Sobre banho e outras rotinas

Pessoal que chegou agora no home office, compulsório ou voluntário, sem planejar nem necessariamente desejar, uma dica muito importante: não esqueçam de tomar banho!

É sério. Cinco anos atrás, vocês sabem, eu pedi demissão de um emprego estável para trabalhar em casa por conta própria, movida principalmente pelo desejo de administrar meu próprio tempo. Naquele momento de tantas dúvidas (como vai ser minha rotina? vou conseguir clientes? vou ter disciplina para trabalhar todo dia?) um amigo que já estava há um tempo nesse mesmo caminho me deu esse conselho que agora repasso: não esqueça de tomar banho!

Parece piada, mas é verdade, pelo menos para mim. Muitas vezes passo o dia todo absorta, me dividindo entre o trabalho remunerado (demandas de clientes) e o trabalho doméstico (necessidades da família), e só na hora de dormir me dou conta: opa, ainda não tomei banho hoje!

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Bem, nos últimos dias muitas pessoas com quem convivo (digitalmente, pessoal, estou no isolamento desde sexta passada) têm comentado que passaram a trabalhar em casa. Muitas nunca tiveram essa experiência, pelo menos não por longos períodos de tempo. Então me dei conta de que uma das coisas que posso fazer para contribuir nesse momento difícil é compartilhar com vocês minhas experiências e minha rotina. Cada um irá descobrir suas soluções, mas espero que esse post ajude de alguma forma.

Primeiro, uma palavrinha sobre infraestrutura. Quem fala sobre home office (e tem gente que posta conteúdo sobre isso já há muitos anos) costuma recomendar que se crie um espaço exclusivo para o trabalho, um canto separado na sala, um cômodo convertido em escritório, etc. No meu caso isso não é possível. Meu “escritório” fica no meu quarto. Isso não significa que eu não tenha um espaço onde possa me concentrar. Dispensei a mesinha de cabeceira e mandei fazer uma bancada de trabalho bonita, colorida, e principalmente, ampla. Mas falarei mais sobre infra a seguir.

Um pedacinho do meu “escritório”

Para o home office funcionar, o mais importante é conseguir criar e manter uma rotina que faça nosso corpo e nossa mente entenderem que o mesmo lugar pode servir para o descanso/lazer e para o trabalho. Todos os dias de manhã eu arrumo minha cama, inclusive colocando almofadas no encosto para dar uma cara de “sofá”. Troco de roupa, mesmo que seja um vestidinho de malha confortável (nos dias em que não há reuniões por vídeo). Transformo o quarto em escritório e começo o expediente.

Não sigo horários rígidos, mas mantenho certos hábitos mais ou menos consistentes (dependendo da agenda do dia). De manhã leio e-mails e resolvo assuntos tipo pagar contas, etc. Começo a dar andamento às tarefas do dia. Faço um pausa para o almoço, que inclui preparar a comida, servir, comer, lavar a louça. Ultimamente estava começando um novo hábito: dar uma caminhada de 20 minutos aqui na minha rua mesmo, para fazer a digestão, melhorar um pouco a circulação (fico muito tempo sentada) e pegar um solzinho. Suspendi temporariamente para evitar exposição, mas retomarei quando der. Volto para a bancada cheia de disposição e me concentro muito à tarde.

Aliás, essa é uma coisa que me espantou muito no início. As pessoas costumam dizer que trabalhar em casa é muito dispersivo, que há muitas distrações. De fato, nos primeiros meses isso acontecia sim, não vou negar. Mas depois que me acostumei com a rotina, a verdade é que acho o trabalho profundamente focado. Raramente sou interrompida. É muito comum eu trabalhar duas horas seguidas sem parar para nada, sem sentir o tempo passar.

Aí entra uma recomendação tão importante quanto lembrar de tomar banho: bebam água, amiguinhos! Eu não gosto de café (dsclp, gente!), então deixo uma garrafinha de água ao meu lado. É muito útil, especialmente durante reuniões por vídeo, quando falo mais. Mas o mais importante é fazer pausas ao longo do dia, levantar, esticar as pernas, ir ao banheiro. E voltar ao batente, que a vida não tá ganha, né?

Aos poucos fui entendendo que além do óbvio lado bom – ser dona do meu próprio tempo – a experiência de home office tem lá suas questões também. Hoje eu sou responsável direta por toda a minha infraestrutura de trabalho. Precisei fazer investimentos ao longo do tempo: internet de alta velocidade e estável; um bom computador desktop, com monitor grande, teclado e mouse, para dar conforto, e um notebook que não me deixe na mão; pacote Office original com direito a 1 Tera de armazenamento na nuvem, para garantir que meus arquivos não sejam perdidos por acidente; domínio e servidor de site e e-mail profissionais (eu separo o e-mail pessoal do profissional, senão não consigo administrar). E por fim, mas definitivamente não menos importante, uma cadeira bem confortável para dar sustentação à minha já calejada coluna vertebral.

Quando você decide trabalhar em casa, você vira seu próprio patrão, com todos os ônus de ser patrão. Inclusive o pagamento do “salário”. Sei qual é o valor estipulado que devo pagar a mim mesma. Em meses (raros) em que faço mais dinheiro do que preciso, deixo na conta pessoa jurídica ou invisto. Se ganhar menos, preciso completar com a reserva financeira que construí justamente para poder dar esse passo (e que graças à crise que nunca termina está bem minguada, infelizmente). Mas em suma, sei quanto eu tenho me pagar a mim mesma por mês, e isso é muito importante para não perder o controle dos gastos.

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As próximas semanas (ou meses) vão ser difíceis. Nós nunca vivemos uma pandemia em um mundo totalmente globalizado. Por outro lado, nunca vivemos uma pandemia com tantos recursos para nos ajudar a enfrentá-la minimizando os impactos na economia.

Faz tempo que defendo a possibilidade de trabalho remoto, ainda que parcial, como uma forma de tornar as cidades lugares mais acolhedores. Menos pessoas se deslocando geram menos trânsito, menos poluição, menos estresse, e teoricamente mais tempo livre (embora na prática nem sempre isso aconteça). Desejo que esse momento tormentoso pelo menos sirva para o mundo repensar alguns hábitos que talvez já não fizessem mesmo tanto sentido.

E acima de tudo, torço para que passemos por essa com o mínimo de danos, que todos fiquem bem e seguros. Cuidemo-nos uns aos outros, está bem?

Update: uma coisa importante sobre rotina que quase esqueço de incluir aqui – se você tiver um horário certo para começar o expediente, tenha também um horário certo para encerrar os trabalhos. Se for como eu, sem rigidez de horários, estabeleça pelo menos um número total de horas a trabalhar por dia. Tão bom quanto começar o trabalho sem precisar sair de casa é encerrar o trabalho… e já estar em casa!

-Monix-

3 Respostas

  1. […] define é em inglês: overwhelmed. Fazendo coisas demais e mal dando conta do mínimo, do básico. Eu já trabalhava em casa, então meu dia não ganhou duas horas porque parei de me deslocar até o trabalho. E passei a […]

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  2. […] continuo trabalhando normalmente, e acumulando tarefas domésticas, então não tenho muitas dicas sobre o que fazer na quarentena. […]

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  3. Que texto excelente!

    Sou professora e o home office atual não é voluntário e será desfeito, ao menos como está agora, tão logo possamos voltar à vida normal.
    Mas há dica ótimas que vou partilhar com meus colegas.
    Sou uma pessoa organizada e tenho disciplina com as atividades de professora que tenho de resolver em casa, conjugando com as tarefas domésticas. Mas o momento atual é novo. Inédito e preocupante.

    Muito obrigada, Mônica!
    Beijo grande

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