Nos últimos oito anos – mais ou menos, porque teve gente que chegou antes, gente que chegou depois – nós acompanhamos juntas a saga dos sete reinos de Westeros em busca de uma certa harmonia (a paz nunca existe, mas vale cada minuto da busca). Então, nosotras não poderíamos deixar de registar aqui algumas impressões sobre o final desse épico, nem que seja para lembrarmos, um dia, de como estávamos nos sentindo dois dias depois do fim da série que conseguiu, quando ninguém mais apostava nisso (exceto em eventos esportivos e coberturas jornalísticas) reunir o mundo inteiro na frente de uma tela, ao mesmo tempo.

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A Monix não liga para spoilers, a Helê fica brava quando leva um. Então, no espírito da conciliação, fizemos este post com um grande nariz-de-cera, assim quem quiser lê, quem não quiser vai fazer outra coisa e volta depois de assistir tudo.
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Antes de mais nada, a gente precisa dizer que de modo geral gostamos do final. Então se você está buscando um lugar para resmungar coletivamente, sorry, não é aqui ;)
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Acho que já enrolamos bem, né? Então vamos ao que interessa.
Impressões mui loquazes da Monix:
- Começando pelo episódio anterior, eu tinha ficado meio chatiada com o final do Jaime Lannister, mas olhando em retrospecto, fez sentido. Eu achava que a história do Jaime era uma jornada em busca da honra, e que a tinham “estragado” mandando-o de volta para a Cersei. Se pelo menos ele tivesse ido matá-la, mas nem isso. Mas depois fiquei pensando que esse final foi bem roots. As Crônicas de Gelo e Fogo do George R. R. Martin não são sobre arcos de personagens, são sobre o fato de a vida não fazer sentido. As vidas acabam como e quando têm que acabar. E aí simplesmente o Jaime tentou superar a Cersei, mas não deu. Na hora que ele percebe que ela vai morrer – porque é claro que aquele exército vai ganhar -, e que nunca vai se render… ele precisa voltar. Achei bonito o jeito com a Brienne contou a história dele no Livro Branco da Guarda Real. (Só não gostei porque ficou registrado que o Tyrion mandou matar o Joffrey. Queria que ela passasse um Liquid Paper em cima. Mas pensando bem, a Brienne não sabe que a mandante do crime foi a Olenna Tyrell. Todos os que sabem estão mortos.)
- Falando mais em geral, tem um monte de furos nos roteiros dessa temporada. Várias coisas estão ali só para a história poder seguir, mas não fazem sentido. Por exemplo, ontem vi em uma live da Omelete um comentário sobre o Sam: ele estava em Winterfell, a Gilly grávida, tinha abandonado a Patrulha da Noite, tinha abandonado a Cidadela. Daí de repente o cara me aparece na reunião dos “grandes lordes” de Westeros. Fazendo o quê lá? Representando a Casa Tarly? Tá, que seja. Aí meia dúzia de cenas depois ele vira arquimeistre! Mas e a Gilly? E os bebê tudo? Meistre pode ter filho? Fora que ele nem terminou o curso. Ficou parecendo o ministério de um certo presidente que nomeia gente que não tem experiência nenhuma só porque é amigo do amigo.
- Sobre o novo rei, tenho que admitir que foi surpreendente (embora eu já tivesse lido teorias a respeito, achava um chute totalmente fora de cogitação). Minha primeira sensação não foi boa. Ele passou a temporada inteira dizendo que não era mais o Bran Stark. “I’m not him”, eu acho, era a frase. Aí de repente ele é indicado para o trono como Bran Stark e responde: por que você acha que eu vim até aqui? Estranho. Mas tá bem, entendi que a ideia era ter um rei neutro e deixar o conselho governar. No fim das contas, me incomodou menos do que eu pensei quando li as teorias de fãs. Talvez porque no fim das contas Bran, the Broken é um nome ótimo para o rei que vai reconstruir o reino. Gostei também do Podrick ser o empurrador do trono. Mas na prática ele não vai governar. Aquele conselho é que vai cuidar das paradas e ele vai ficar wargando por aí. Foi bacana também o rei passar a ser escolhido por um conselho, e não mais por direito hereditário. Já inventaram as eleições indiretas em Westeros. ;)
- Sobre o final trágico de Jon e Danaerys, estava na cara que ele ia ter que matá-la. Sendo assim, gostei que ela não ficou louca, apenas intensificou características de personalidade que sempre teve. Aquela estética nazi do início do episódio eu amei. Aliás, toda a parte visual foi incrível.
Tirando o fato de não ter sentido nenhum ela estar sozinha na sala do trono, achei bacana o Jon dando um oi pro Drogon e entrando pra levar um papo com a mamãe. Mas no geral, o Jon foi totalmente filho do Ned Stark (adotivo, eu sei) nesse final. Relutando em enxergar o que tem que ser feito, escravo da honra e zero pragmatismo político. Mas quando finalmente ele vê que a Danaerys é aquilo mesmo, que Targaryens são fogo e sangue, ele entende que quem dá a sentença tem que segurar a espada.
Tenho que dizer que amei o Drogon queimando o trono. Tá, é um dragão filósofo, com raciocínio simbólico, mas é daí? Foi uma simbologia poderosa. E a única cena que vibrei.
- (Eu gostei que nessa temporada final eles voltaram a dar importância para as tramas políticas. Aquela guerrinha contra os zumbis estava enchendo o saco.)
- Quanto ao final do Jon, eu interpretei de uma forma positiva. Acho que talvez seja o único que teve um destino realmente grandioso (e feliz, na medida do possível).
Eu não acho que ele foi para o exílio. Acho que ele foi ser o rei-pra-lá-da-muralha. O novo Mance Rayder. O Jon nunca ia ser feliz no trono, nem no Sul, nem em Porto Real. Ele é um filho do Norte. E acho que o momento que ele viveu algo mais próximo da felicidade foi quando estava com os selvagens.
Achei genial terminar o episódio com ele atravessando a muralha e ignorando a ordem de ir para a Patrulha. Que mané patrulha? Não tem mais inimigos do lado de lá. Vai ficar fazendo nada o resto da vida? Melhor não. Foi embora com o povo livre e deu uma banana para os sete reinos.
- Adorei o final das irmãs Stark. Sansa fez por merecer. Vai entrar para a história com a primeira rainha do Norte, aquela que conquistou a independência de novo para os nortenhos. Não se ajoelhou e se livrou dos dragões com a arma mais feminina possível (#estereotipodegenero): a fofoca. E a Arya, minha queridinha, meu xodó desde o primeiro livro, virou Américo Vespúcio e vai provar que o planeta é redondo. Uma alma de viking.
- Senti falta de explicações melhores sobre o que aconteceu com os castelos. Por exemplo: o Tyrion agora é o Lorde de Rochedo Casterly? O Rob Arryn é o Lorde do Ninho da Águia, senhor dos lordes do Vale? Por que o sor Royce estava ao lado dele? Como conselheiro ou como vassalo? E o Sam é meistre ou é Lorde Tarly, afinal? O Edmure voltou para Corerrio? Ainda existe a Casa Frey? Talvez essas questões na série não tenham tanta importância, acho que é mais uma coisa dos livros.
Impressões breves da Helê:
- O que mais me chamou atenção foi a redenção da História — e da literatura, por extensão. As Humanas foram redimidas! No discurso do Tyrion (“nada mais poderoso que a História, nada nos liga mais que a História”), na escolha do Bran, na cena da Brienne alterando a Wikepedia deles, opa, o registro da história do Jaime. Senti a alma lavada nesse aspecto.
- Gostei que o episódio deslegitimou a teoria da loucura da Dany.
- Também vi furos, mas overall, achei tudo muito coerente. A dor é mesmo pelo fim. A internet ama odiar. E procurar copo de Starbucks.
As Duas Fridas
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