Valeu, Glória

Ser uma mulher negra e jornalista hoje é ainda mais difícil que o de costume. Com a morte de Glória Maria perdemos uma referência, um exemplo, uma inspiração, um desafio – a gente queria ser como ela, mais que ela, diferente, mas ela era a medida, o sarrafo e o farol. Glória personifica para nós, pretas, aquele conceito que se tornou popular na campanha do Obama: foi preciso que ela andasse para que nós corrêssemos. A partir de Glória vieram Zuleide, Aline, Flavia, Maju, Ana Paula, Ana Beatriz e muitas outras. Depois de Glória ter sido por muitos anos a jornalista negra da televisão, finalmente elas podem ser contadas no plural (ainda que não o suficiente).

Eu nem achei que sentiria tanto essa perda, já não acompanhava a carreira dela nos últimos anos. Mas a imagem dela na tela da TV foi gravada há muito tempo na minha mente, e ao saber que não a veria mais, o rolo começou a rodar automaticamente, lembrando de muitas cenas, como ela com o James Brown ou denunciando o racismo que sofrera em um hotel caro da cidade. Mas o que mais me comoveu foi lembrar do que talvez tenha sido uma das primeiras reportagens de aventura da televisão brasileira, um embrião do que seriam as viagens dela no Globo Repórter: ela voando de asa delta no Rio de Janeiro. Cheia de medo e de coragem, participou de um voo duplo e quando já estava no ar disse com empolgação infantil: “Eu tô voando, gente! Eu tô voando igual um passarinho!”. Voa pro Orun, Glória; que Iemanjá te receba. Obrigada por tudo!

Helê

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