As olimpíadas começaram na semana em que Fifi terminou de ler “1984”, do Orwell, para a prova da Uerj. Falou comigo convicta: “Olhaí a pós-verdade, Tokyo 2020 acontecendo em 2021…” Sim, já tivemos julices mais leves, mas quem complicou foi a vida.
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Mas, provando que o fruto não cai longe da árvore e ela é, de fato, filha do Pacheco, torceu pro Kevin Hoefler desde que ouviu falar dele – umas duas horas antes de ele ganhar a medalha de prata.
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Eu contei no tuíter que foi um alívio encontrar um jogo de futebol da seleção feminina às 6h da manhã num dia em que acordei às 5h30 e não dormi mais. Tudo o que eu queria era não ter que ver no noticiário todos os crimes não resolvidos no Rio de Janeiro fora os novos – e nem vamos falar do Planalto Central do país. Sim, quero ópio do povo e alienação, fadas e surfistas vitoriosos. Necessito de emoções baratas e mentiras sinceras, podisê?
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E a CPI, que volta na semana que vem, que não venha atrapalhar minha Olimpíada! Só mais uma semaninha de intervalo; depois vocês podem ficar passando a limpo esse governo por quanto tempo for necessário.
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Não me conformo com a falta de público. Não que eu ache que deveria ser liberado, é só que eu acho triste, tristíssimo esses enormes espaços vazios, os atletas acenando pra meia dúzia de repórteres e técnicos. Como diria Djavan, fica faltando um pedaço, uma ausência estrondosa.
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Fiquei assistindo o judô com um incômodo que só depois entendi de onde vinha: meu irmão, quando aprendeu, treinava comigo – embora a única coisa que eu soubesse era bater três vezes pra ele me largar. Deu gatilho.
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Não torcer é tão bom quanto impossível, então posso começar desinteressada e terminar gritando impropérios (aliás sou boa nisso, se fosse esporte…). Escolho de um modo geral os underdogs: latinos, africanos, os sem tradição naquela modalidade. Agora, por exemplo, EUA x Quênia no vôlei de praia – nem precisa perguntar, né? Aliás, as chances de torcer pra americano são baixas. Mas, por exemplo, se for um americano preto e um alemão, tô com o preto. Geopolílica helenista.
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La Outra falou em Nostalgia da Rio 2016 e eu acho que o sentimento foi generalizado, pela quantidade de vídeos que vi pela internet, até no feed da minha filha. Muita saudade daquele país que uns dizem que o PT distruiu, mas a gente sabe que ele projetou pro mundo inteiro.
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A gente tava feliz e sabia. Sabia também que tinha problemas enormes, tanto aqui no Rio quanto em Brasília, a gente fazia autocrítica durante, e não depois pra se justificar e pedir voto. E a gente sabia que ia acabar. Só não imaginava, e nem precisava ou merecia que fosse dessa forma vergonhosa e funesta.
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Mas eu tenho conflitos com a ideia de nação desde sempre, me parece uma abstração evocada em geral com os piores propósitos. Pátria então é pior a ainda (a língua é minha pátria e eu não tenho pátria, tenho mátria e quero frátria). Eu gosto da brasilidade (apud Simas, Luiz Antonio) e gosto de pessoas. A cada dia grito menos Brasil e mais Raissa, Ítalo, Fernando.
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Agora, essa parada da Rússia até aqui ganhou a Medalha Caô desta Olimpíada. Por causa de doping, o país é punido. Mas os atletas participam, com a bandeira do comitê. E quem controlava o doping no país? O Putin, pessoalmente? Enfim, a hipocrisia.
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Simone Biles, que coragem esse mortal duplo carpado na expectativa do mundo inteiro em favor da sua saúde mental. Uma aterrisagem firme e belíssima fincada no seu bem-estar e na sua alegria. Você é gigante.

Helê
*Porque Drops só da Fal
Atualizado em 29/07/2021 07:44
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