Helê – Os anos de blogosfera não contam da mesma forma que dos outros veículos – mais ou menos como os anos de vida de cachorros e humanos. Nessa conta, seis anos são uma estrada considerável. Você esperava tamanha longevidade?
Monix – Sinceramente? Não sei. Acho que o que mais surpreende nem é a duração do blog, mas sim a importância que ele conquistou – tanto na minha vida quanto, desculpe o atrevimento, na própria “blogosfera”. Entre aspas, porque esse espaço virtual dos blogues, que hoje em dia é ocupado por um monte de outras coisas também, tipo tuíteres, fotologs e muito mais, na verdade é composto de vários microcosmos, com grupos totalmente diferentes e nem sempre (ou quase nunca) interligados. Enfim, em resumo: no nosso mundinho, onde a gente circula, acho que somos, sim, importantes do nosso jeito. E acho que conseguimos, também do nosso jeito, tocar algumas pessoas (minutos antes de responder estas perguntas recebemos um e-mail comprovando isso mais uma vez). Isso é o que me surpreende e me dá orgulho. A longevidade é consequência.
Helê – O que mudou na blogosfera de 2004 pra cá? E na sua escrita, você percebe diferenças?
Monix – Nossa, mudou muita coisa. Quando começamos o Dufas – e olha que nem fomos pioneiríssimas – a impressão que dava era que estávamos fazendo uma coisa meio esquisita, meio excêntrica. E, principalmente, que estávamos falando com meia dúzia de pessoas, basicamente nossas amigas digitais lá dos tempos do Mothern. Não sei identificar o momento da mudança, nem bem como ela se deu, mas o fato é que de repente passei a enxergar o blogue como uma coisa com alcance maior, de certa forma pertencendo a um grupo, um microcosmos, como eu já disse antes. Minha percepção é que esse processo não foi só nosso. Acho que no início havia blogues que falavam e pessoas que liam e comentavam. Aos poucos, a blogagem se tornou uma atividade mais organizada e certamente isso teve consequências também na nossa escrita. Nos primeiros meses eu escrevia de um jeito muito mais tímido, e acho que dava mais voltas para chegar ao ponto. Hoje percebo que estou mais segura. Demorou um tempo para eu me dar conta de que calabocajámorreuquemmandanomeubloguesoueu. Essa tomada de consciência também é parte de um movimento coletivo, fruto de debates em vários outros blogues, a partir de problemas que as pessoas tiveram com leitores mais agressivos e trolls. Coisa que, aliás (nem vamos falar muito para não estragar) nós temos o privilégio de ignorar. Nossos leitores são sempre muito generosos conosco, tirando uma ou outra exceção que não chega a incomodar.
Agora, em relação à minha escrita, uma coisa que percebo nitidamente é que depois da mudança para o wordpress passei a escrever menos e mais, ou seja, com menor frequência e maior profundidade. Acho que o próprio formato pede isso, por um lado; por outro, hoje em dia, se tenho um pensamento breve que quero compartilhar, posto no Twitter ou no Facebook, que são mais adequados. Nesse ponto, McLuhan tinha razão: o meio é mesmo a mensagem.
Helê – Você volta aos posts antigos, se lê? Se sim, o que acha: gosta, se orgulha, se envergonha, surpreende-se?
Monix – Leio. Às vezes vou escrever sobre algum tema e fico em dúvida se já escrevi aquilo antes ou não (lôka!), então vou pesquisar nos arquivos. Aí fico relendo e curtindo de novo algumas coisas. De maneira geral eu gosto, e é engraçado porque acontece muito de eu ler uma coisa e não me lembrar de quase nada, mas no fim chegar à conclusão de que continuo achando aquilo mesmo. Ou seja, apesar de eu gostar da ideia de que sou uma “metamorfose ambulante”, na verdade eu sou mesmo é uma pessoa extremamente coerente. Vai dizer? ;-)
Helê – Cite 3 posts seus favoritos e justifique (hoho, igual prova!). Cite 3 meus. (De preferência os primeiros que vêm à mente, mas pode roubar, claro, eu não vou saber!).
Monix – Pô, Helê. Assim quebra a corrente. Eu sou uma pessoa anti-ranking, por incrível que pareça. Teve uma época que eu fiz vários posts de memes e listas (criei até uma categoria quando migramos para o wordpress, mas quase nunca usei), mas não me peça para classificar por ordem de importância porque eu me perco. Não sei nem dizer qual é a minha cor favorita! Mas vou tentar. Uma coisa que me dá um trabalho danado para fazer e quase não rende comentário, mas eu adoro, são minhas retrospectivas anuais. Comecei em 2006, repeti em 2007, e em 2008 e 2009 já considerei que virou tradição. Dos nossos eu gosto da Ditadura da Magreza, do Mito da Maternidade Instantânea e do Caso Grafite (agora ele está na moda de novo, né? Aquela que entende tudo de futebol, hahaha).
Pronto saí pela tangente – escolhi 3 posts escritos a 4 mãos (e mais um de lambuja). E juro que foi de cabeça! Os 3 primeiros que pensei, sem roubar!
Helê – De vez em quando pintam coisas interessantes, engraçadas, inusitadas nos comentários. Fale de alguns desses causos marcantes.
Monix – Os comentários são a parte mais legal do blogue, e isso não é uma frase feita. Eu dizia muito isso no início: se não fosse para receber comentários, escrevia num caderninho e guardava na gaveta. É pena que com a disseminação dos feeds o volume de comentários diminuiu muito; as pessoas não têm mais o hábito de vir ao blogue para comentar. (Por outro lado, com a integração das redes sociais, é muito comum receber o feedback (argh) pelos comentários do Facebook e compartilhamentos do Google Reader, por exemplo. Ou seja, nada se cria, tudo se transforma e a Lusitana roda or something like that.)
Mas falando de casos curiosos, o mais marcante foi o de uma leitora que foi “encontrada” por uma pessoa das antigas, e o sujeito ficou meio que tentando contato com ela, sem sucesso. A história em si não tem nada de muito emocionante, mas eu acho bem interessante isso de o blogue ter uma vida própria, autônoma, que não só não depende da gente como, na verdade, não tem nada a ver com a gente, em alguns casos!
Helê – Essa aventura nos apresentou a muita gente, ao vivo e virtualmente. Para alguns cabe a frase “nunca te vi sempre te amei”. Tem algum blogueiro ou blogueira que gostaria de conhecer?
Monix – Pois é, um efeito colateral dessa mudança que veio com os feeds é que eu mesma comento menos, e em muitos blogues que conheci depois do Google Reader sou apenas leitora e não comentarista. Muito por conta da limitação provocada pela leitura de feeds, mas também, confesso, por uma grande preguiça: sem dúvida conheci muita gente bacana a partir dessa aventura no mondo blog, mas hoje em dia não tenho mais o entusiasmo que já tive por pessoas “novas”, digamos assim. Acho que dos blogues que venho lendo, a pessoa que mais me interessa e com quem mais percebo uma identificação é a Lady Rasta, em cujo blogue, naturalmente, nunca comentei.
Obrigada pelo link, Mônix, e parabéns pelos 6 anos de blog. Cada vez duvido mais que meu bloguinho sobreviverá esse tempo todo… Mas me diga uma coisa: sempre tivemos vários posts em comum, então por que eu não estou no seu blogroll e vc no meu? (no meu caso é porque eu sempre demoro muito pra atualizar o blogroll, e tb pq ultimamente venho comentando pouco ou nada nos blogs que gosto, por absoluta falta de tempo).
Abração!
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Boa pergunta, Lola! Acho que no meu caso a resposta tb é idêntica à sua! :-) Eu e La Otra estamos planejando uma faxina no blogroll para breve, ou seja… aguarde novidades.
Beijos
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