Lembrando das Copas (sem ajuda)

Ando imersa no universo da Copa, assistindo a todos os jogos que posso e os programas esportivos que gosto. Acho que nunca acompanhei tão de perto uma copa (e tão de longe uma seleção), mas sei que toda essa informação vai se perder nos vãos da minha memória de queijo suíço. Daqui a quatro anos vou reler o que escrevi aqui para relembrar detalhes, impressões, jogos. Espontaneamente, sem consulta ao gúgol ou à caixa de pesquisa do blogue, restarão apenas uns pedaços de memória. Como os das copas anteriores, que eu resolvi inventariar aqui contando com o que me fornece a Velha Louca (e divertida) que toma conta dos meus arquivos mentais.

Nascida em 69, minhas lembranças do mundial só começam em…

1978 – Peru perdendo de 6×0 num jogo roubado. (Foi tudo que retive dessa copa longínqua).

1982 – A COPA. Laranjito. Figurinhas da Copa no meu diário. As coxas do Éder. Pacheco. Bota ponta, Telê! Sarriá. Paolo Rossi. (Nunca mais torci assim, nunca mais sofri assim.)

1986 – Tela branca. Não lembro de nada dessa copa. Olhando na internet vejo que foi a do gol de mão do Maradona. Mas eu não me lembro de nenhum jogo, de um lugar ou grupo de amigos. (Trauma é trauma)

1990 – Caniggia. Eu vendo com meu namorado em casa. Expectativa baixa. (Esperar o que de Larazoni?!) Roger Mila e a seleção de Camarões que nós adotamos.

1994 – Romário & Bebeto. A cotovelada do Leonardo. Vila Kennedy. É téééééétra!!!! Pênaltis que eu não assisti (nunca mais, aliás).

1998 – Ronaldo não relacionado para jogar a final. Edmundo enlouquecido com o fairplay do Rivaldo. Eu comemorando o 3o. gol da França: allez, les bleus!

2002 – Não me lembro de absolutamente nada da copa da madrugada. Como estava grávida e não queria ficar nervosa, nem a final vi direito. (Quem teve essa ideia de jerico de fazer uma Copa na Ásia?)

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2006 – Klinsmann <3 Organização. Comemoração linda pelo terceiro lugar. Primeira copa com minha filha prestando atenção (ela falava “Olha o Quísman, mamãe!” <3). Ah, a cabeçada do Zidane.

2010 – Vuvuzela. Waving Flag. Shakira. Camisas apertadinhas da Puma. #suja

2014 – Alemães no Alzirão. Argentinos na Lapa. Belgas no metrô. 7 x 1: fim. O fim da picada.

E você, o que lembra das Copas que viu?

Helê

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Pastilhas Garota* – da Copa

  • hortelaChegamos à metade da Copa do Mundo, fim da fase de grupos e nós tá como? Achando ruim que hoje não vai ter jogo.
  • Ah, também estou absolutamente enojada de todos os comerciais. Eu não sei que estratégia publicitária é esta que repete à exaustão as peças a ponto de você ficar com raiva do anunciante. Só vejo tevê com o controle na mão, pra tirar o som do aparelho nos intervalos.
  • Várias trajetórias sofridas ganharam destaque nesta primeira fase, como a de Alireza Beiranvand, goleiro do Irã, que fugiu de casa para jogar futebol, o belga Romelu Lukaku, que escreveu sobre a pobreza da infância, ou o Luka Modrik, croata que foi refugiado de guerra. O circo da Copa adora um drama, é verdade, mas parece que foi preciso achar outros heróis quando as grandes estrelas parecem glamorizadas e distantes demais. E vacilando na hora de confirmar o status de super-heróis…

  • Assisti ao primeiro jogo do Brasil em casa, sozinha. Frio, preguiça e a irresistível possibilidade de fazer algo que nunca tinha feito antes. A primeira grande vantagem é se livrar do Galvão, essa anta onipresente. Não fiquei tensa. Nem contente com o gol – essas emoções passam de um a outro como corrente elétrica. Isolada e desconectada desse time que eu mal conheço, foi só mais um jogo.
  • Durante a partida cheguei à janela e ouvi o silêncio mais profundo desde que moro aqui, há mais de dois anos. Domingo à tarde numa movimentada rua da Tijuca parecia madrugada. Impressionante
  • Ao segundo jogo assisti com um galera divertidíssima. O time jogou melhor, mas nada de gol. Abri uma cerveja aos 42 do segundo tempo porque o Brasil, como se sabe, me obriga a beber. Logo depois saiu o gol. Conforme queríamos demostrar.
  • No terceiro jogo estive com outra turma bacana, e o Brasil jogou melhor. Assim, está estabelecida a superstição desta Copa: nunca assistir um jogo da mesma maneira que o anterior.
  • Gente, e Eckateremburgo? É uma cidade ou uma batucada? Toda vez que alguém fala na tv “Agora, direto de Eckateremburgo:” eu espero: “Grupo Fundo de Quintal!!!”
  • Resultado de imagem para troca de passes sportv grafiteLogo no início da Copa dei de cara com o jogador Grafite na bancada de um programa esportivo. Achei que era um convidado, mas ele é comentarista fixo. A simples imagem dele tela causa um impacto: ao ver um negro retinto na tela, imediatamente nota-se a raridade dessa imagem. Uma presença que evoca ausências.
  • No dia seguinte, o ex-árbitro Paulo César Oliveira foi convidado. Dois pretos! Pensei maquiavelicamante: “Até o o final da Copa tomaremos a bancada inteira! Huahahahahaha!” (risada de vilão)
  • Sinto uma sensação boa (e rara) quando me vejo na tela. Algo entre o conforto e a acolhida, numa definição imprecisa.
  • Já são muitas as imagens para colecionar – emocionantes, engraçadas, bizarras. A comemoração do primeiro gol do Panamá em Copas, torcedores da Colômbia consolando um menino polonês, o belga que foi comemorar o gol e se deu uma bolada na cabeça, o zagueiro senegalês descansando na trave enquanto sofria um gol. Entre os mais divertidos estão os que celebram a repentina amizade entre mexicanos e sul-coreanos:

  • Resultado de imagem para mexicanos na embaixada da coreiaE o vídeo impagável dos mexicanos fazendo o Consul da Coréia tomar um shot de tequila com o coro “Coreano, hermano, ja eres mexicano!” O cara foi carregado nos braços!
  • Também muito bacana esse momento captado ao final do jogo Panamá x Bélgica (assista sem som, porque a narração melodramática é desnecessária) :
  • Entre os melhores momentos está, óbvio, a reação da repórter Júlia Guimarães ao assédio de um torcedor (sim, de novo e sempre).
  • Bateu uma schadenfreude com a eliminação da Alemanha (ainda mais que a palavra é deles). Segurei um pouco a onda porque nosso jogo era logo depois, karma is a bitch e tal. Os primeiros memes que recebi eram inclusive ingênuos, com Minions. Mas depois da classificação brasileira, a zoeira foi impiedosa:

  • E eu havia decidido não falar sobre o menino Neyma porque, né? Não precisa, já tem gente demais falando. Mas eu não vou parar de rir nunca com esse vídeo do roda o pião:

  • Nem só de zoeira vive a Copa, mas também de lances belos e plásticos como esta foto de Eugênio Sávio

Lance do gol de Paulinho na partida contra a Sérvia

  • Sobre pão e circo (ainda isso?), devo dizer que estou buscando a alienação deliberadamente, aboletada na arquibancada – mas a lona é transparente. Acompanho a copa sem esquecer das atrocidades do governo russo, um dos piores no tocante aos direitos humanos, em especial contra a comunidade LGBT. Sei que já se passaram mais de três meses sem saber QUEM MATOU E QUEM MANDOU MATAR Marielle Franco. E não pude deixar de chorar quando a polícia assassinou o menino Vinícius na Maré, a caminho da escola. Sem o circo eu não sou capaz de dar contar conta da realidade.

Helê

*Porque Drops só a Fal distribui (e são os melhores).

Fugitivo

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(via Pinterest)

Da série Corações

Helê

R.E.S.P.E.C.T

Já escrevi mentalmente várias anotações sobre a copa da Rússia mas esse vídeo de ontem não pode esperar: tem que ser exibido muitas e muitas vezes. Nele, a jornalista Júlia Guimarães se defende do assédio de um passante e revida, falando por si e por todas as mulheres:

 

 

A postura dela é absolutamente impecável; embora irritada e abalada com a postura do macho, Júlia retruca sem ofender (o que nem acho imprescindível, apenas impressionante que tenha conseguido). E ainda educa o cidadão – caso ele tenha a capacidade de aproveitar o ensinamento.

Na lenta  evolução das relações entre gêneros e no combate permanente ao machismo, depois de denunciar e expor talvez tenha chegado a hora de reagir e revidar. Ainda que isso me cause conflitos, dada minha índole pacifista e o caráter excessivamente belicoso que vivemos. Mas a imagem de uma mulher que além de se defender, também ataca –  armada apenas de inteligência e presença de espírito – tem um poder inegável.

É este tipo de imagem que precisa viralizar para denunciar o assédio – e não o assédio em si, captado em vídeos idiotas de brasileiros que insistem em nos envergonhar.

Aretha Franklin já mandou essa letra – inclusive soletrou – mas ainda é preciso ouvir a Júlia dizer o que queremos: respeito.

Helê

#vaiterAlzirão

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Nem tudo está perdido: dois dias antes do início da Copa foi confirmada a realização de eventos na rua Alzira Brandão. Eu, que além de tijucana (por adoção) prezo pela tradição (cof, cof), gostei da notícia porque o Rio tem essa vocação para festa e para a rua. Agora sim, pode começar a Copa do Mundo.

Helê

Puzzle

(Do Pinterest)

Da série Corações

Helê

Pastilhas* da copa

Estava achando todo mundo desanimado, mas me lembrando que achei isso em outras copas do mundo e na hora H apareceram as decorações, camisas, bandeiras. Até que minha filha me disse que não vai ter Alzirão. Se você não está ligando o nome à pessoa, essa é a mais antiga festa de rua organizada para acompanhar as copas no Rio de Janeiro, uma tradição de 78 anos. Então eu tive certeza que os preparativos e a animação para esta copa atingiram os níveis mais baixos, seja pela crise econômica ou pelas sequelas do 7×1.

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Além disso, embora pareça ter acontecido há 50 anos, a última copa foi aqui, né, aquele clima de festa, invasão de argentinos na Lapa, alemães assistindo jogo com a gente no Alzirão, Podolski parça postando no Instagram em português. Depois disso, e com a humilhante eliminação do Brasil, fica difícil se empolgar. Mesmo 50 anos depois.

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Vendo o último amistoso da seleção eu me perguntei se o bom futebol apresentado pode reverter esse quadro. Não creio: o vexame é ainda muito recente, há remanescentes atuando e estamos todos muito desconfiados – pra não dizer putos. Não por acaso, o mascote é o canarinho pistola.

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Fora a associação da camisa verdeamarela com a massa acéfala que nos trouxe a esse 2018 desesperançado e desesperador.

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Rodrigo Lasmar é médico da seleção. Que é, como deduziram os leitores da minha idade, filho de Neylor Lasmar, que foi médico da seleção em copas passadas. A CBF é a uma capitania hereditária, não é mesmo? (E a medicina também).

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Brasil x Áustria foi o primeiro jogo do Brasil que assisti desde aquela vergonha patética. Preciso aprender o nome dos jogadores, a copa tá aí nos calcanhares, e eu não posso perder os memes!

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Assisti a entrevista do Tite e percebi que estava gostando. Muito. Aí me dei conta do motivo: falta a arrogância, a empáfia e a deselegância de Dungas, Zagalos, Scolaris e quetais. Taí uma evolução gigantesca e bem-vinda.

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As viúvas da Itália (70% das mulheres que conheço) ficaram chorando a não-classificação dos bambinos. Eu quase perdi o sono com a lesão Salah – que, graças à Alá, está se recuperando.

#objetificaçãoagentevêporaqui.

 

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Enquanto a copa não chega, só há uma alternativa: segue o líder.

Helê

*Pastilhas porque, como até Pelé sabe, Drops só da Fal.

Eu ♥ leitora

A foto está um pouco desfocada e não faz jus à beleza dessa moça – que é um mulherão da p*rra antes da expressão virar elogio e modinha. Companheira mothern, é das leitoras mais antigas e frequentes do boteco aqui. E ainda por cima sempre deixa pegadas –  para a noooosa alegria! Aí essa semana eu me deparei com essa foto, do nosso único encontro (presencial),  tirada no dia de uma efeméride rara e especialíssima. E me perguntei ‘wtf ainda não postei isso?!’ . Então taí a Simone, para agradecer a leitura fiel e o carinho dela, e para reeditar essa série que eu adoro e espero continuar, com o auxílio luxuoso de vocês . DSC_0735

Helê

Pop Frida

Por que Frida Kahlo virou um ícone contemporâneo, ninguém sabe explicar. Por que ela, por que agora? Como, afinal, nascem os ícones? (Hoje em dia, com memes e gifs, mas não só).

Tem a ver com a internet, parece claro, mas isso é apenas um fator para entender o fenômeno. De algum modo e a partir de certo momento ela virou um símbolo das mulheres, do feminismo, da esquerda, das mulheres feministas de esquerda, do latinamericanismo e outras tantas cositas mais. Razões há várias em sua trajetória, mas a questão é que parece que ninguém tinha notado isso até uns 15 anos atrás.

Diz uma matéria da Folha de S. Paulo que uma pintura dela encalhou na Sotheby’s em 1985 e foi leiloada por 3 milhões de dólares 10 anos depois. Mas uma aumento na cotação no seletivo mercado da arte não parece ter relação com o mundo pop – nem sempre, não necessariamente. E quando me perguntaram outro dia o porquê da recém conquistada popularidade da Madrinha, eu não soube responder.

Os indícios dessa popularização estão aí e vão desde a quantidade de Fridas no carnaval do Rio aos incontáveis produtos que ela estampa – entre eles,  uma controversa versão da Barbie. Frida tá hype, tá pop, como diria o Olodum. Uma versão feminina do Che – dizem aqueles que não resistem a usar um homem para definir uma mulher (como na matéria da Folha). “A inventora da selfie”, disse a acadêmica que fez uma tese que investiga a imagem pós-moderna da pintora – cujo hermético resumo não respondeu minhas indagações (mas pode ser ignorância minha).

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O fato é que a gente entrou de gaiata nessa onda quando ainda era marola, e estabelecemos com ela uma relação de carinho e admiração. Por isso ela foi tema de vários posts, e levou em peregrinação até o MoMA, em ocasiões diferentes, essas duas mulheres que pegaram de empréstimo seu nome e criaram para si novas identidades (e talvez alguns super poderes).

Na verdade, o que faz da Lisa, Mona, e do Che esse símbolo tão replicado que se presta a qualquer coisa, até aos neozistas alemães? Não sei se chegaremos a descobrir um dia. Talvez o grande diferencial para nós é que o ícone Frida Kahlo a gente viu nascer e, muito, muito, muito modestamente, contribuímos para formar.

Frida Helê

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