This is not Facebook

Sobre perder o emprego inesperadamente: alterno dias ruins com outros péssimos, com algumas pausas. Tem horas que não dói porque eu não lembro, não é que melhorou (acordar tem sido custoso). Segunda-feira passada foi uma pausa de alegres compassos, um almoço regado a morango, sorriso e amizade, tudo ao ponto. No sábado foi assim o dia inteiro, que fantástico, hub de amor. Mas no domingo veio a rebordosa: foi como descer de uma montanha russa direto na água gelada (das coisas que eu mais detesto, nem pra beber gosto). Mal conseguia respirar direito. Rio alto, como se sabe, mas sofro miudinho, tenho pudores de fazer drama desnecessário. Tenho espasmos de culpa – sempre ela, não falha nunca. Afinal, a menos que você seja funcionária pública, ser demitida é sempre uma possibilidade, como me lembrou alguém em um comentário arrasador que serviu para acrescentar culpa à dúzia de sensações ruins que eu já estava sentindo, sempre cabe mais uma. Rejeição, fracasso, medo, espanto. Tenho espasmos de otimismo, as pessoas que me amam só me lembram coisas boas e além disso, se essas pessoas tão incríveis gostam tanto de mim, caramba, eu devo mesmo ter algumas qualidades, uma ou outra deve servir para arrumar um novo emprego, não? Mas é que foi repentino e por isso violento, não lido bem com isso, não gosto de mudanças, mas de transições. Eu gostava do meu trabalho. Quando minha amiga deixou o escritório e todos um pouco atônitos, provocou em nós esses questionamentos sobre o que a gente quer mesmo, se estamos onde gostaríamos de estar e a minha resposta foi sim. Poderia ser melhor, eu deveria e precisava ganhar mais, mas aquele lugar não me oprimia, eu não sentia que estava vendendo meu tempo por nada — embora, claro, eu sempre tivesse outros planos para as horas livres. Que eram totalmente livres, eu nunca levava o trabalho para casa, o que era uma de suas qualidades. Talvez eu estivesse apenas conformada, me contentando com pouco, settling for less – sou boa nisso. Mas agora não adianta mais porque não tenho mais aquele lugar, os colegas, a vista para a Baia, meu trabalho. Perdi também algo que me é muito caro, a minha rotina. Acordo e penso em milhares de coisas que posso e tenho que fazer e acabo como a centopeia, paralisada sem saber onde levar as pernas. E mesmo quando começo a fazer algo, como vir aqui chorar as mágoas no teclado, fico com a impressão que deveria estar fazendo outra coisa qualquer, mais importante e útil. Parece que nunca estou no lugar certo fazendo a coisa adequada – já estive? Fracasso, fragilidade, vergonha, tristeza. Uma tristeza enorme, uma sensação de vazio, me sinto solta como uma balão no ar, e eu sei que essa pode ser uma imagem linda e poética, mas nunca para a criança que ficou com a mão para cima, tentando agarrar o que já não está. É, eu sou a criança, dispensa Sigmund que não tem metáfora nem sutileza. Por isso fui ao cinema ver “Terremoto”, duas horas de mudança repentina e violenta, tudo desmoronando, mas não era eu, que bom. Sim, tenho lapsos de humor, então nem tudo está perdido. As coisas vão se ajeitar, eventually. Eu vou me ajeitar, porque afinal é o que eu faço, o que venho fazendo já há alguns anos. Eventually – eu amo essa palavra. Em algum momento, espero que logo, transformo a tristeza em algo mais produtivo, como raiva, por exemplo, e uso a meu favor, há de servir. Use your skills to pay the bills, me ensinou a drag queen. Mas nesse momento, nesse junho de 2015, não consigo deixar de achar que não é justo, que eu realmente não precisava disso.

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Helê

21 Respostas

  1. Helê, tô meio atrasada, espero que já estejas te sentindo melhor, mas mando um abraço bem quentinho (no RS tá frio!!!), muita fé e desejo que a culpa já tenha ido prá bem longe!
    A vida (essa, além do trabalho) vai te dar força e ideias prá recomeçar. Eu sou daquelas que acredita que “Deus escreve certo por linhas tortas”!
    Super beijo, com carinho!
    Sabrina.

    Oi, Sabrina, tudo bom? Que bacana revê-la aqui.
    Olha, mensagens como a sua sempre chegam no momento certo, sempre. Ainda estou procurando novo emprego e lutando contra os sentimentos dispensáveis, mas estou melhor. Apoio e carinho como os que recebi no seu comentário têm sido fundamentais; obrigada, de coração!
    Beijo grande pra você,; apareça mais. :-)
    Helê

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  2. ps: quando digo eles, quero dizer os moços maus, feios e horríveis que te demitiram.
    :)))

    I got it ;-)
    Bj,
    H.

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  3. ô, helê…
    é foda! já passei por isso. não era um trabalho, era um emprego, mas era um belo emprego onde eu me sentia bem, ganhava razoavelmente e levaria ad eternum. foi um choque, pois veio, pra mim, meio que do nada. a sensação foi péssima: me senti descartável, rejeitada, reprovada, sei lá.
    aí, a vida – que é outra coisa, mesmo! – se encarregou de me provar que as coisas, de fato, não acontecem por acaso e que eu precisava estar disponível pra prioridades mais altas. aí, eu, que sempre me vi como funcionária por natureza (saio de casa pro trabalho, não do trabalho pra casa), me vi empreendendo, inventando o que fazer e, apesar de fazer pequeno, montei e estou fazendo meu negócio. tenho uma rede de segurança grande e confortável, é vero, mas ganhei a confiança de que posso caminhar com minhas próprias pernas. são só duas e pequenas, mas dá pra avançar.
    desejo boas descobertas pra vc, novos caminhos que se abram ou se vislumbrem pra levar sua centopéia pra passear e, quem sabe, correr num futuro bem próximo.
    só não perca a confiança em vc, nos seus talentos, nas suas capacidades, no seu poder. eles são só eles, e não serão eles que te definirão. vc é mais, é maior, é grande, e pode muito.
    não é possível que estejamos todas(os) enganados, né?
    beijo e abraço
    :)))

    Petita, muito obrigada. suas palavras foram encorajadoras e generosas, até um tanto surpreendentes. Estou muito grata pelas várias formas de carinho que tenho recebido, obrigada pela sua.
    Beijo grande,
    Helê

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  4. Me identifiquei tanto. Já aconteceu comigo várias vezes, e sei que pode acontecer de novo a qualquer momento. Por isso, nem sei bem o que dizer, mas quero te dar um abraço e dizer a única coisa que eu sei ser absolutamente verdadeira, e que costuma me consolar um pouco quando estou triste: vai passar. <3

    Obrigada, Cynthia. Seu abraço e suas palavra ajudam a acreditar que vai passar, você que eu gosto e admiro tanto. Beijo enorme pra você,
    Helê

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  5. Concordo com o que sua amiga escreveu “A gente precisa dele pra sobreviver, e ponto. A vida é outra coisa”. É isso. A gente trabalha pra viver, mas não vive pra trabalhar. A vida é muito mais. E você merece mais. Vai surgir algo digno de você e logo. Um abraço apertado, muito amor e se precisar de qualquer coisa, pode pedir sem medo!

    Muito, muito obrigada, Ju, pela força das suas plavras e pelo carinho irrestrito. Beijo enorme,
    Helê

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  6. Muito, muito atrasada e sem uma palavra sensata, essa sou eu. Mas sou boa nos abraços e esses você tem dito que são bem vindos. Sou boa, também, em desembaraçar pernas de centopéia. Ou de me enlinhar nelas. De qualquer forma, chegando depois mas com bem querer.

    Lu, tem a sensatez dos abraços escritos, que são bem-vindos a qualquer hora. Obrigada, querida, pelo carinho. Como já disse para alguém, tenho vivido disso nesses últimos dias. Beijo grande,
    Helê

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  7. Helê, gelei aqui. Toma aqui minha mão. No que eu puder fazer pra te ajudar a sair desse pesadelo, conte comigo. E você vai sair, porque pesadelos acabam, tudo passa, você sabe. Muito carinho pra você. Beijo.

    Obrigada, Tina, pela mão estendida, pelo carinho, pela força. Qua a gente volte a sonhar acordada, se possível juntas, como já sonhamos. Abraço forte,
    Helê

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  8. Helê, querida,
    Eu passei uns momentos difíceis há pouco tempo e me identifiquei com alguns dos sentimentos aí. A culpa, a sensação de inutilidade, de incompetência. A perda de coisas que eu gostava, precisava, sentia que tinha direito. Aos poucos fui me convencendo que mereço mais. Você merece mais. Todas temos visto como você está linda, poderosa, segura e serena. Todas temos comentado como você é inteligente e interessante. Todas estamos aqui e ali para você sempre. Todas nós, todos nós. Venha a nós, venha a mim quando quiser, Helê. Um grande beijo cheio de amor.

    Ô, Mani, obrigada, pelas palavras, pelo carinho, pela força. Tudo isso tem sido fundamental nesse momento. Obrigada mesmo, muito.
    Beijoca,
    Helê

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  9. Passar por isso quando a gente gosta do emprego é o pior,né? Eu já passei por isso duas vezes, nas duas, de-tes-ta-va meu emprego. Em uma delas, já tinha um filho… e um salário ótimo. Mas tinha uma sobrecarga tão grande, que nem senti falta do tal salário. Bons ventos chegarão!!!!

    Tomara, Andréa. Obrigada pelo comentário e pela força; aquele abraço.
    Helê

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  10. Poxa, menina! Que logo comece uma fase nova e melhor! Deixo minha solidariedade, minhas vibrações positivas e meu abraço, querida! <3

    Ô, Claúdia, tudo recebido com gratidão, muito obrigada. Todos itens fundamentais.
    Beijo grande,
    Helê

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  11. Um abraço bem apertado.

    Muito obrigada, Juliana. De coração.
    Aquele Abraço,
    Helê

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  12. Helê: já passei por isso e é realmente paralisante, aterrador. Deixo com vc algumas palavras que coleciono com apreço. Chamego, dengo, cangote (lugar onde mora o xamego), merenda e suspiro.
    Fique bem. aguente mais um pouco que depois da chuva tem arco-iris.

    Ô, Maria, que lindeza você me oferecer das coisas que mais gosto, palavras, e ainda mais um buquê especial como esse. Muito obrigada, minha amiga. Com elas fica mais fácil esperar a chuva passar.
    Beijo imenso,
    Helê

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  13. Um abraço beeeemmm apertado, Helê. (E olha, seu cabelo ta muito lindo)

    Muito obrigada, Kathia, pelo carinho e pelo elogio.
    Beijo grande,
    Helê

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  14. Helê, que baque, um abraço e que logo você esteja fazendo algo que goste e que pague muito bem :o)

    Deus te ouça, querida. Obrigada pelo carinho.
    Beijo enorme,
    Helê

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  15. Helê, e uma dor e uma perda muito grande.
    Mas saiba que neste momento você não esta sozinha.
    Se ajudar da uma lida neste site : https://claudiagiudiceemavidasemcracha.wordpress.com/tag/a-vida-sem-cracha/

    O relato dela e muito tocante, mexeu muito comigo e me ajudou a passar por esta perda.

    Boa sorte.

    Oi, Luanna; vou acessar o site; desde já obrigada pela dica e pelo carinho. Forte abraço,
    Helê

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  16. Helê, querida! Entendo muito o que você está sentindo e passando. embora comigo não tenha ocorrido isto, a última vez já faz muito empo mesmo, há alguns anos atrás meu marido ficou desempregado por mais de um ano e foi difícil. Era como se houvesse alguém doente na casa. E havia, de certa forma. Aprendi muito com este processo. Aprendi inclusive que, aquela máxima, funciona mesmo: não há mal,que sempre dure e nem bem que nunca acabe.
    Você também sabe que isto vai passar e que você voltará a trabalhar, mas passar por isto é muito duro, difícil e chato.
    Não sei em que eu poderia te ajudar, mas não se vexe em pedir e/ou perguntar, tá?

    Beijos

    Nina, toda boa intenção, toda atenção, tudo isso ajudo e fortalece, querida. Muito obrigada.
    Beijo grande,
    Helê

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  17. Helê querida, foi você que escreveu, mas sempre poderia ter sido eu. Não agora, mas eu sou uma pessoa na corda bamba com trabalho, sempre. Já fugi, já fui embora, já fui demitida: já fiz muita coisa legal, muita coisa de que gostava, muitos amigos que ficaram pra vida. Trabalho é só trabalho, disse alguém. A gente precisa dele pra sobreviver, e ponto. A vida é outra coisa. Foda tudo isso. Beijo grandão grandão. Tamos aí pra chorar junto antes de procurar o próximo.

    Renata, querida, obrigada por esse abraço escrito, tão importante! A vida é outra coisa, isso aqui, por exemplo <3 .
    Obrigada, beijo grande,
    Helê

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  18. Não precisava e com certeza não merecia. Mas um abalo desses pode ser um novo ponto de partida pra uma nova conquista ainda melhor. Tenho a maior fé em você! Mil beijocas de carinho!

    Obrigada, Meg, muito obrigada pelo carinho, está sendo fundamental.
    Beijocas agradecidas,
    Helê

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  19. Hele dias melhores virão. Tenha fé. Uma porta se fecha para outras se abrirem. Um beijo carinhoso.

    Obrigada, Ana, muito mesmo. Estou tentando transformar as demostrações de afeto e torcida em força pra seguir.
    Beijo grande, volte sempre ao blogue; a casa é nossa. ;-)
    Helê

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  20. Ô amô, toma um abracinho que não é fácil não!

    Não, Dani, não está sendo fácil :-) . Mas melhora muito com carinho, obrigada, amore.
    Helê

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