Andarei vestida com as roupas e as armas de Jorge. Adoro a imagem do Buda barrigudo sorridente. Rezei com fervor e emoção numa igreja batista do Harlem. Cosme e Damião me guiarão até o fim, ora iê iê minha mãe Oxum, namastê. O manto de retalhos multicoloridos da minha fé me envolve, protege, fortalece. Eu acredito – cada vez menos em religiões, e sem dúvida em deus, deusas, divindades, energias, orixás, santos, caboclos, vibrações.
Nessa religiosidade um tanto esculhambada há poucos rituais e nenhuma disciplina. Falo com deus em momentos inesperados e em lugares insólitos – muitas vezes na natureza, quando a presença de algo maior se impõe; noutras através da música, uma das linguagens divinas. Peço pouco e agradeço muito, sempre que lembro.
Mas de vez em quando peço. Na semana passada, pedi (num lugar insólito). E percebi minha enorme dificuldade em fazer isso, porque também aí minha racionalidade impera e no momento mesmo da reza começo a analisar meu pedido. Acho que nunca consegui pedir sem, imediatamente, considerar a viabilidade de ser atendida, meu merecimento, as chances de conseguir. Não consigo rezar: “Faça com que eu ganhe na mega sena” sem pensar que talvez não seja necessário tanto, que há quem precise muito mais, que eu não cuido do meu dinheiro como deveria… Consigo imaginar o santo revirando os olhos, colocando a mão na cintura e falando “Sério, Helena?”
Então rezo pouco porque sou relapsa mas também porque tenho dificuldades em pedir. Acabo sendo pouco específica, peço bençãos de importância incontestável, como saúde e proteção para os meus. Até para pedir recuperação para os doentes eu preciso pedir e sair correndo, se não já começo com os detalhes – recupere se for o melhor, se não ficarem sequelas, se não houver mais sofrimento. Não há santo que aguente. (Com frequência recorro ao Pai Nosso, simples, forte e eficiente: com o ‘seja feita a vossa vontade’ entrego a deus, literalmente, e lavo minhas mãos).
Por outro lado, esse excesso analítico, rezar pode ajudar exatamente por ser uma outra maneira de pensar sobre o assunto, analisar a situação, descobrir aspectos que antes não havia pensado e, no limite, encontrar respostas. Mais ou menos da mesma maneira que a gente acaba aprendendo a matéria quando prepara a cola. Tentando se safar por não saber, a gente faz o que deveria ter sido feito, estudar. Ao rezar, penso mais profundamente no que estou pedindo, percebo o tamanho do meu desejo, o que posso fazer para conseguir, o que devo evitar, o que não quero e não vou tolerar.
No fim das contas, Deus realmente opera de muitas maneiras …
Helê
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