Esquecer e lembrar

“Surpreendentemente, as memórias não são fixas e permanentes. A memória está sujeita a alterações cada vez que a acessamos e consolidamos. O que lembramos tende a ser distinto, carregado emocionalmente e considerado digno de processamento e reflexão em nossas cabeças depois que o evento aconteceu. Nossas memórias estão centradas em nossas histórias de vida e no que mais nos afetou pessoalmente. Contra esse pano de fundo neural, a pandemia pareceria inesquecível. Foi um evento histórico assustador, como a maioria das pessoas nunca viu antes. (…) Mas tanta coisa aconteceu que foi difícil para nossos cérebros codificar a sobrecarga de informações que tivemos que filtrar. (…) E há outra razão para esquecer: muitas pessoas não querem se apegar às memórias relacionada à Covid”.

Science of forgetting: Why we’re already losing our pandemic memories, Richard Sima. The Wahsington (grifo meu)

Fiquei ligeiramente fascinada com esse artigo, indicado pela Maria Clara Villas na ótima newsletter Galáxia. Menos pelo assunto em si, a nossa percepção sobre os tempos pandêmicos, e mais com o funcionamento da memória, tema que sempre me encantou. Recheada de citações científicas e depoimentos de estudiosos sérios sobre o tema, a matéria só faz confirmar a perspicácia de Wally Salomão quando disse que “a memória é uma ilha de edição”. E sempre que leio sobre o assunto me surpreendo com a papel do esquecimento em nossa vida, o desprezado e indesejado oposto da memória: “Uma suposição básica que podemos fazer é que todo mundo esquece tudo o tempo todo”, disse Norman Brown, professor de psicologia cognitiva que pesquisa memória autobiográfica na Universidade de Alberta. “O padrão é esquecer.” Estaríamos então supervalorizando a capacidade de lembrar? Deveríamos todos os da minha faixa etária de Gaza, relaxar mais ao esquecer o nome daquele autor ou não lembrar como termina aquela música? Acho que sim, e espero me lembrar disso toda vez que a memória falhar, porque se esses doutores estiverem certos, esquecer é do humano, e tem mais a ver com viver, do que, necessariamente, com envelhecer.

Se puderem, leiam o artigo; faz apontamentos muito interessantes sobre esse evento traumático coletivo que vivemos há pouco e cujas memórias começam a embotar – para o nosso próprio bem. Ou não.

Helê


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What’s wrong with being confident?

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(Via Evolution of a Queen)

O título é de uma canção da Demi Lovato – porque o pop também pode ensinar valiosas lições.

Helê

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(Tout  au bord de la Terre)

“É sem surpresa que eu lembro que estar só é irremediável e que a gente não se entende mesmo. É sem surpresa mas não sem tristeza.”

Luciana Nepomuceno, psicografando meus sentimentos.

Helê

No balcão

2014-05-21 16.54.27

 

“Um homem quando está só, precisa tanto dum balcão de um bar como do ar para respirar. É que o balcão engrandece a solidão, uma mesa reprime-a. Um balcão é um tapete de boas-vindas a quem anda sozinho pelas ruas, uma mesa é um dedo acusador. “Estás sozinho e aqui só se sentam pessoas acompanhadas”, diz-nos. É triste, mas é assim.”

Do sempre interessante “Não compreendo as mulheres“.

Foto tirada em um balcão do Eataly.

Lembrei demais desse texto em Nova York, onde os balcões dos bares deixaram minha solidão tão à vontade que algumas vezes ela saiu para dar voltas enquanto eu conhecia gente nova. ;-) . Apenas  um comentário breve para começar a falar da viagem e botar azeitona nessa empada que eu adoro – leiam o texto completo, perambulem pelo blog do moço;  vale a pena.

Helê

O pior sentimento do mundo – posts inesquecíveis

Gosto muito do Letters of note , embora visite pouco.  Trata-se de um  site com uma proposta tão simples que se explica em poucas palavras: “correspondence deserving for a wider audience”. Publica cartas, postais, telegramas  cujo conteúdo, contexto ou personagens despertam interesse. Difícil lembrar quando conhecemos um site pela primeira vez, mas tenho certeza que fui fisgada por essa carta do Thom Yorke, do Radiohead, por quem passei a nutrir enorme simpatia. As palavras delicadas, certeiras e reconfortantes de Yorke definitivamente merecem uma audiência maior.

” Cara  melissa,

Eu espero que você consiga sair de sua cidade e conhecer o mundo. O pior sentimento do mundo é achar que ninguém mais se sente do mesmo jeito que você, mas você ficaria surpresa ao descobrir quantas pessoas são assim. Espero que você esteja bem hoje.

com amor, Thom.”

 Dando crédito a quem de direito: cheguei até esta carta e ao site por um post do Trabalho sujo.
Helê

Inaugurando a série “Posts inesquecíveis” – Rubão, o boêmio

Ninguém

Ninguém precisa conviver com quem não presta. Ninguém merece compartilhar o tempo mais do que o minimamente necessário com os canalhas, os cretinos, os covardes. Ninguém tem que continuamente sofrer e achar que esse padecer intermitente é um fato normal, irrevogável e imutável. Ninguém tem que acatar ameaças, bravatas e ofensas sem ter o legítimo direito de reagir. Ninguém deve ficar calado quando bocas fétidas vertem merda para nausear e conspurcar um dia que não lhes pertence. Ninguém deve permanecer em silêncio diante de pessoas comprometidas com o seu fim.
Porque a vida é curta, curta, curta, amigos. Curta.
Rubão, no sempre lúcido Boêmios no divã.
.
Faz tempo que queria iniciar essa série, e achei por bem começar com essa pérola do Rubão porque logo terei a oportunidade de agradecer ao vivo,  a cores e embebida em álcool essas palavras libertadoras.  Um post que chegou na hora precisa, nem um dia antes, nem uma hora depois.  Com um lembrete mais necessário do que imaginamos, porque são muitas, sutis e poderosas as amarras com as quais nos deixamos atar ao longo do caminho. Uma lição que, como todas as importantes, sabemos de cor, só nos resta aprender.

Helê

Rosa, sempre ele

(Do sempre lindo De(coeur)ação, via Tudoaomesmotempoagora)

Bom finde pra vocês!

Helê

Helê

Um novo paradigma

“Segundo a OMS, o envelhecimento populacional impõe – por razões econômicas de Estado e por motivos psicológicos individuais e sociais – uma prorrogação da fase laboral ou um adiamento da aposentadoria. No entanto, as políticas públicas devem trabalhar a favor de um processo de convencimento e criar condições sociais e legais para a sociedade atingir essa meta sem fazer concessões às visões preconceituosas da figura do idoso. De acordo com a OMS, o novo paradigma a ser adotado desafia o ponto de vista tradicional de que aprender é função de crianças, trabalhar, dos adultos, e aposentar-se, dos idosos. [grifo meu]

“Viver muito: outras ideias sobre envelhecer bem no sec .21 ( e como isso afeta o seu futuro)”, Jorge Félix (Ed. LeYa)

(via Alessandro Martins)

Achei o conceito revolucionário, uma maneira absolutamente desafiadora de olhar para o mundo. Gostei.

Helê

Be patient

“Be patient toward all that is unsolved in your heart and try to love the questions themselves, like locked rooms and like books that are now written in a very foreign tongue. Do not now seek the answers, which cannot be given you because you would not be able to live them. And the point is, to live everything. Live the questions now. Perhaps you will then gradually, without noticing it, live along some distant day into the answer.”
(Rainer Maria Rilke, Letters to a Young Poet,  Chapter Four – July 16th, 1903)

([Tenha] paciência em relação a tudo que não está resolvido em seu coração. Peço-lhe que tente ter amor  pelas próprias perguntas, como quartos fechados e como livros escritos em uma língua estrangeira. Não investigue agora as respostas que não lhe podem ser dadas, porque não poderia vivê-las. E é disto que se trata, de viver tudo. Viva agora as perguntas. Talvez passe, gradativamente, em um belo dia, sem perceber, a viver as respostas. Tradução de Pedro Süssekind)
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Trilha sonora do post:  The logical song, Supertramp, e Patience, do filme “Dreamgirls”, com Eddie Murphy e Anika Rose.
Helê

Pausa para poesia

a palavra é uma roupa que a gente veste

Uns gostam de palavras curtas.
Outros usam roupa em excesso.
Existem os que jogam palavra fora.
Pior são os que usam em desalinho.
Alguns usam palavras raras.
Poucos ostentam caras.
Tem quem nunca troca.
Tem quem usa a dos outros.
A maioria não sabe o que veste.
Alguns sabem e fingem que não.
E tem quem nunca usa a roupa certa pra ocasião.
Tem os que se ajeitam bem com poucas peças.
Outros se enrolam em um vocabulário de muitas.
Tem gente que estraga tudo que usa.
E você, com quais palavras você se despe?
Viviane Mosé
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Helê
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