Alertada pela Manu, eu passei a acompanhar a Tamara Klink na travessia que ela acaba de concluir, viajando sozinha num veleiro, vindo da França até o Recife. Peguei a viagem mais ou menos no meio do caminho; quando me juntei ao cardume de leitores e leitoras ela já havia deixado Nantes e fazia uma parada na Espanha, se não me engano. Só poucos dias antes da chegada descobri como acompanhar a rota do Sardinha, seu barco, via GPS, e então quase todo dia eu ia lá espiar em que ponto do Atlântico ela estava. E essa é a primeira das muitas e inevitáveis comparações com as viagens de seu pai, Amyr: no caso dele, era preciso esperar que elas terminassem e virassem livro para que a gente pudesse embarcar.
Tamara tem desenvoltura com os instumentos de navegação e também com as palavras: seus relatos quase sempre poéticos, mesmo que em prosa, não deixavam de captar a dimensão filosófica e transcendente de sua empreitada, uma jovem mulher de apenas 24 anos cruzando um oceano inteiro por conta própria. Observar a trajetória dessa moça tem um sabor todo especial para quem, como eu, navegou durantes anos entre as páginas dos livros de seu pai. Tenho a sensação parecida com a que tenho com as conquistas dos filhos de amigos: a (ilusão de) proximidade, a alegria por uma vitória que é dela, mas que perpassa também seu pai, de muitas e insondáveis maneiras.
Tenho um profundo respeito e admiração pelo Amyr Klink (foi a última pessoa a quem pedi um autógrafo; antes dele, só para o Veríssimo, pra você ter uma ideia). Seus livros me lançaram em paisagens nunca antes lidas e foram passaporte para muitas outras histórias incríveis sobre a descoberta dos polos ou a ascenção ao Everest. Assitir agora, na palma da minha mão, sua filha chegando em tempo real depois de uma temerosa e bem-sucedida jornada me comove um bocadinho, me fala sobre o tempo, tempo, mano velho correndo macio e sendo legal, me deixando testemunhar uma outra geração Klink de desbravadores – daqui do alto das minhas próprias conquistas, também vendo herdeira dando os primeiros passos para zarpar logo vida a fora. E enquanto escrevo lembro, pra deixar redondo esse moto-contínuo que é o tempo e seus assombros, que presenteei a Manu, anos atrás, exatamente com o “Cem dias entre céu e mar”, que ela de certa forma me devolve ao me contar da Tamara e sua travessia, que atravessa minha vida trazendo frescor, esperança e gratidão.
Helê
PS: E por alguma dessas coincidências da vida, o post sobre o autógrafo do Amyr foi publicado há exatos quatro anos.
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[…] (na falta de outro H…). Investimentos. JujUFF. Klink, Tamara. Lula, […]
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Ai ai.. pra variar, vc trazendo poesia, beleza e um sorriso nos lábios ao final da leitura. Brigadim! Aline.
Em qui., 4 de nov. de 2021 às 19:39, Duas Fridas escreveu:
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Como leitoras assíduas do pai podemos dizer, então. que já acompanhamos a Tamara há muito tempo, desde que era uma das filhas gêmeas tão pequenas e tão mencionadas nos livros do Amyr.
Ela comprou o próprio barco na Noruega, foi lá buscá-lo e trouxe na unha.
Este Atlântico foi só o começo.
Sim, Fer, sempre me volta à mente a imagem dele voltando da Antártica e a Marina entrando no mar com uma em cada braço. Mal posso esperar pelo que virá pela frente!
Bjs,
Helê
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Textão, querida.
Eu que tenho essa terrível e, muitas vezes injustificada, confesso, implicância com os feitos dos muito bem nascidos fiquei totalmente simpática a família e com vontade de saber um pouco mais.
Ah, querida, outras tantas vezes é tão justificada que dá pra entender :-D . Mas Tamara merece atenção, eu acho. Tem inegáveis privilégios, mas não limitou suas escolhas a eles.
Que bom encontrar você por aqui !
Beijos,
Helê
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Quanta emoção nesse post Hele! Amir Klink é outra das nossas paixões compartilhadas, eu perdi essa travessia da Tanara mas hoje fui surpreendida com o vídeo dela pouco antes da chegada, e não deu pra segurar as lágrimas… como vc disse, é um pouco como se fosse a filha de um velho amigo!
Ah, Dedear, de paixões compartilhadas é revestida nossa amizade! ;-)
Beijoca,
H.
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