Da série Corações.
Helê
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Casamento não é para fracos.
Nada pessoal, sem ofensas – apenas uma frase de efeito para sublinhar a complexidade da condição de casado. Sou até a favor do casamento – de tantos quanto forem necessários, como dizia uma amiga. Para mim bastou um, obrigada, tô satisfeita.
Um alerta para os incautos que ainda acreditam em felizes para sempre. Você nunca vai ser feliz para sempre, baby: nem quando casar, nem quando tiver filho, nem quando tiver um casal, nem quando separar, nem mesmo, suspeito eu, quando acertar na loteria sozinho. Essa é outra lenda urbana, igual fucking zona de conforto. Quanto antes você compreender isso, mais chances tem de ser feliz. Mas nunca para sempre, ciliga.
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Já a solteirice cai bem nos jovens, claro (o que lhes cai mal?) e nos que se mantêm no mercado, digamos assim. Porque independente do seu grau de interessância, a Lei Geral da Física Sexual (e a demografia) estabelece que a quantidade de opções decai com o passar do tempo, salvo raríssimas exceções. E há dificuldades específicas para quem volta a ser solteiro depois de um tempo fora de combate. Equivale a voltar para uma festa que estava ótima e perceber que tudo mudou enquanto você esteve fora: a decoração, os convidados, o DJ e até (ou sobretudo) você. Que começa, inclusive, a questionar se a festa estava tão boa assim quando você saiu.
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Mas eu suspeito que, no frigir dos ovos (uia, alerta de velhice essa expressão, hein?), a pessoa é para o que nasce. Só, somente só. Assim vou lhe chamar, assim você vai ser. O que salva é que pra sempre não é todo dia.
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E esse é um post reescrito ou reciclado porque o Carlos me lembrou dele e porque you know the drill: calabocajámorreuquemmandanomeubloguesoueu. E porque eu quis postar essa imagem do perfil que mais tem me divertido nos últimos tempos, o Pensador Sincero:
Helê
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Helê
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Nós jurássicas, que mantemos este blogue há mais de uma década, quando chegamos, vocês sabem, isso tudo aqui era mato. Já vimos muita coisa surgir nessa internet sem porteira; algumas vingaram e outras tantas viraram poeira cósmica digital (dizem que os blogues também acabaram mas quem liga? Nós não).
Numa plataforma chamada Multiply criei o Dufas Dial, que reunia playlists relacionadas com meus posts, basicamente . O Multiply morreu, mas hoje existe o Spotify, e me ocorreu de reeditar lá algumas listas, ressuscitando posts antigos. E criar novas, se a inspiração me visitar.
Para começar, uma lista de variações sobre o mesmo tema: em 2009 eu escrevi sobre Don’t let me be misunderstood, essa canção que não para de ser regravada. O Spotify não tem algumas versões citadas no post original (que eu achei no Grooveshark, outra plataforma falecida). Em compensação, de lá pra cá a música ganhou versões de Mary J. Blige e Lana Del Rey, provando meu ponto. (Re)leia o post, ouça as faixas e escolha a sua interpretação favorita
Helê
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Depois de muitos anos e livros, tive a oportunidade de assistir a uma palestra de Amyr Klink, esse agora senhor, saído diretamente da minha galeria de heróis (felizmente nem todos morreram de overdose). Fascinante estar pela primeira vez diante de alguém que, como comprovou a fala dele, eu já conhecia. Sabia muitas das histórias, lembrei de trechos dos livros, perrengues de viagem, uma singular intimidade que só o livro proporciona. Encontrei exatamente o Amyr que eu tinha na memória, ainda que tenha sido a primeira vez que o vi. Talvez mais engraçado, seguramente mais envelhecido – muito embora tenha remoçado visivelmente após 2 minutos de palestra. Aliás, impressionante como seu semblante passa de circunspecto a vibrante assim que assume a função de orador, falando por mais de hora e meia com entusiasmo. E imediatamente volta à introspecção ao final, quando volta a personificar o marinheiro tímido, satisfeito com o carinho da plateia mas claramente deslocado em meio a cumprimentos efusivos.
Comandante do seu destino, capitão dos seus desejos, esse cara que me ensinou a importância do planejamento e da perseverança, disse uma frase maravilhosa e surpreendente: “Um plano serve para a gente saber o quanto se afastou dele”. Também disse logo no início do encontro, com uma honestidade quase infantil, que morre de medo do mar. Sempre há algo novo a aprender com os mestres.
Amyr me ensinou muito mais do que posso enumerar, de grandiosos sucessos a retumbantes fracassos, igualmente didáticos e importantes. Pela segunda vez na vida que pedi um autógrafo para alguém que realmente admiro, com o coração disparado e tropeçando nas palavras. Saí feliz como uma criança, emocionada, segurando junto ao peito o livro que me conduziu a histórias nunca antes navegadas, a partir do qual desbravei outros mares, com o qual atravessei oceanos de conhecimento e prazer.
Helê
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Acabei de ler a autobiografia de Eric Clapton, minha mais recente leve obsessão. O título poderia ser “Brutally honest”, porque o deus da guitarra expõe seus demônios e sombras de um modo implacável, talvez mais até que suas conquistas. Sem aspirações literárias, Clapton dispensa floreios e vai direto ao ponto – he cuts to the chase, para usar outra expressão americana bem precisa. Relata com detalhes tanto sua iniciação musical, os primeiros shows, ídolos e grupos quanto seu confuso histórico familiar, sua conflituosa vida amorosa e sua dependência química quase fatal. Ele é tão franco que, ao concluir o livro minha admiração pelo músico aumentou, mas não sei se gosto da pessoa, embora a respeite imenso. Em que pesem os estragos causados pelo alcoolismo, que o debilitou durante grande parte da vida, Clapton me pareceu em muitos momentos egocêntrico, imaturo, arrogante. Mas perceba que eu formei essa imagem a partir do que ele descreve sobre si mesmo, o que só reforça a franqueza incomum de seu relato.
Eu nem posso ser considerada uma fã, mas gosto muito do pouco que conheço e tenho uma clara noção de seu papel ímpar na música ocidental dos últimos 40 anos. Uma trajetória extraordinária, de fato, e tão rica que não consigo imaginar como foi possível escolher entre o que incluir ou o que deixar de fora numa vida que parece ser tido várias encarnações em uma só. Isso sem contar as companhias, que Seu Clapton não era um garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones: ele andava com os Beatles e os Rolling Stones numa daquelas épocas em que parece que todas as pessoas realmente interessantes no mundo estavam no mesmo lugar – ou o mundo era menor, ou era mais interessante, não tenho certeza. O fato é que a trajetória de Eric Clapton é uma aula incrível sobre blues e rock n’ roll, mas irresistível para qualquer admirador da boa música, além de um depoimento corajoso de alguém que conheceu céus e infernos e sobreviveu pra contar.
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“Dias de abandono” é um livro angustiante, tenso, que não te dá refresco nem consolo, te deixa em suspenso, torcendo e morrendo de medo de estar no lado fadado ao fracasso. Não há leveza, parece um mergulho do qual você não consegue voltar antes que seja absolutamente necessário, sem atalho nem truque. Tudo isso só prova o quanto é incrivelmente bem escrito, porque provoca uma gama de emoções vasta e funda, quer você queira ou não. Todo mundo que já viveu dias de abandono – horas, semanas, meses – revisita essas dores e cantos escuros. Li com o coração na mão. Difícil, mas belíssimo e poderoso – um autêntico Ferrante.
Ah, e assim como na tetralogia napolitana, a capa brasileira é anos-luz superior às das edições italiana e americana.
Helê
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