EquiLibra

Eu tinha uma tia-avó que quando ser atrasava para dar os parabéns dizia que enquanto tá no signo tá valendo.

Então como ainda estamos sob a influência de Libra posso homenagear minha sócia que aniversariou ontem.

Helena que equilibra sorrisos e lágrimas,  sabedoria e bobagi, do afeto e da razão.

Helê que com sua simpatia equilibra minha introversão. Nada sem você, amore.

-Monix-

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Salve Cosme, Damião e Doum! Viva as crianças!

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“Mas minha cabeça é sã
Porque Cosme é meu amigo
E pediu a seu irmão, Damião
Pra reunir a garotada
E proteger meu amanhã, meu amanhã”

Patota de Cosme, Nilson Bastos, Carlos Sena

Helê

Genial Ferrante

Começando a subir as belas escadarias de madeira do Centro Cultural dos Correios, a ascensorista me chamou: “Não quer vir de elevador? Ou quer fazer exercício?” Um pouco sem graça aceito a oferta, e ela, durante a viagem de dois andares, fala com desenvoltura sobre a história do prédio, num entusiasmo surpreendente – que foi uma escola, que é de 1821, etc, etc. Na descida, me olhou de cima a baixo e elogiou sem nenhum pudor: “Você é bem estilosa, gostei. Muito bem!” E ainda fez nova propaganda do Centro: “Já viu a [peça] Chica da Silva?” Saí pensando que talvez ela devesse ficar na recepção, recebendo os visitantes, e não ali dentro, naquela viagem curta em que mal consegue contar tudo o que sabe sobre o local. Será que a peguei bem-humorada, apenas, ou há ali um talento subaproveitado? Simpatia, habilidade e conhecimento sobre o local de trabalho além do necessário para a função. Tivesse tido oportunidade – que eu estou levianamente deduzindo que faltou –, estaria ela conduzindo um elevador, apenas?

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a_amiga_genial__-_ferrante_2015_okQuando estou vendo muitos episódios seguidos de uma série, ou quando estou lendo um livro marcante, eu mentalmente mimetizo o narrador ou algum personagem. Fico sob a influência daquele estilo, daquele modo de estar no mundo. Por alguns dias ou semanas eu penso a partir daquela perspectiva, ou imagino como o autor (ou personagem) pensaria sobre. Agora estou under influence de Elena Ferrante, minha quase xará (e também das Gilmore Girls, mas esse é outro post). Acabei de ler o primeiro livro da tetralogia e me sinto imersa no universo desse livro incrivelmente bem escrito, que vai mostrando sua qualidade aos poucos e no final te torna refém; você pensa, aliviada: “Ufa, ainda bem que tem mais três!”. Para mim está tendo um efeito quase terapêutico (qual bom livro não tem?): voltei a fatos e pessoas da minha vida que pensei esquecidos. Mas também entrei em contato com emoções e sensações que talvez não quisesse lembrar. Ferrante, além de observadora sagaz, encontra quase sempre le mot juste, descrevendo com clareza o que vivenciamos com imprecisão. E realiza, com muita perspicácia, esse truque de prestidigitação literária, que consiste em: contar uma história que parece muito distante de você – duas meninas beirando a miséria na Itália do pós-guerra – e de repente, tá-rá! É sobre você. E sobre suas escolhas, sombras, sentimentos inconfessos, desejos sufocados, aquela parte com a qual a gente não gosta de lidar nem com luvas: mesquinhez, vergonha, inveja, derrota, maldade, fraqueza. E o mais alarmante: o livro mostra como essa matéria também constitui nossa relação com aqueles que a gente ama e quer bem, não só com rivais ou vilões de ocasião. E ainda constata que sentimentos ruins ou pouco nobres podem impulsionar conquistas. Portanto, em “A amiga genial” aquela sensação agradável de se reconhecer no que o outro escreve vem misturada com um desconforto irreprimível em muitos momentos; pode ser assustador. Ou revelador. Ou ambos.

Pode ser também que eu esteja projetando demais, admito. Li algumas resenhas “isentonas”, sempre observando o outro: elas, as meninas; a Nápoles e seus pobres, os anos 1950, tudo lááá longe. Para mim tudo aquilo foi ficando cada vez mais familiar com o passar das páginas; mesmo a violência entre pais e filhos, que não vivi, nunca esteve fora do meu radar (talvez apenas duas ruas ou casas depois). Quase todas as matérias e resenhas sobre o livro, assim como a orelha e a contracapa, repetem adjetivos como brutal e violento para descrever a história ou o estilo de Elena Ferrante. Mas talvez violento mesmo seja o choque ao se reconhecer tanto numa história tão íntima e singular.

“A amiga genial” também é sobre gênero, classes sociais e os esforços, mais ou menos desesperados, para achar uma saída da pobreza; é sobre caminhos, tropeços e atalhos para fugir do que parece inexorável. Como escapar de condições estabelecidas muito antes de você e que parecem fadadas a permanecer, no matter what. Condições, claro, mais dramáticas para as mulheres. Não consigo evitar a frustração ao pensar em gerações de mulheres talentosas, inteligentes, criativas que foram perdidas pelo atraso do mundo, calibrado pelo machismo castrador, inseguro e burro. E em tantas outras que até hoje ficam pelo caminho, em postos aquém de sua capacidade, mesmo prenhes de potencial. Under influence, eu avisei.

Helê

O presente e seus desafios

No celular tento digitar com os dedões porque a adolescente me explicou que de outro modo “é como faz o pessoal da sua idade”. Nenhum problema com esse pessoal, que é o meu, mas she’s gotta a point, faz mais sentido e é até mais confortável, tenta só pra ver. Provavelmente vai acarretar uma nova L.E.R.,  uma -ite digital,  mas vem no combo novas tecnologias /possibilidades/doenças também; paciência. Não é isso que me incomoda. Desagrada-me o fim da privacidade, ou por outra, a sua atual indefinição e fluidez. E não é só da minha que falo, é também a do outro.

Entrei num táxi uma vez onde o motorista participava de uma espécie de chat oral on line: rolava uma animada conversa com mais duas ou três pessoas pelo auto-falante do celular, nem sei que aplicativo eles usavam. Só sei que fui da Tijuca até a Gamboa ouvindo um papo animado sobre religião, mulheres em geral e mulheres da zona sul em particular (!) que me constrangeu bastante. Nem havia nada de picante ou impróprio, mas era uma conversa da qual eu não pedi para participar e fui incluída à revelia. Quase pedi pra descer me desculpando por incomodar. Na sala de espera de um consultório escutei o áudio em que a menina dizia ao rapaz: “Sinceramente, eu esperava mais de você”.  Tipo de coisa que desperta infinitas possibilidades de interpretação na minha mente zombeteira, e ainda me exige esforço e compenetração para não emitir uma opinião técnica, tipo, “Da próxima vez faz assim…”. E as pessoas que falam no celular no ônibus como se estivessem em casa, completamente à vontade? Eu morro de vergonha, seja qual for o teor da conversa; apenas porque eu não deveria e nem queria estar ouvindo aquilo.

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Em 1998 eu escrevi uma tese (não dorme, péra) com o título “Luis Fernando Veríssimo. O humor entre o público e o privado”. A única coisa que permanece com contornos definidos é o Veríssimo (Graças a deus!). Escrevi algo que em menos de 20 anos ficou obsoleto. Diz aí você, o que é uma coisa e outra, público e privado ? O Veríssimo, ok, é meu rei; meu pastor e nada me faltará.

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Um dos maiores desafios da atualidade: pegar o celular para fazer algo – uma das 73 coisas que você pode fazer com ele, além de telefonar –, e fazer. Porque esse potente microcomputador portátil também funciona como sumidouro, alçapão, armadilha: você vai, sei lá, procurar um número de telefone,  e de repente está curtindo uma foto do seu amigo no aniversário da mãe dele, no Instagram. Que merece, aquela fofa da D. Alzira –  mas como é mesmo que eu vim parar aqui? Culpa das notificações e avisos, sem os quais a gente não daria conta de saber o que se passa enquanto a gente não está olhando para a telinha. Mas que exigem determinação monástica, concentração zen-budista e força de vontade religiosa para que a gente apenas procure aquele número que buscava quando pegou o celular. Claro que o mesmo acontece no computador (eu vivo me perdendo entre abas e janelas), mas o <ler com sotaque português>telemóvel<fim do sotaque>, como dizem os primos, tornou tudo mais crítico,  colocando essas armas de distração em massa  no nosso bolso (ou bolsas). As definições de transtorno de atenção precisam ser atualizadas – assim como as de educação e etiqueta.

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Entre apocalíticos e integrados eu sempre pendi para os segundos, desde o tempo em que essa distinção fazia sentido e era ensinada nas faculdades de jornalismo, na Idade Média. Não acho que o problema seja o celular, a coisa em si, ou mesmo a tecnologia que a sustenta. Acho que o mal é o que sai da boca do homem, fecho com a bíblia nisso aí. Trata-se apenas de observações sobre um mundo que muda mais rápido que eu achava capaz. Não me entendam mal, nem me considerem uma velha rabugenta. Contra a rabugice lutarei sempre; da velhice finjo que não gosto, mas tô tentando fazer amizade.

Helê

Imagem daqui.

Dia da árvore

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Uma data que você só lembra na escola e aqui no Dufas ;-)  .

Helê

Casais

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Lovers and Lautrec, Joseph Lorusso

Helê

Ausente

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(Salvo de kandycesays.tumblr.com)

Da série Corações

Helê

 

Enquete Dufas

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No plano cotidiano, já deixei muitas vezes de ir a algum lugar porque voltaria tarde, não tinha grana para um táxi e o combo mulher+pobre tornava perigoso o retorno pra casa, inviabilizando o programa.

Mas a pergunta me instiga num nível mais profundo, em termos de escolhas de vida. Não sei a resposta, mas tenho certeza que ela existe, e talvez seja plural.

E você, já se fez essa pergunta? Que resposta ou respostas encontrou?

Helê

Escaldado

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(Do Pinterst)

Da série Corações

Helê

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