Retrospectiva de um ano-década

Desde maio de 2004, nunca este blogue tinha ficado um mês inteiro sem ter pelo menos um post publicado. Nunca, até dezembro de 2021. O último mês do segundo ano da pandemia teve esse efeito indelével na história do Dufas: nossos arquivos ficarão para sempre com um mês faltando, um mês que não aconteceu.

Será que essa ausência é um sintoma do quanto estamos (todas nós) esgotadas? Não é à toa. Nas últimas semanas, me peguei pensando que no início de janeiro de 2021 Trump ainda era presidente dos Estados Unidos. Foi só no dia 6 que aconteceu aquele episódio dramático no Capitólio. Um ano atrás, nós não tínhamos vacinas no Brasil. Em 12 meses, vimos Manaus sofrer, vimos o país atingir 3.000 mortes por dia por causa de uma doença para a qual poderíamos estar imunizados, vimos uma CPI eletrizante alçar à cena nacional personagens até então desconhecidos. Vimos Lula voltar ao jogo, com a anulação de suas condenações. E isso são só os destaques da editoria de política. Enfim, foi um ano intenso, que valeu por uma década. Ou pelo menos é essa a sensação que tenho quando tento me lembrar de como estava minha vida 12 meses atrás.

Pelo lado bom, esse ano que parecia infinito também foi, para mim, prolífico (uia!) em filmes, séries, livros e podcasts. Os dias, semanas, meses praticamente confinada, sem muito o que fazer além de trabalhar e cuidar da casa, renderam muitas horas diante das telas. Neste início de ano, ainda um pouco incerta sobre como serão os próximos meses, me preparo para uma semaninha de merecidas férias e aproveito para compartilhar com vocês o melhor do que andei vendo, lendo e ouvindo no ano que passou.

Filmes

Os 7 de Chicago, porque adoro Aaron Sorkin. O elenco maravilhoso tem até o Sacha Baron-Cohen em um papel não-cômico. Nem precisava ter uma boa história pra ser incrível. Mas tem. E é.

O Som do Silêncio, filme lindo e meio sinestésico.

Tigre Branco, que conta a história de um indiano, mas poderia se passar no Brasil ou em qualquer outro país onde a vida é bem mais cruel para os muitos e bem mais suave para os poucos.

Alô, Privilégio? É Chelsea. A humorista Chelsea Handler embarca em uma viagem de autoconhecimento para entender o tamanho de seu (nosso) privilégio branco. O filme tem lá suas contradições, mas até elas me pareceram interessantes.

A Ganha-Pão, uma animação delicada sobre uma menina afegã vivendo sob o jugo do Talibã. É uma produção de 2017 e eu assisti antes da situação no Afeganistão se deteriorar novamente, antecipando a tragédia que voltou a ser realidade.

Death to 2020, porque é melhor rir do que chorar. Já saiu o equivalente que fala das mazelas de 2021.

A Incrível História da Ilha das Rosas — o título já diz que vai contar algo incrível: o filme é baseado na história verídica do engenheiro Giorgio Rosa e da Ilha da República da Rosa, que ele construiu no meio do mar em 1968, entrando uma disputa diplomática inacreditável quando pediu a independência do território.

A Escavação, que junta várias coisas que gosto em um filme só: história, romance e sotaque britânico.

O Fotógrafo de Mauthausen é um filme barra pesada, mas que vale a pena ser visto, sobre um fotógrafo catalão enviado para um campo de concentração e sua luta para guardar provas sobre os crimes cometidos pelos nazistas.

Lida Baarová. Ainda na editoria da Segunda Guerra Mundial, este filme conta a história da amante tcheca de Goebbels. É uma história fascinante.

Para descontrair dos dois anteriores: Erasmo 80 AnosMussum Um Filme do CacildisFriends: The ReunionClichês de HollywoodMarisa Monte Portas e Janelas.

Judas e o Messias Negro, sobre o início do movimento dos Black Panthers e a ação de um infiltrado do FBI que investiga a organização.

Doutor Gama, que conta a história do abolicionista Luiz Gama.

Druk: Mais uma Rodada, filme dinamarquês sobre um experimento alcoólico que, obviamente, sai do controle.

Misbehaviour: Mulheres ao Poder. Um filme que mistura ativismo feminista e o concurso de Miss Mundo de 1970. Tudo isso baseado em uma história real.

15 Minutes of Shame, documentário que traz de volta a lendária Monica Lewinski para refletir sobre a cultura dos linchamentos virtuais e cancelamentos — e o que isso tem a ver com o mundo digital.

4 Horas no Capitólio. Este documentário, que injustamente foi pouco comentado, mostra de forma muito vívida como, em 6 de janeiro, algumas (proporcionalmente poucas) pessoas seguraram a democracia americana no braço. E não de forma metafórica. Imperdível.

Marighella. A história do cara que resolveu combater a ditadura militar a qualquer preço é um bom filme de ação. Como thriller político, faltou profundidade. E, na minha opinião, o protagonista é retratado como um herói inquestionável, o que não acredito que ele tenha sido.

Ilusões Perdidas, vejam só, inspirado em um romance de Balzac, foi o filme que marcou minha volta ao cinema depois de quase dois anos de afastamento pandêmico. Como era parte do Festival Varilux, a exibição foi em uma tenda montada no Parque Lage, em que eu e minha amiga M. assistimos ao filme com direito a vislumbrar a mata e as estrelas por cima da lona transparente. Foi quase mágico.

Ethel e Ernest, outra animação delicada e lindíssima sobre a vida em comum de um casal: os pais do desenhista que é autor da história.

Antonia: Uma Sinfonia, a história de uma mulher que abriu mão de muita coisa para ir em busca do sonho de reger uma orquestra.

Abe conta a história de um menino que vive como síntese de uma guerra: a família paterna é palestina e a materna, israelense. Eles moram no Brooklin e ele sonha em ser cozinheiro. Quando conhece o chef Chico Catuaba (interpretado por Seu Jorge), a descoberta da culinária fusion se torna uma metáfora perfeita para seu desejo de integração.

Não Olhe Para Cima: eu demorei uma semana para assistir esse filme e tive a impressão que todo mundo me recomendou. É uma sátira trágica, ou uma tragédia satírica, que apesar do roteiro nem sempre muito bem amarrado faz a gente rir da nossa própria desgraça. O que não deixa de ser uma boa saída, na falta de possibilidade melhor.

Ataque dos Cães. Um filme em que ninguém é o que parece. Eu teria muito a dizer, mas dona Luciana já fez isso bem melhor que eu seria capaz.

Séries e Novelas

Cidade Invisível mostra um mundo fantástico, povoado por criaturas folclóricas como o Curupira, o Saci, o Boto Cor-de-Rosa como pano de fundo para uma trama policial.

Bridgerton, uma série que deu o que falar por um tempo e depois parece ter sido esquecida. O principal assunto foram as escolhas de atores e atrizes negros/negras para interpretar personagens da nobreza inglesa, mas sinceramente… e daí? Achei a história mais interessante que essa (zzzz) “polêmica”.

A Corrida das Vacinas, porque esse foi o assunto mais importante — o único assunto que realmente importava — em 2021.

Doutor Castor, série documental que escancara a absurda tolerância que nós, como sociedade, tínhamos para com os mafiosos do jogo do bicho.

Allen contra Farrow. Em uma história difícil de formar opinião, essa série documental claramente escolhe um lado e o defende com convicção: segundo os fatos apresentados, Woody Allen foi sim responsável por pelo menos um caso de abuso sexual, contra sua filha Dylan, na época com sete anos de idade. Assim como já havia acontecido com as canções de Michael Jackson dois anos atrás, assistir a um filme de Woody Allen agora traz um sabor amargo.

Mare of Easttown, porque a Kate Winslet está simplesmente maravilhosa e sozinha faz valer a série.

Segunda Chamada, a segunda temporada de uma série que já havia me cativado mostrando os dramas das turmas do ensino noturno de jovens e adultos. Eu gosto demais dos personagens.

The Flight Attendant, uma série meio comédia meio suspense que traz Kaley Cuoco, a atriz que ganhou fama em Big Bang Theory, em um papel totalmente diferente.

1971, sobre a qual já escrevi aqui.

Chico e Caetano foi disponibilizada (argh, odeio esse verbo) na íntegra e proporcionou alguns dos momentos mais emocionantes do meu ano de 2021. É um lugar onde podemos nos refugiar sempre que precisarmos de um pouco de beleza.

Only Murders in the Building, série divertidíssima com Steve Martin, Selena Gomes e Martin Short.

Defending Jacob é um thriller intenso sobre um pai que tem certeza, uma mãe que tem dúvidas e um filho que é acusado de matar um colega de escola.

Colin em Preto e Branco: aqui também vemos uma delicada relação entre pais e filho, mas com um componente racial desempenhando um papel importante nesse delicado equilíbrio. A história é real, narrada pelo quarterback e ativista Colin Kaepernick.

The Chair na verdade não é nada demais, mas me diverti assistindo. Como sou a favor de diversão, entrou na lista.

2021 foi um ano que assisti muitas novelas. Fui muito noveleira numa época da minha vida, depois parei, agora estou revivendo esse lado que andava esquecido. Das antigas, foi sensacional ter a oportunidade de ver O Bem Amado original, de 1973, com os personagens antológicos de Dias Gomes. Das atuais, gostei de sofrer com a Dona Lurdes procurando seu filho perdido em Amor de Mãe, e agora estou acompanhando as desventuras do questionável herói vivido por Cauã Reymond em Um Lugar ao Sol (que também deu espaço para uma interpretação magistral de Andréa Beltrão como a heroína improvável de todas nós mulheres da menopausa).

Podcasts

Medo e Delírio em Brasília: como enfrentar essa bad trip escrota em que a gente se meteu? Só mesmo rindo de nervoso com os memes impagáveis de Pedro Daltro e Cristiano Botafogo. Bora passar raiva juntos?

Noites Gregas: se a realidade é dura demais, a gente sempre pode recorrer à mitologia para entender a tragédia humana.

República Debochevique, para entender e digerir os acontecimentos mais surreais de 2021.

A Vida Secreta de Jair, série curta e imprescindível. É sério. Você é uma pessoa cidadã do Brasil e não ouviu ainda? Para tudo e vai lá.

República das Milícias, outra série que dói, mas explica coisas que precisamos saber.

Papo de Parente: essa é prazerosa de ouvir. A educadora Célia Xakriabá conta histórias e recebe convidados que nos conectam com a cultura indígena que existe e resiste no Brasil do século XXI.

Livros

Os Engenheiros do Caos é apresentado assim pela editora que publicou a obra no Brasil: “No mundo de Donald Trump, Boris Johnson, Matteo Salvini e Jair Bolsonaro, cada dia traz sua própria gafe, sua própria polêmica, seu próprio golpe brilhante. No entanto, por trás das manifestações desenfreadas do carnaval populista, está o trabalho árduo de ideólogos e, cada vez mais, de cientistas e especialistas do Big Data, sem os quais esses líderes nunca teriam chegado ao poder.” O livro de Giuliano Da Empoli é básico para entender nosso tempo.

Torto Arado foi o livro que todo mundo comentou em 2021. Eu, também, me encantei.

Travessia de Verão eu encontrei em uma incursão a um sebo, no início de um momento de flexibilização pós-vacina. É um romance curto de Truman Capote, sua primeira obra de ficção, que ficou esquecida em um caixote e só foi recuperada (e publicada) após sua morte. Um daqueles livros cujo final salva a obra.

Toda Luz que Não Podemos Ver conta lindamente a história de duas crianças / adolescentes cujas vidas são entrelaçadas de forma inesperada durante a Segunda Guerra Mundial. Não é um livro de guerra, mas de busca por paz.

Terra Americana acompanha uma mulher mexicana de classe média que vê sua vida virar de cabeça para baixo quando toda sua família é assassinada por um chefe de cartel e ela precisa fugir para os Estados Unidos com o filho pequeno. É uma história eletrizante, que me prendeu do início ao fim? Sim. Mas também é uma obra que foi alvo de justas críticas da comunidade latina.

10 Histórias para Tentar Entender um Mundo Caótico: em forma de conversa, Jamil Chade e Ruth Manus reúnem croônicas sobre temas fundamentais e atualíssimos.

Lula, Volume 1. A vida do nosso ex-presidente (e esperamos, futuro presidente também) é fascinante. Mas é preciso registrar: o livro é uma biografia muito bem comportada e “chapa branca”. Este primeiro volume começa pela prisão mais recente, retrocede no tempo, conta as origens de Luiz Inácio e mostra sua formação como metalúrgico e líder sindical, até encerrar com a história da primeira prisão, ainda durante a ditadura. Vale a pena ler, mas recomenda-se um certo senso crítico.

-Monix-

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Retrospectiva de um ano zozó

Passei o ano pensando nessa palavra que minha mãe usava muito para se referir a pessoas que tinham um parafuso a menos. Ela oscilava entre chamar os desparafusados de “zozó”, numa expressão tão brasileira que nem sei se foi ela que inventou, e “détraqué“, resquício elegante da educação que recebeu das freiras francesas.

Bem, ao olhar para os signos 2-0-2-0 eu não conseguia deixar de ver os correspondentes Z-O-Z-O e pensar que minha mãe com certeza estaria muito zozó com tudo o que aconteceu. E obviamente todos nós ficamos bem zozós, bem détraqués ao longo deste ano maldito.

Mas olhando para trás consigo perceber que o que me ajudou a atravessar essa maré de (inúmeras) turbulências foram a arte, a cultura, o entretenimento. Mais do que nunca, precisei da ajuda dos artistas para encontrar forças dentro de mim mesma. Talvez 2020 tenha me oferecido finalmente uma boa definição do que é arte (seja na cultura de massa, seja como for): aquilo que nos põe em contato com nossa força interior, que a gente de repente nem sabia que tinha.

Com o fim do ano se aproximando, olho para trás e vejo uma quantidade imensa de coisas boas que assisti, que li, que ouvi. Então 2020 será também marcado como o ano em que voltam as retrospectivas da Monix (hahaha, olha a pretensão). E é das grandes. Se quiser, puxa uma cadeira, vê o que andou mexendo comigo neste ano doido (apresentado em uma ordem totalmente aleatória), e divide comigo seus achados de 2020 lá nos comentários. Bora?

Séries

Away (Netflix) — li em algum lugar que é uma “novela mexicana no espaço”. Exageros à parte, a trama é melosa demais, a protagonista toma atitudes que não convencem muito em uma astronauta super treinada, mas no fundo o que está sendo mostrado é que não importa o quanto a gente esteja longe, o afeto é que importa. O que nos une é o que importa. Quer mensagem mais 2020 que essa? (Parece que não haverá segunda temporada, o que não deixa de ser um mérito: coisa mais chata é série que se estica depois que a trama claramente já se resolveu.)

O Gambito da Rainha — diz que essa é a série mais popular da história da Netflix. Não acho que mereça tudo isso, mas é uma boa série, que junta bom roteiro, bom elenco, boa direção, figurinos e direção de arte maravilhosos. Ou seja. Não preciso falar sobre a série porque você provavelmente já viu (todo mundo viu). Só queria deixar registrado que outro dia meu filho e os amigos estavam jogando xadrez online e acho que isso diz mais sobre a popularidade de uma obra do que qualquer índice de audiência.

Nada Ortodoxa — em se tratando de “obras que nos ajudam a encontrar forças que nem sabíamos que tínhamos” nenhuma pode superar esta. Duas amigas recomendaram, eu confesso que não me interessei muito pela sinopse, mas passadas algumas semanas resolvi dar uma chance porque confio no gosto de ambas. E gente, que lindeza de história. Que elenco sensível. Quanta esperança no ser humano. Apesar de tudo. Não viu ainda? Pois veja.

The Crown 4ª temporada — como não amar as histórias por trás da história da família real mais famosa do mundo? E gente, dessa vez teve Diana. E Tatcher. Precisa mais?

The Kids Are Alright — no auge da quarentena, quando tinha que cuidar da casa, do trabalho, dar banho nas compras, cuidar da cabeça dos adolescentes zozós, enfim, tudo pegando fogo ao meu redor, essa série foi uma espécie de alívio cômico da vida real. A história de uma família com oito (é, oito) meninos encapetados me trouxe toda a diversão de que eu precisava. Infelizmente a ABC cancelou a série ao final da primeira temporada.

A Vida e a História de Madam CJ Walker — neste ano em que a representatividade negra foi mais importante do que nunca (enfim!), uma série sobre a primeira mulher negra milionária dos Estados Unidos está no mínimo super alinhada ao zeitgeist. Octavia Spencer está maravilhosa.

Ms America — nunca tinha ouvido falar nesta série, que levou várias indicações no Emmy deste ano. Como sou fã da Cate Blanchett, fui atrás e assisti todos os episódios em ritmo de maratona, apesar de o tema estar longe de ser leve. A história da luta pela aprovação de uma emenda à constituição dos Estados Unidos para simplesmente garantir o óbvio, ou seja, direitos iguais entre homens e mulheres, beira o surreal. Como não está no catálogo da onipresente Netflix, talvez não seja muito fácil de assistir, mas se tiver uma oportunidade não perca. Vale cada episódio.

Eu, a Vó e a Boi — tempos atrás uma das minhas amigas tuiteiras encaminhou num grupo um fio hilário sobre um cara que tinha duas avós que se odeiam. Isso não é engraçado, mas a briga entre as duas não é uma simples rusga que se limita a indiretas em festas de família; é uma guerra aberta com toques de comédia pastelão. Rimos demais na época. Passou. Eis que a thread virou série de TV, com adaptação de Miguel Fallabella e interpretações das sempre maravilhosas Vera Holtz e Arlete Salles. A vida real parece ter sido mais engraçada: a série tem um ritmo mais de esquetes que de uma trama fluida. Mas vale como distração em tempos em que realmente precisamos disso.

Aruanas — crimes ambientais, Amazônia, garimpo, ONGs… parece importante. E é. Às vezes o que a gente precisa é de uma boa ficção para mostrar os problemas da vida real.

Assédio — então, seguindo na toada “ficção que mostra os problemas da vida real”, passo dos crimes ambientais para os crimes sexuais. O tema é pesado, trazendo o drama vivido pelas vítimas do predador sexual Roger Abdelmassih, mas a produção é muito boa, assim como a de…

A Voz Mais Forte – O Escândalo de Roger Ailles — … que mostra o todo-poderoso executivo da Fox News, sua contribuição consciente e premeditada para a polarização em que vivemos, e, claro, a cultura do assédio que promoveu na emissora que comandava.

Segunda Chamada — essa série faz a gente lembrar que educação é transformação. E que pessoas (professoras e professores) cuidam dessa missão. É muitas vezes triste, muitas vezes redentora. Sempre comovente.

Bridgerton — aos 45 do segundo tempo de 2020 chegou essa série com um clima meio Jane Austen que mostra o disputadíssimo mercado casamenteiro da Londres do início do século XIX. E para quem pensa que “moças procurando casamento” é um tema menor, devo dizer que, naquela época, casamentos eram alianças importantes tanto para homens quanto para mulheres — sendo que para elas, além disso, eram uma questão de sobrevivência. Mulheres de famílias de alta classe não podiam trabalhar. Seu sustento dependia exclusivamente dos homens, e um marido era um provedor muito mais confiável que um pai (que provavelmente morreria antes) ou um irmão (que teria sua própria família para sustentar). Mas digressões à parte, a série é bem menos água com açúcar do que parece à primeira vista; inclusive correm boatos que teve gente por aí precisando ligar o ventilador para dar conta das tórridas cenas de sexo. Dizem, mas não provam nada (hahaha). Uma coisa interessante é a caracterização de personagens da nobreza interpretados por atores negros. A decisão dos produtores (entre os quais está Shonda Rhimes, toda-poderosa produtora de TV norte-americana) a princípio pode parecer um opção por um castingcolor-blind“. Mas tudo indica que não: há quem diga que a ideia era mesmo mostrar que pessoas não-brancas estiveram presentes em posições sociais diversas, não se limitando ao papel de escravizados que a história nos contou a posteriori. A própria rainha Carlota, uma das personagens negras da série, tinha ascendência africana. Vale a pena ler esse artigo que conta a história dela e fala sobre a existência de pessoas não brancas na nobreza europeia.

Filmes

Os 7 de Chicago — filme de tribunal, escrito e dirigido pelo Aaron Sorkin, com Sacha Baron-Cohen no elenco. Tem como dar errado? Não tem.

Lionheart e Harriet — um filme não tem nada em comum com o o outro, exceto o fato de que assisti os dois no mesmo dia e escrevi sobre eles aqui.

Cinquentonas — assim como Lionheart, uma história sobre mulheres nigerianas que ao mesmo tempo é universal e absolutamente local. No ano em que eu mesma completei 50 anos, me senti representada :)

1917 — na época do Oscar deste ano (parece que foi em outra vida, como tudo que aconteceu antes da pandemia) esse filme foi muito comentado pelo fato de ser todo filmado em um longo plano-sequência. Eu gosto desses truques do cinema, então mesmo que o roteiro não seja lá essas coisas curti muito assistir, no cinema (!) #sddstelagrande, e era só isso que eu queria dizer (quando poderemos voltar a ver filmes na telona? longo suspiro)

Jojo Rabbit — ainda no hype do Oscar, fui assistir esse filme meio no piloto automático, só porque estava indicado, afinal, preguiça de mais um filme sobre a II Guerra. Mas devo dizer que é, sim, um bom filme, que involuntariamente se tornou marcante porque foi a última vez que fui ao cinema em 2020. Isso lá no longínquo fevereiro…

Produções da quarentena

Sinta-se em Casa, de Marcelo Adnet — as imitações hilárias do Adnet garantiram o alívio cômico de 2020. Ri muito, ri de nós mesmos, ri da tragédia, mas ri. E isso fez diferença.

Diário de um Confinado — Murilo, o personagem criado por Bruno Mazzeo, incorpora um pouco de cada uma de nossas neuroses da quarentena, além das nossas dúvidas e medos. A produção é feita em família, com direção de Joana Jabace, mulher do ator e roteirista, gravações no apartamento do casal, participações da vizinha de prédio Deborah Bloch e de outros atores e atrizes por videoconferência. Assim como o “Sinta-se em Casa”, o “Diário” mostrou que mais importante do que a câmera na mão são as ideias na cabeça. O resto se resolve.

Cada um no seu quadrado — a série de talk-shows se definiu como “a melhor mesa de bar do mundo”. Gravado remotamente e comandado por Paulo Vieira e Fernando Caruso, o programa tinha uma estrutura simples, algumas brincadeiras aparentemente bobas, mas como alguém me disse ontem, o banal é também muito importante. E em momentos difíceis a leveza é essencial para nos ajudar a atravessar os dias com um mínimo de sanidade mental.

Amor e Sorte — nesse mesmo clima de produção com os talentos caseiros, a série tem quatro episódios independentes gravados por famílias de atores-atrizes-diretores. As histórias são interessantes, nenhuma é sensacional, mas valeu muito como experiência criativa. O episódio das Fernandas é o melhor, e ganhou uma sequência lançada há pouco (Gilda, Lúcia e o Bode).

This Is Us 5ª temporada — há quem diga que a série é um novelão. E até é, mas é a melhor novela que eu já assisti. As emoções que os ‘Big Three‘ provocam são tão humanas, tão intensas, é difícil não se render. Em outubro a nova temporada estreou, trazendo 2020 para o enredo. Não só a Covid, mas o movimento Black Lives Matter também foi incorporado ao roteiro, de uma forma extremamente sensível. Como vem acontecendo com as produções da pandemia, o ritmo está um tanto lento. Saíram quatro episódios em 2020 e no momento a série foi interrompida para retornar em janeiro.

Documentários

O Dilema das Redes — demorei alguns dias para assistir após o lançamento na Netflix e nesse ínterim (uia, achei uma ocasião pra usar essa palavra) recebi inúmeras recomendações de todo mundo na minha bolha. Gente que sabe que eu tenho interesse no tema. Justamente por isso, para mim foi apenas mais um conteúdo detalhando exemplos e mais exemplos dos conceitos que eu estudo anos, como os efeitos dos algoritmos, os filtros-bolha, a polarização, etc. O mérito desse filme é que são os próprios profissionais que ajudaram a modelar as redes como elas são que nos alertam sobre seus efeitos nefastos sobre a vida social. As redes estão aí, não vão deixar de existir, nós precisamos delas e dos benefícios que elas trazem. Mas teremos que aprender a conviver com elas, com a sociedade que elas ajudam a formar, e nos tornar usuários mais eficientes. Para quem ainda não viu o filme: recomendo.

Marielle – o documentário — esse ano maldito teve tantos acontecimentos trágicos que mal falamos de Marielle e do crime que continua sem respostas. Essa série documental reconta toda a trajetória da vereadora carioca, e organiza tudo o que sabemos sobre o crime de uma forma muito didática. Que 2021 traga uma solução para essa história revoltante.

Cercados — falamos muito nos profissionais de saúde que estão na linha de frente. Esse documentário mostra a atuação dos jornalistas, que também tiveram um papel fundamental na divulgação da pandemia, das medidas necessárias de prevenção, da resposta do sistema de saúde e, claro, dos imensos sacrifícios feitos por médicos, enfermeiros, coveiros, aqueles que mais se expuseram e mais contribuíram para salvar vidas e amenizar os grandes sofrimentos que 2020 trouxe para tanta gente.

Narciso em Férias — eu sempre fui fã de Caetano, sou suspeita para falar, mas esse filme é de uma beleza e de uma intensidade que não dá para descrever. Apenas assistam.

Música

Live dos 78 anos em 7/8 — não consegui encontrar o vídeo completo da live que foi transmitida pela Globoplay em comemoração ao aniversário de Caetano. Uma pena, porque foi um dos pontos altos do meu ano. A delicadeza da relação do cantor com seus filhos foi ainda mais emocionante que as próprias músicas. Em tempos em que vemos uma primeira-família marcada pela rudeza e brutalidade da relação entre o pai e os filhos, a família Veloso serviu como um contraponto necessário. Caetano e seus filhos mostram uma masculinidade afetuosa, delicada e possível. Falta assistir a live do Natal, que já sei que também foi incrível.

Arnaldo, Sessenta — Arnaldo Antunes é uma espécie de Caetano da outra geração. Músico, poeta, um artista performático que completou 60 anos no meio de um ano caótico e apresentou os clássicos de sua carreira no meio de um papo tão descontraído que parece mesmo que ele está é falando com a gente.

AmarElo – É Tudo Pra Ontem — é um show do Emicida no Teatro Municipal de São Paulo. É uma aula de história negra no Brasil. É um making of do show. É uma reflexão sobre a música nas nossas vidas. É uma mini-biografia do artista. É tudo isso. E é bom demais.

Podcasts

Praia dos Ossos — o melhor podcast do ano conta uma história há muito esquecida — o assassinato da socialite Angela Diniz pelo empresário Doca Street — e uma sempre lembrada — a dos femincídios que infelizmente fazem parte da rotina de uma país cuja cultura afirma que a honra de um homem se lava com sangue (da mulher). O tema é pesado mas a história é muito, muito bem contada. Recomendei a várias pessoas e todas me agradeceram depois, então: de nada.

Wind of Change — um jornalista toma conhecimento de uma história bizarra: a música “Wind of Change”, da banda alemã Scorpions, teria sido composta ou encomendada pela CIA para ajudar a criar o sentimento que levou à queda dos regimes autoritários socialistas do Leste europeu. Coisa de filme de espionagem, daqueles com roteiro bem inverossímil. Daí ele começa a investigar e… será que é apenas uma teoria da conspiração? Ou tem algum fundo de verdade? O podcast é incrível, a história é mirabolante e mais não conto pra não estragar. Se você entende bem inglês, corre lá.

Retrato Narrado — essa série de podcasts se propõe a investigar a vida de personalidades importantes, começando pelo presidente Jair B. É, eu sei, a gente prefere distância desse assunto. Mas os primeiros episódios explicam muita coisa, sabe? Vale a pena.

Toninhas — eu nem sabia que existia uma espécie de golfinhos com esse nome, muito menos que estão ameaçadíssimos de extinção. A opção por contar a história do “golfinho invisível” em uma série de ficção foi muito acertada. A história é simples, não é exatamente um roteiro super elaborado, mas ouvir sobre o assunto em forma de narrativa nos aproxima do drama. Gostei bastante.

Hodor Cavalo — esse é para quem, como eu, acompanha as Crônicas de Gelo e Fogo. As feríssimas Miriam Castro, Flavia Gasi (e Carol Moreira, no início da série) leem com a gente, capítulo por capítulo, os livros da saga. Quem tem saudades de GoT vai gostar, mas vale lembrar que não é sobre a série de TV, é sobre os livros. E por isso mesmo é muito melhor ;)

Livros

Longa Pétala de Mar (Isabel Allende) — entrei em 2020 no Chile. Fui passar o reveillón na tal “pétala de mar” a que se refere o título do livro, pela segunda vez. Gosto do país e me interesso por sua história. A narrativa da Allende é envolvente e emocionante, começa na guerra civil espanhola e segue acompanhando os personagens ao longo do século XX.

Tieta do Agreste (Jorge Amado) — porque revi a novela no Globoplay. Porque Jorge Amado é um grande autor, um presente que nós brasileiros ganhamos e não valorizamos tanto quanto deveríamos. Porque essa é uma das boas histórias que nossa literatura já contou. Porque eu nunca tinha lido. E porque deu vontade, ué.

A falta que você me faz (Joyce Carol Oates) — é uma história policial diferente, com um ritmo feminino, mais afetivo, que mais do que procurar respostas para o whodunit de sempre, busca resgatar as memórias de uma mãe e mostra a superação da perda pela filha. (Curiosamente esse livro estava na minha “fila” há anos. Quem me deu foi minha mãe, que leu e soube na hora que eu ia gostar. Demorei a pegá-lo por causa do tema, combinado a essa irônica coincidência. Valeu a espera — acho que li na hora certa.)

A garota no trem (Paula Hawkins) — este sim, um thriller que segue uma estrutura mais tradicional, mas ainda assim mais subjetivo, mais feminino. Gosto de romances policiais, gosto do clima “quem matou”, do suspense. Este aqui entrega bem o que promete.

A primeira luz da manhã (Thrity Umrigar) — gosto muito dessa autora indiana, apesar de não ter lá muito interesse por seu país de origem. Essa autobiografia é deliciosa, muito bem escrita e emocionante.

A Vida Mentirosa dos Adultos (Elena Ferrante) — mais uma história muito bem contada por essa misteriosa autora italiana. A história começa com uma pancada (uma pré-adolescente escuta seu pai dizer à sua mãe que ela está ficando “feia igual à tia”, sendo que a tia em questão era considerada uma espécie de bruxa má da família). E segue com uma trama familiar surpreendente sobre o desapego às ilusões da infância.

Uma Produção Kim Jong-Il (Paul Fischer) — eu costumo dizer, meio brincando, que a vida tem uma grande vantagem sobre a ficção: ela não precisa ser verossímil, porque mesmo as coisas mais fantásticas, se aconteceram, é porque foram possíveis. A história desse livro entra nessa categoria de coisas tão absurdas que se não tivessem acontecido, a gente até poderia pensar que eram impossíveis. Mas é tudo verdade: o ditador da Coreia do Norte mandou sequestrar a maior estrela do cinema da Coreia do Sul, depois o ex-marido dela tentou investigar seu sumiço e foi sequestrado também, ambos passaram anos em cativeiro no mesmo país sem saberem do paradeiro um do outro, depois se reencontraram, se reapaixonaram, enganaram o ditador e conseguiram fugir. Parece coisa de filme, e é — só que não do jeito que você está pensando.

Vaza Jato: os bastidores das reportagens que sacudiram o Brasil (Letícia Duarte e The Intercept Brasil) — como jornalista, tinha muita curiosidade de saber como foram feitas as reportagens da “Vaza Jato”, o conjunto de vazamentos que denunciou aquilo que a gente já sabia mas não tinha como provar: a absoluta politização da força-tarefa da operação Lava Jato e as relações bastante promíscuas entre a promotoria e o juiz Sérgio Moro. A primeira parte do livro mostra como o The Intercept teve acesso ao material que deu origem às reportagens. A segunda reúne as principais revelações da série.

A Máquina do Ódio (Patrícia Campos Mello) — este é o que estou lendo, ainda não terminei, mas já mereceu entrar para essa minha retrospectiva pessoal. A repórter da Folha conta como entrou no radar dos bolsonaristas, quando fez uma reportagem denunciando o uso do WhatsApp nas campanhas de desinformação em 2018, e desvela o modus operandi do neopopulismo que usa o assédio virtual como forma de censura e instrumento de desmoralização da imprensa crítica. Mais um tema difícil, mais uma leitura necessária.

Cinemices

Faz tempo que não escrevo uma retrospectiva aqui no Dufas (a última que encontrei foi a de 2013 – a de 2014 já teve um outro clima, de revisão pessoal). Então seguindo nossa consagrada filosofia calabocajámorreuquemmandanomeubloguesoueu, por que não revisitar essa antiga tradição sete anos depois, só que mudando tudo?

É que apesar da crise (risos) sempre dá pra ver uns filmes legais, né? Aproveitando que ainda estamos no começo do ano (até o Carnaval ainda é limbo), preparei uma lista subdivida em duas que se sobrepõem, em ordem alfabética e não de preferência, para minha querida meia dúzia de leitores e leitoras. Digam aí se concordam e o que faltou.

Melhores de 2019

Bacurau – Há! Pensou que eu ia começar sendo original e única? Pensou errado! :D E aí, já viu Bacurau?

Downton Abbey – Ah, é uma bobagem, mas é a nossa bobagem do coração, né? Como não amar o reencontro dos Crawleys e toda aquela empáfia decadente dos empregados da mansão? Adoro.

Yesterday – A premissa é louca: imagine um acidente inexplicado que faz o mundo inteiro cair numa realidade paralela em que os Beatles nunca existiram – e só uma pessoa lembra da banda. Até quem não é muito fã dos Beatles (essas pessoas existem, acreditem) tá dizendo que gostou.

Academy Award - Oscar
Quem vai levar esse moço dourado pra casa? Saberemos em breve ;)

Oscar 2020

Este é mais um ano em que temos vários bons filmes concorrendo, que provavelmente dividirão os prêmios das principais categorias – acho difícil rolar um “arrastão” tipo Titanic e alguém levar um monte de estatuetas. Então listo aí abaixo os filmes indicados a categorias importantes que eu já vi e gostei. Na maioria dos casos ainda dá tempo de assistir (muitos estão em plataformas de streaming, fica a dica).

1917 – Minha irmã definiu bem: é um filme que mostra o quanto a guerra é uma coisa sem sentido. E faz isso abusando da técnica cinematográfica, em uma montagem que simula um único plano-sequência. Mesmo com uma narração visual no estilo videogame (os personagens vão “passando de fase” o tempo todo, andando sempre para frente e abandonando as tramas secundárias à medida em que avançam), ainda assim é um filmão. Minha diversão nos últimos dias tem sido procurar making-of s no YouTube.

Coringa – Uma visão perturbadora e nada estereotipada sobre as origens do antagonista do Batman. Esqueça a estética e o ritmo dos filmes de super-herói, isso aqui é outra coisa.

Democracia em Vertigem – O documentário conta uma história que conhecemos bem – a política brasileira e o mundo bizarro em que entramos após 2016 – por um ponto de vista absolutamente pessoal. Valeu como registro emocional, mesmo quando não me identificava totalmente com a interpretação da diretora sobre os fatos.

Dois Papas – É um filme bem feito sobre uma ótima história, com duas excelentes interpretações. Se não viu, veja. Até os ateus estão curtindo ;)

Era uma Vez… em Hollywood – Mais uma vez Tarantino apresenta uma releitura de um fato histórico, e mais uma vez dá certo. Leo Di Caprio e Brad Pitt entregam ótimas atuações, além de continuarem lindos, as always.

Indústria Americana – Esse é o primeiro fruto da parceria do casal Obama com a Netflix, e provavelmente vai derrotar o representante brasileiro na categoria Melhor Documentário, porque embora seja um filme bem mais careta, fala de um assunto muito caro aos americanos: as dificuldades da classe operária americana na era pós-industrial.

O Irlandês – Muita gente está comentando que achou o filme longo, chato… mas é um Scorcese estrelado por De Niro, Al Pacino e Joe Pesci, que ainda tem o Ray Romano de brinde, jura que vocês não gostaram? Bando de incréus.

Klaus – Já passou o Natal, inclusive já passou da época de gostar de desenho animado (#velharabugenta), mas gente, que filme fofo. Sem ser fofo, se é que me entendem. Enfim, vejam. Vi também Toy Story 4, que é muito divertido e bem feito, e parece que tem outra animação muito legal da Netflix entre os indicados, então a briga por Melhor Animação vai ser animada…

Parasita – Sabe o meme explique seu filme preferido de forma tosca? Então, Parasita é basicamente o seguinte: família pobre tenta enganar família rica e se mete em altas confusões. Mas não é só isso. Com direção, roteiro, montagem, elenco e fotografia impecáveis, trata-se de um filme de primeira linha, que vale a pena ser visto.

Ainda pretendo assistir mais alguns antes da cerimônia de entrega, dia 9 de fevereiro. Se vocês comentarem bastante, de repente me animo e faço aqui uns updates ;)

-Monix-

Sentidos

  •  O sabor da tequila
  • Os cheiros de Paris.
  • Sarah Vaughan cantando “You go to my head“.
  • Qualquer tela do Van Gogh ao vivo.
  • A mão que afasta a seda da pele.

Starry_Night_Over_the_Rhone

Helê

(Tomando uma margarita, e porque eu lembrei do tempo em que blogar também era conversar entre blogues e nos comentários, propondo temas e listas. Alguém mais se habillita?).

Dia 22 – So you think you can dance (um musical)

Quando contei a história do filme para o meu namorado ele me chamou de feminista de meia-tigela. Afinal, esta adaptação do rapto das Sabinas mostra sete irmãos levando à força para uma fazenda isolada pela neve sete moças que não têm importância nenhuma no filme além de servirem de esposas para os rapazes.

Mas o interessante é que apesar de realmente a premissa ser essa, a personagem principal, a mais forte e a que conduz o filme na ponta dos dedos é Milly, a primeira a se casar, a mulher de Adam, o irmão mais velho. E aos poucos o afeto vai transformando a todos, tanto os irmãos quanto as “noivas”.

No elenco dos irmãos, quase todos são artistas de circo, e não apenas dançarinos. Adam canta, e os demais dançam incrivelmente, além de fazer todo tipo de acrobacias. São carismáticos, simpáticos, charmosos os irmãos Pontipee. É muito amor.

-Monix-

 

Sete Noivas para Sete Irmãos

 

 

Dia 21 – Preto no Branco (Um Noir)

Não é um filme noir segundo a definição clássica.

Mas é preto e branco, é um suspense que eu adoro, tem a Ingrid Bergman lindinha e o Charles Boyer malvadão, é uma história de arrepiar e eu queria citar este filme aqui. Então pronto: o título de hoje é À Meia Luz (“Gaslight”).

 

 

-Monix-

 

Dia 20 – Uma comédia romântica

Este é o meu confort movie, aquele que eu revejo quando as coisas estão ruins, para me lembrar de que há um lugar no mundo onde tudo termina bem. A delicadeza da história contada por Nora Ephron toma corpo nas belas interpretações de Meg Ryan e Billy Cristal – depois, ambos foram tachados de chatos, cafonas etc., mas neste filme estão no ponto alto de suas carreiras. E ainda tem a Carrie Fischer sem as tranças de princesa Leia. E os casais de verdade no sofá que depois virou inspiração pros comerciais da Brastemp. E a deliciosa cena do “I’ll have what she’s having”*, que você pode ver aí embaixo. AMO/SOU Harry e Sally.

 

 

-Monix-

* A frase não estava no roteiro – foi um “caco” incluído pela mãe do diretor, que fazia figuração comendo um lanche na mesa ao lado. :-)

Dia 19 – Um Faroeste

E eu que não gosto de faroeste tinha que escolher o mais polêmico de todos.

 

Brokeback Mountain

 

-Monix-

Dia 18 – Uma Animação

Porque meu avô querido da infância era o Bagui – uma tentativa tatibitate de apelidá-lo em homenagem à pantera Baguera -, minha animação favorita tem que ser Mogli. Porque esse nosso batalhão é uma instituição. E queremos o necessário, somente o necessário – o extraordinário é demais.

Mogli é de um tempo em que os desenhos da Disney tinham um estilo que nunca mais se repetiu – como os personagens longilíneos de 101 Dálmatas e A Bela Adormecida, por exemplo. Mas ao contrário dos outros longas do estúdio – pelo menos até então – a ambientação não era nada europeia, e sim uma floresta tropical, que combinou de modo muito interessante com uma trilha jazzística de arrasar. A dublagem brasileira também é inesquecível, cujo ponto alto é o MPB-4 cantando a música doa abutres.

Sem dúvida, meu filme de animação inesquecível.

-Monix-

Dia 17 – Brasileirão

O Céu de Suely pode não ser o filme mais badalado do cinema brasileiro, muito menos o de mais sucesso, nem do ponto de vista da crítica nem do público. Talvez nem mesmo possa ser classificado como o meu favorito, mas foi o primeiro que me veio à cabeça e acho que sei o por quê: foi um filme que me fez vivenciar o drama como se fosse meu, como se eu estivesse ali, naquele interior do nordeste. Sem nunca ter sequer passado por lugares como aqueles, eu estive lá.

-Monix-

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