livro se arvora a ditar regras e conselhos. Ela quer apenas contar sua própria história, narrar essa fantástica travessia, e o faz com uma honestidade tocante. Recomendo, e vou até dar uma chance pra Reese quando o filme sair.
**
“Malcolm X – uma vida de reinvenções” me chamou na loja. Eu procurava um presente para uma amiga, olhei pra ele, achei que as credenciais eram boas (Cia das Letras, Pulitzer) e quando chequei o preço estava em promoção. Fiz o que faz o pobre: ao invés de economizar, comprei um pra mim. Mas valeu a pena, o livro é um trabalho de fôlego de um acadêmico americano sobre a vida de Malcolm, que eu sempre achei fascinante. Na definição precisa do autor, Manning Marable, “uma biografica mapeia a arquitetura social da vida de um indivíduo” – e é o que ele faz com maestria, traçando os contexto sociais, políticos e econômicos que emolduraram a vida de Malcom, começando pelo pai dele e indo até depois de sua morte. São décadas da história americana e da história negra no mundo, já que aborda importantes questões como o panafricanimso, islaminsmo e outras. Devorei o livro como se fosse uma ficção; até chorei com um final que eu sempre soube como seria. Também acabou sendo uma maneira de voltar (ou permanecer) em Nova York, cidade adotada por Malcolm e cenário de partes cruciais no livro. Lendo um trecho em que ele conta a incrível hospitalidade que experimentou na Arábia Saudita apenas por ser muçulmano, tive que recordar a fantástica acolhida que tive em uma igreja do Harlem, apenas por ser negra. Mas isso fica pra outro post; por ora ficam o teaser e a dica do livro.
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Helê
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